BC garante que não há disputas

Brasília

(AE) – O diretor de política monetária do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, garantiu ontem que o BC e o mercado não estão travando uma “queda-de-braço”, que estaria levando à disparada do dólar. “Não há briga entre o BC e o mercado. Isso não interessa nem ao BC e nem ao mercado e é ruim para o Brasil”, afirmou Figueiredo.

Segundo ele, prova disso é que o BC decidiu cancelar o leilão que faria ontem (5) de recompra de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), títulos pós-fixados, depois de consultas ao mercado. “Conversando com o mercado, vimos que eles queriam um perfil diferente para os títulos a serem ofertados”, disse Figueiredo.

De acordo com Figueiredo, todas as ações do banco devem ser entendidas no seu conjunto e não como ações isoladas. “Não estamos perdidos”, disse o diretor, respondendo às críticas feitas contra as mudanças de posição da instituição nos últimos dois dias.

Volatilidade menor

Ele esclareceu que o objetivo do BC é ofertar um tipo de papel que seja o mais “confortável” possível para o mercado, para trazê-lo “de volta à tranqüilidade”. Ao colocar títulos mais curtos, o banco quer fazer com que fique menor a volatilidade das cotas dos fundos de investimento de renda fixa.

Figueiredo explicou que os leilões de troca de contratos de swap cambial (títulos pós-fixados indexados à variação do câmbio) não têm ligação com a mudança da forma de marcação dos ativos do fundos de renda fixa, anunciada na semana passada.

Segundo ele, a ação está mais ligada ao aumento dos nervosimo no mercado de cupom cambial. “É natural que nesses momentos o nervosismo de um mercado passe para outro e acabe afetando, por exemplo, o dólar e os títulos da dívida externa”, explicou Figueiredo.

Demissão

A decisão de alterar as regras dos fundos de investimento, insistiu Figueiredo, foi tomada em conjunto pelo Ministério da Fazenda, Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central. Por isso, garantiu que não tem sentido o boato de que estaria demissionário em função da decisão de antecipar a marcação a mercado dos fundos de renda fixa.

“Aqui ninguém toma uma decisão sozinho. Tudo é decidido em colegiado. Nada é feito sozinho”, afirmou. Na sua opinião, o nervosismo dos últimos dias não reflete a realidade.

Saques

Os fundos de investimento de renda fixa tiveram um volume de saques “surpreendentemente” abaixo do esperado, disse o diretor. “Na média, o volume de saques ficou absolutamente dentro do normal. Teve uma ou outra instituição que teve um volume de saques um pouco maior mas para a grande maioria foi tudo normal”, garantiu.

O percentual de desvalorização das cotas provocado pela mudança de marcação dos ativos ficou, na média, abaixo de 1%. Nos dois primeiros dias da semana, as cotas já registraram uma valorização positiva em todos os fundos de investimento de renda fixa.

Outro fato destacado pelo diretor foi o fluxo cambial expressivamente positivo registrado nos últimos dois dias em que houve forte desvalorização do real. “Isso mostra que não tem só compradores no mercado, tem vendedores também, tanto que o fluxo foi positivo”, disse.

Moddy?s

A decisão da agência de medição de risco Moody?s de rebaixar a perspectiva do Brasil, segundo Figueiredo, tende a aumentar o nervosismo no contexto atual. “Isso é natural. Quando o mercado está muito otimista, uma notícia negativa às vezes nem é percebida mas num cenário negativo uma notícia negativa tende a aumentar o nervosismo”, disse o diretor do BC.

Ele explicou também que o encurtamento do prazo da dívida pública não pode ser interpretado como problema, como foi feito pela Moody?s. Ele explicou que o BC e o Tesouro Nacional estão simplesmente consertando papéis com vencimento num período de baixo volume de vencimentos.

Ele também afirmou que essa política não será suficiente para anular o esforço feito pelo governo para alongar o prazo da dívida pública. “Em 1999, o prazo de vencimento da dívida era de 14 meses a 18 meses e hoje é superior a 35 meses e o volume de vencimento ao longo dos próximos 12 meses representa apenas 25% da dívida”, informou Figueiredo.

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