BC reduz Taxa Selic para 11,25% ao ano

O Copom (Comitê de Política Monetária) mostrou-se sensível ao agravamento da crise financeira mundial e anunciou, ontem, no final da tarde, corte no juro básico brasileiro em 1,5 ponto percentual, reduzindo a taxa Selic de 12,75% ao ano para 11,25% ano ano.

Foi o segundo corte de juros desde a piora na crise econômica ocorrida a partir de setembro. Em janeiro, o Copom reduziu a Selic de 13,75% para 12,75%. Agora, os diretores do BC só voltam a se reunir nos dias 28 e 29 de abril. A votação foi unânime, sem viés.

O corte nos juros é o maior desde novembro de 2003, quando a taxa caiu de 19% para 17,50% ao ano. Com essa nova redução, a Selic voltou ao nível em que estava em março de 2008, a menor da história.

Na nota distribuída ao final da reunião, o Copom informa: “Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu neste momento reduzir a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés, por unanimidade. O Comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

Apesar do corte de ontem, o Brasil continua com uma das maiores taxas de juros do mundo. Em termos nominais, ficam à frente da taxa Selic os juros na Venezuela (17,06%), Rússia (13%), Turquia (11,50%) e Argentina (11,38%). Em relação aos juros reais (descontada a inflação), o Brasil continua com a maior taxa, de 6,51% ao ano.

A decisão do BC foi influenciada, principalmente, pelos dados sobre a desaceleração da economia e pela queda da inflação registrada nos últimos meses.

A queda no PIB levou o ministro Guido Mantega (Fazenda) a abandonar a meta de crescer 4% neste ano. Anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também cobrou do BC uma queda mais rápida dos juros para reativar a economia.

Na última pesquisa Focus, divulgada na segunda-feira, o mercado previa corte da Selic para 11,75% ao ano nesta reunião e para 10,25% até o fim de 2009. A pesquisa, contudo, foi realizada antes que o mercado financeiro tomasse conhecimento do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2008, divulgado anteontem pelo IBGE. O PIB encolheu 3,6% em relação ao terceiro trimestre, a maior queda da série, iniciada em 1996.

Empresários, economistas e sindicalistas defendiam um corte mais intenso na Selic, de até dois pontos porcentuais, como medida para combater o agravamento dos efeitos da crise internacional na economia brasileira.

Quem decide os juros

O Copom foi instituído em junho de 1996 para estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros. O colegiado é composto pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os diretores de Política Monetária, Política Econômica, Estudos Especiais, Assuntos Internacionais, Normas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Liquidações e Desestatização, e Administração.

Decisão, apesar de esperada, divide as opiniões

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo Rocha Loures, disse ontem que a decisão do Copom em reduzir a taxa de juros para 11,25% a.a. é um verdadeiro mea culpa do Banco Central.

“Embora tardiamente, caiu a ficha no Banco Central”, afirmou o empresário, destacando que ainda há espaço para redução da Selic. “Temos que ter como meta juros de um dígito.”

Para Rocha Loures, a redução do juro básico poderia ter sido iniciada ainda no final do ano passado para evitar os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira.

“Agora que o Banco Central parece ter despertado do seu sono, esperamos que haja uma firme decisão de rever esta política monetária que se transformou num verdadeiro problema estrutural para o Brasil”, destacou.

Segundo o presidente da Fiep, a agenda do Copom também deve ser revista. “Neste momento de crise, não cabe mais esperarmos 45 dias para tomar decisões que têm forte impacto sobre a atividade produtiva”, considerou. “É preciso reduzir o espaço ou fazer com que aconteçam reuniões extraordinárias do Copom.”

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) por sua vez, se mostrou ainda insatisfeita com o corte promovido pelo Copom. Segundo nota distribuída ontem, “a decisão do Copom de aumentar apenas marginalmente o ritmo de queda dos juros para um ponto e meio de percentagem, frustra a sociedade, os agentes produtivos e a indústria brasileira”.

Segundo o presidente da entidade, Armando Monteiro Neto, “esse movimento de aceleração no corte dos juros, ainda que na direção correta, não tem a intensidade necessária”.

Ainda segundo a CNI, com a decisão “contida” de ontem, o Banco Central avança pouco e ainda mostra descompasso com o esforço de se evitara recessão e suas consequências danosas ao País, às empresas e ao emprego.

“Entendemos que é urgente a adoção de uma postura mais agressiva, com redução de juros compatível com as exigências do momento”, afirmou Monteiro Neto. “É necessário trazer a Selic para o nível de um dígito”, concluiu.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) deveria ter optado por um corte maior do que o anunciado, de 1,5 ponto porcentual.

“O Brasil ainda tem chances de registrar crescimento em 2009 e devemos ser ousados para não perder a oportunidade”, afirmou o presidente da central, Artur Henrique.

Juros

Alguns bancos aproveitaram para anunciar ainda ontem corte em suas taxas de juros, acompanhando o movimento do Copom. O Unibanco, por exemplo, informou que vai reduzir, a partir de segunda-feira, a taxa máxima cobrada no Crédito Pessoal Parcelado (CPP) e no cheque especial, para pessoa física. Para empresas, serão reduzidas as taxas máximas cobradas no cheque especial e na linha de financiamento de Capital de Giro (Unigiro).

O Banco do Brasil e o Bradesco também  se alinharam ao Copom e informaram que já a partir de amanhã (sexta-feira) haverá redução nas taxas de praticamente todas as linhas de crédito, em percentuais variados, tanto para pessoa jurídica quanto para pessoa física.