Até agora, nada de laudos dos exames

A Secretaria da Agricultura do Paraná (Seab) informou ontem que o resultado conclusivo dos exames realizados até agora nas amostras colhidas dos animais com suspeita de febre aftosa no Paraná só sai na semana que vem. ?Novos exames têm sido realizados com outras coletas sistematicamente, mas em nenhum caso houve confirmação da doença no rebanho do Estado?, informa a Seab. O Paraná continua na condição de suspeito de ter animais infectados. Segundo a Seab, a vigilância sanitária com barreiras continua prioritária.

A transferência do material coletado em animais com suspeitas de febre aftosa de Mato Grosso do Sul e Paraná para Belém do Pará tem provocado atrasos na confirmação dos casos. A demora provoca pressão junto ao Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) de Belém e de Recife, ambos autorizados pelo Ministério da Agricultura a fazer o trabalho. Os exames em materiais suspeitos continuarão a ser feitos nestes dois laboratórios por uma questão de segurança. Nenhum material infectado com um vírus não presente numa região pode ser manipulado em áreas consideradas zonas livres, como em MS e PR.

Segundo Airton Nogueira, coordenador do Lanagro de Belém, há pressões para que o resultado saia mais rapidamente, o que nem sempre é possível. O que tem ocorrido nas últimas semanas, quando o Lanagro de Belém recebeu a maior parte do material coletado em vários pontos da zona tampão de MS, é a dificuldade de isolar rapidamente o vírus da aftosa. ?Quando as metodologias que permitem este trabalho mais rápido falham, é necessário o uso de outras técnicas, o que provoca adiamento na conclusão?, explica o coordenador.

Fronteira

Uma equipe técnica do Centro Pan-americano de Febre Aftosa (Panaftosa) – órgão vinculado à Organização Pan-americana de Saúde (Opas) começará a percorrer, a partir de amanhã, as divisas entre o Paraná e Mato Grosso do Sul e as fronteiras com os países vizinhos. Os técnicos também examinarão a fronteira entre Argentina e Santa Catarina, apesar de o estado ser considerado território livre de aftosa sem vacinação. O diretor-geral da Seab, Newton Pohl Ribas, afirma que a equipe vai inspecionar os pontos de vigilância sanitária para controle da virose. A visita será encerrada no dia 5 de novembro, no Mato Grosso do Sul. Ontem, o vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, participou do Fórum Regional ?Paraná na Luta Contra a Febre Aftosa?, em Umuarama.

Embargos

O número de países que suspenderam ou adotaram algum tipo de restirição à importação de carne do Brasil subiu ontem para 47, depois que Bulgária e Angola anunciaram também os seus embargos. No caso da Bulgária, o embargo vale para Paraná e Mato Grosso do Sul. Já o embargo angolano abrange mais regiões: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. África do Sul, Chile, Colômbia, Cuba, Indonésia, Israel, Namíbia, Peru e Uruguai adotaram embargo total à carne brasileira. União Européia, Moçambique, Noruega, Romênia e Suíça embargaram apenas a carne de MS, PR e SP. Bulgária e Ucrânia fizeram restrições apenas ao MS e PR. Bolívia, Cingapura, Egito, Paraguai e Rússia embargaram apenas a carne de MS. A Argentina suspendeu a compra apenas dos municípios sul-mato-grossenses atingidos pelos focos de aftosa.

Frigoríficos enfrentam problemas para completar abates

São Paulo (AE) – Os frigoríficos negam, mas enfrentam neste momento queda na oferta de boi gordo para abate. A situação é pior em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. O setor está com problemas para completar as escalas de abate diárias de 800 ou 1.000 animais e operam, em alguns casos, com volumes inferiores a 50% da capacidade industrial.

A situação se complicou com os focos de febre aftosa que surgiram na região sul do Mato Grosso do Sul e com as suspeitas da doença no Paraná. A situação tirou as regiões do mercado a partir da proibição da movimentação de animais. Mas segundo produtores ouvidos pela reportagem, o motivo está também no crescimento dos abates de animais prontos nos últimos dois anos. A descapitalização do setor forçou os produtores a aumentar a venda de animais.

Para Nabhan Garcia, pecuarista e presidente da União Democrática Ruralista (UDR), a falta de animais prontos para o abate deve perdurar por mais 60 dias. O período de chuvas ajudará a recuperar o pasto.

Um comprador autônomo de boi gordo da região de Presidente Prudente, que não quis se identificar, garantiu que não consegue neste momento animais para os frigoríficos que atende. ?Alguns frigoríficos interromperam nesta semana a produção por falta de boi. Quando conseguem operar, trabalham com volumes inferiores à capacidade de abate?, explica.

O Friboi, maior frigorífico do País, deu outra explicação para a redução dos abates em SP e MS. Segundo Artemio Listoni, diretor de originação do frigorífico, a empresa transferiu a produção para exportação dos dois estados para GO, MT, RO e MG. ?Em São Paulo e em Mato Grosso do Sul concentram-se agora no atendimento do mercado interno. Por isso houve uma redução dos abates?, afirma. A unidade para abate em MS produz 20% menos neste momento e os dois frigoríficos de São Paulo reduziram a produção entre 20% e 30%.

Lula assina a MP das indenizações

Brasília (ABr) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou medida provisória (MP) 265 em que abre crédito extraordinário de R$ 33 milhões para as indenizações dos produtores das áreas atingidas pela febre aftosa e ações de combate à doença. A MP está publicada no Diário Oficial da União de ontem. R$ 20 milhões serão usados no pagamento de indenização aos produtores do Mato Grosso do Sul que sacrificaram o rebanho por causa da febre aftosa. Já foram registrados 11 focos da doença nas cidades de Eldorado, Japorã e Mundo Novo. Outros R$ 6 milhões vão para as indenizações dos pequenos produtores da região como os de leite. Parte do dinheiro poderá ser utilizada para indenizar pecuaristas do Paraná, caso a doença seja confirmada nos municípios de Loanda, Amaporã, Maringá e Grandes Rios. Outros R$ 6 milhões vão para custeio e investimento, sendo que a metade (R$ 3 milhões) será aplicada em programas de erradicação da doença em áreas de fronteira, segundo o ministério.

Paraguai sacrifica 89 cabeças de boi

Assunção – As autoridades paraguaias vão sacrificar as 89 cabeças de gado bovino de uma fazenda brasileira que cruzaram a fronteira com o Estado de Mato Grosso do Sul, afetado por focos de febre aftosa. O diretor do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal (Senacsa), Hugo Corrales, disse ontem que o gado será conduzido a um frigorífico da região para sacrifício sanitário, ainda que os animais não apresentem sintomas clínicos da aftosa ou de outras enfermidades. Corrales assinalou que as reses estão saudáveis, mas que por razões de segurança optou-se pelo sacrifício para evitar o consumo humano.

O governo do Paraguai reteve as 89 cabeças de gado de procedência brasileira, depois de uma denúncia por autoridades daquele país ao Senacsa, do Paraguai. O proprietário dos animais, o brasileiro Josias Silgueiro, disse às autoridades que diariamente fazia passar seu gado para o lado paraguaio para pastar e que, à noite, voltava a levá-los para sua fazenda, no lado brasileiro.

Sindicarne repudia posição das grandes redes supermercadistas

Em nota divulgada ontem, o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Paraná (Sindicarne), Péricles Pessoa Salazar, repudiou as informações de que grandes redes varejistas nacionais suspenderam a venda de carne paranaense. A entidade alega que ?a cadeia produtiva da carne bovina paranaense foi surpreendida com a suspeita, ainda não confirmada, da ocorrência de focos de febre aftosa no rebanho paranaense, através de animais comprovadamente originários do Estado do Mato Grosso do Sul?. Destaca que ?todas as medidas sanitárias recomendadas internacionalmente estão sendo implementadas pelas autoridades de defesa sanitária do governo do Paraná e pelo Ministério da Agricultura, no sentido do isolamento total dos animais suspeitos e, havendo confirmação laboratorial, a imediata eliminação dos rebanhos contaminados?.

Prossegue: ?Este é um momento que exige serenidade e, principalmente, ponderação. Qualquer mudança de postura por parte dos agentes econômicos envolvidos na cadeia produtiva da carne bovina (do pecuarista ao consumidor) exige responsabilidade, informação e senso crítico sobre as suas conseqüências imediatas e futuras?.

O Sindicarne classifica a decisão dos supermercadistas como ?equivocada, infundada, irresponsável, alarmista e antipatriota?. ?É equivocada porque não possui qualquer base científica; infundada pela ausência risco à saúde humana; irresponsável por não levar em conta os potenciais danos econômicos e sociais que acarreta; alarmista por encorajar o consumidor a uma atitude restricionista em relação ao um produto seguro e antipatriota por prejudicar a imagem da carne bovina brasileira internacionalmente?.

A indústria paranaense da carne avalia que essa atitude ?alimenta a desinformação generalizada sobre a questão, e em sendo levada a efeito também nas lojas destas redes estabelecidas dentro do Paraná, poderá inviabilizar boa parte das indústrias estabelecidas neste Estado, que já enfrentam restrições em suas vendas internacionais e interestaduais?.

O presidente do Sindicarne finaliza a nota, conclamando os estabelecimentos varejistas paranaenses a adotarem uma postura firmemente comprometida com o nosso Estado, conscientes de que possuímos o mais bem estruturado e eficiente sistema de defesa sanitária do Brasil. ?Podemos não ter o maior rebanho do País, mas temos o melhor, de elevadíssimo padrão genético, que garante à mesa do consumidor um produto seguro e de insuperável qualidade?. E finaliza: ?Supermercadistas: não neguem ao consumidor o direito à carne paranaense?.

Seab alerta que aftosa não provoca doença em humanos

A Secretaria da Agricultura esclarece que a aftosa é uma doença contagiosa para bois, porcos, ovelhas e cabritos, e inofensiva para o homem. Comer carne de gado que tem aftosa não provoca doença em seres humanos.

De acordo com o SIP-POA (Serviço de Inspeção Estadual/Produtos de Origem Animal), a carne pode ser consumida normalmente, porque o gado com suspeita de aftosa nem chega a sair da propriedade. Quando chega ao frigorífico, o animal passa por um exame ante-morten. Se não apresentar bom estado de saúde, independente de qualquer enfermidade, não vai para o abate. Se, eventualmente for constatada qualquer doença contagiosa, é feita a chamada matança de emergência, ou abate sanitário. Durante os trabalhos normais de abate, é feita a inspeção post-morten, quando se procura lesões nos órgãos. Caso apresente alguma alteração, a carcaça é condenada, ou tem aproveitamento condicional.

O médico veterinário Paulo Camargo, chefe do SIP-POA da Secretaria da Agricultura, afirma que outro motivo para não abater o gado doente é que a qualidade da carne é muito ruim, em função do estado de magreza em que se encontra. ?A inspeção sanitária realizada é a segurança de que o produto pode ou não ser consumido pelo homem?, explicou.

A recomendação do Serviço de Inspeção Estadual é que o consumidor procure comprar carne em estabelecimento que tenha carimbo ou rotulagem dos serviços de inspeção federal, estadual ou municipal. ?Essa é a garantia de que estará levando para casa produto confiável e de qualidade?, acrescentou.

Leite

Quanto ao consumo de leite, a situação é a mesma. Segundo Nelson Francisco, chefe do Setor de Leite do SIP-POA, se pasteurizado ou esterilizado, não há problema em consumir o produto. ?Desde que seja proveniente de estabelecimentos inspecionados por órgãos oficiais, não há motivo para a população deixar de tomar leite?, ressaltou. O Serviço de Inspeção da Secretaria da Agricultura fiscaliza cerca de 450 estabelecimentos que produzem ou manipulam produtos de origem animal, entre eles 82 matadouros e frigoríficos, e 118 estabelecimentos de leite e derivados.

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