Brasil é 23º em pagamento de propina

Foto: Arquivo/O Estado

Destino diversificado não impõe comportamento padrão.

Os exportadores brasileiros estão entre os mais propensos a praticar atos de corrupção para fechar negócios no exterior, segundo um levantamento da organização não governamental Transparência Internacional. O Brasil ocupa a 23.ª posição no ?índice de pagamentos de propina? (Bribers Payers Index, BPI) que avaliou as práticas de empresas sediadas em 30 países responsáveis por 82% das exportações mundiais no ano passado. A posição brasileira, no entanto, ainda é melhor do que a dos outros integrantes do Bric – Rússia, Índia e China. Quanto melhor a posição de um país no ranking, menor a propensão de seus exportadores para a corrupção. O BPI é liderado pela Suíça, seguida pela Suécia, Austrália, Áustria, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Bélgica e Estados Unidos.

Os países piores colocados que o Brasil são a África do Sul (24.ª), Malásia, Taiwan, Turquia, Rússia, China e a Índia, cujas empresas são consideradas as mais corruptas ao fazerem negócios no exterior. Além do Brasil, o único país latino-americano incluído no ranking foi o México, que está no 17.º lugar. No ranking anterior, realizado em 2002, o Brasil não havia sido incluído.

Os autores do estudo dividiram os 30 países em quatro núcleos, de acordo com sua posição no ranking. O Brasil ocupa o núcleo 3, ao lado de Hong Kong, Israel, Itália, Coréia do Sul, Arábia Saudita, África do Sul e Malásia. A performance destes países é considerada ?pobre? e somente é superior à do núcleo 4, composto pelos cinco últimos colocados.

Brasil

A diretora para as Américas da Transparência Internacional, Silke Pfeiffer, disse que a posição do Brasil no ranking mostra que suas empresas exportadoras não se comportam de uma ?forma limpa?, uma atitude que reflete o clima de elevada corrupção dentro do país. Ela responsabilizou tanto as próprias empresas como o governo brasileiro pelo problema, lembrando que o Brasil aderiu à convenção antipropinas da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). ?Mas apesar de ter assumido esse compromisso, o governo não tem conseguido exigir que empresas exportadoras brasileiras respeitem a lei quando fazem seus negócios no exterior?, disse Pfeiffer.

Ela frisou, no entanto, que a ?falta de vontade política? de punir os exportadores não é uma atitude exclusiva do Brasil. ?Veja o caso do Reino Unido, por exemplo, onde nos últimos cinco anos nenhuma empresa foi processada por esse motivo, apesar do país também ter aderido às regras da OCDE.? Segundo Pfeiffer, as empresas contam com vários instrumentos administrativos e legais para coibir práticas de corrupção em seus negócios em outros países. ?Não há desculpa para não adotar procedimentos que evitem a corrupção?, disse.

Ela observou que o fato de o México estar melhor posicionado no ranking do que o Brasil pode ser explicado, em parte, pela diferença no perfil das exportações dos dois países. ?Cerca de 75% das exportações mexicanas são direcionadas para os Estados Unidos, um país com um grau elevado de fiscalização e respeito à legislação?, observou. ?Já os destinos das exportações brasileiras são muito mais diversificados, não impondo um comportamento padrão na ação das empresas do país.?

Hipocrisia

Segundo a Transparência Internacional, o estudo mostrou, que a corrupção ainda é uma prática muito utilizada por empresas de todo o mundo, inclusive de países ricos. Prova disso é que a melhor colocada no ranking, a Suíça, responsável por 1,2% da exportação mundial, recebeu uma nota média de 7,81 pontos, sendo que ela poderia variar de 0 a 10. A nota média do Brasil, que também abocanha 1,2% das exportações mundiais, foi de 5,65 pontos. ?As empresas que praticam suborno estão prejudicando ativamente os melhores esforços dos países em desenvolvimento para melhorar sua governança, e assim alimentando o ciclo vicioso de pobreza?, disse a presidente da Transparência Internacional, Huguette Labelle.

O diretor-executivo da ONG, David Nussbaum, disse que ?é hipocrisia o fato das empresas sediadas em países ricos, integrantes da OCDE, continuarem a pagar propinas ao redor do mundo, enquanto seus governos não se esforçam para fazer com que a lei seja cumprida?.

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