Barbosa: juro tem ciclo de alta, mas tendência de queda

A taxa básica de juros atualmente passa por um “ciclo de alta”, mas a tendência da Selic, e dos juros reais, é de queda, após o término deste período. A avaliação é do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Henrique Barbosa Filho.

Ele fez os comentários durante palestra em aula inaugural do primeiro semestre do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), hoje de manhã. Porém, quando questionado por jornalistas sobre quando se daria o término do “ciclo de alta” nos juros, ele preferiu não dar prazos, pois isso conduziria a expectativas no mercado.

Barbosa Filho explicou que o ciclo de alta de juros iniciado pelo Banco Central (BC) na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi realizado para lidar com uma onda de choques de preços ocorrida no início do ano. Este cenário de preços em alta, principalmente os de alimentos, foi percebido na divulgação de hoje do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que mostrou a taxa mais intensa (0,57%) para um mês de abril desde 2005.

Na avaliação do secretário, há duas interpretações sobre o avanço da inflação no início de 2010. A primeira é que ocorreram choques sazonais de preços específicos, como alimentos e commodities, capitaneados pelo movimento de retomada nas demandas internacional e doméstica no início de 2010, dentro de um contexto de recuperação na economia. A outra é que, além dos movimentos de choques, há um componente de demanda mais aquecida ocasionada pela melhora no cenário macroeconômico, que desde o ano passado eleva o poder de renda do brasileiro e estimula uma relação de procura maior do que oferta, levando a avanços em preços de serviços, por exemplo. Ou seja: uma inflação mais persistente – e não passageira. “Para mim, a primeira interpretação é a mais correta”, afirmou.

Porém, o secretário admitiu que os choques no início do ano foram tão fortes que podem afastar o governo do centro da meta inflacionária em 2010, atualmente em 4,5%. “Para este ano, pode se afastar, porque os choques foram fortes. Mas a grande vantagem do sistema de metas de inflação é olhar para frente e fazer a inflação futura convergir para a meta, para os 12 meses, 18 meses ou 24 meses”, afirmou.

Ele minimizou ainda o impacto que o atual movimento de recuperação na economia brasileira, no cenário pós-crise, pode gerar para a inflação futura – tendo em vista a possibilidade de aumentos de preços mais robustos. “Não acho que a recuperação em curso coloque riscos inflacionários excessivos”, afirmou.