Bolívia enfrenta falta de combustível

Santa Cruz de La Sierra (AE) – Espera, longas filas, falta de informação. Os bolivianos enfrentam neste momento uma inédita escassez de gasolina e diesel. O problema tornou-se recorrente a partir de 1.º de julho, quando a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) assumiu o controle do abastecimento dos postos de combustíveis em todo o país. A medida fez parte da tomada de controle do setor prevista no Decreto de Nacionalização de maio.

A reação do governo foi a de pedir às refinarias o aumento da oferta de gasolina para tentar resolver o problema da falta do combustível. A estratégia neste momento, segundo a estatal, é ?inundar? o mercado com gasolina. A Superintendência de Hidrocarbonetos publicou uma resolução na qual pede à Petrobras e à refinaria Oro Negro a oferta adicional de 1,2 milhão de litros de gasolina ao pedido inicial imediatamente. As refinarias Petrobras Gualberto Villaroel, de Cochabamba, e Guillermo Elder Bell, de Santa Cruz, deverão disponibilizar 1 milhão de litros de gasolina. A refinaria Oro Negro terá de oferecer mais 200 mil litros. Segundo a Petrobras Bolívia, o cumprimento da resolução da superintendência implicará na redução dos estoques.

O volume de gasolina para Santa Cruz de la Sierra, principal pólo econômico do país e onde o problema de escassez persiste, será ampliado de 350 mil para 450 mil litros. Santa Cruz vive um período especial. A cidade iniciará amanhã o período de comemorações da independência com a Expocruz, a maior feira de exposição e negócios do país. Pelo evento devem passar 400 mil pessoas e o volume de negócios pode ultrapassar US$ 200 milhões.

O acirramento do conflito entre a região de Santa Cruz e o governo Evo Morales tem alimentado a crença de que a escassez de combustível na cidade é proposital. Santa Cruz encampa um movimento de parte do país contra a estratégia do governo e do partido Movimento ao Socialismo (MAS) de impor na Assembléia Constituinte a aprovação de artigos com maioria simples (50% mais 1). A região exige que seja respeitada a lei de convocação na qual aplica-se maioria qualificada (dois terços dos votos) para aprovação dos artigos constitucionais. O MAS e o governo aceitam essa condição apenas na aprovação do texto final.

?A falta de combustíveis em Santa Cruz é proposital, é um ato contra o que Santa Cruz deseja na Constituinte?, disse a moradora Tania Velasquez, enquanto aguardava numa fila a chegada de combustível num posto da Petrobras.

A rivalidade crescente entre as duas Bolívias – a ocidental e a oriental – alimenta as versões de sabotagem de parte a parte para justificar problemas que podem ser apenas operacionais. No atual clima de animosidade, tudo virou motivo para acusações.

O problema de abastecimento pode ser apenas a dificuldade operacional de uma companhia que tenta se formar, depois de ser totalmente desmontada. O chefe regional de distribuição da YPFB, José Luis Gutierrez, afirmou que o problema da falta de combustível em Santa Cruz ocorreu devido à ?imprevista sobredemanda e a falhas no sistema de distribuição?.

Contrabando

O governo boliviano tentará combater um outro problema no mercado de gasolina e diesel: o contrabando. Os subsídios oferecidos pelo governo no mercado interno criaram uma distorção em relação ao preço de derivados em vigor nos países vizinhos, como Brasil, Peru e Chile. A situação tem alimentado uma rede de contrabando de GLP, gasolina e, principalmente, diesel.

A região de La Paz, por exemplo, enfrenta problema no abastecimento de diesel. O sindicato de transportes pesados afirma que muitos caminhoneiros instalam grandes tanques nos veículos para fazer o contrabando de combustível. O governo prometeu controlar a situação e ampliar o policiamento de fronteira.

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