Ata do Copom não descarta novos aumentos da Selic

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Meirelles, do BC: crédito
mais caro para conter consumo.

O esperado fim do processo de elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic, parece estar longe de acontecer. A ata da reunião realizada na semana passada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC) que decidiu pelo aumento da taxa básica de 17,75% para 18,25% ao ano, divulgada ontem, reafirma a tendência de manter o processo de aperto monetário e a manutenção prolongada da taxa em níveis altos para que a inflação termine o ano dentro das metas para 2005.

"Os membros do Copom reafirmaram sua convicção de que etapas adicionais do processo em curso de ajuste na taxas de juros básica, seguidas de um período suficientemente longo de manutenção dos juros, deverão ser suficientes para trazer a trajetória futura da inflação para o objetivo estabelecido para a atuação da política monetária", diz o documento. A autoridade monetária eleva o juro para deixar o crédito mais caro e conter o consumo. Assim, assegura a estabilidade e evita que a inflação saia do controle.

Para este ano, a meta de inflação oficial do governo é de 4,5% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro que irá perseguir uma inflação de 5,1%. Ainda assim, as expectativas do mercado apontam para um IPCA de 5,7% para 2005.

Riscos inflacionários

Para os membros do comitê, a possibilidade de que a dinâmica de preços ao consumidor – que é medida por índices como o IPCA – pudesse representar um fator de agravamento dos riscos inflacionários, levou o Copom a examinar a aceleração do ritmo de ajuste da Selic.

No entanto, durante a reunião, ficou decidido que, por enquanto, os dados disponíveis não eram suficientes para tal decisão. Ainda assim, o Copom alerta que está pronto para alterar o ritmo e a magnitude do processo de ajuste.

"A autoridade monetária estará pronta para adequar as circunstâncias, o ritmo e a magnitude do processo de ajuste da taxa de juros básica", diz o documento.

O BC justifica essa cautela afirmando que a aceleração dos núcleos de inflação – que retira os preços mais voláteis do cálculo do indicador – e a revisão para cima das projeções de crescimento da produção industrial são fatores que podem agravar os riscos inflacionários.

Para o Copom, a atividade industrial passa por uma mudança de composição e o crescimento econômico será sustentado crescentemente pelos setores mais sensíveis à renda e ao emprego.

O Copom avalia também que a queda das expectativas de inflação está "modesta" se for levado em consideração os fatores que poderiam contribuir para o arrefecimento dessas previsões, como os sinais de desaceleração no crescimento da economia, a apreciação da taxa de câmbio, a queda nos preços internacionais de importantes commodities e a sinalização inequívoca de uma postura mais restritiva de política monetária ao longo dos últimos meses.

Expansão econômica é preocupante

A atividade industrial brasileira passa por uma mudança de composição, com o crescimento econômico sendo agora sustentado pelos setores mais sensíveis à renda e ao emprego. Essa é a avaliação do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que divulgou ontem a ata da reunião da semana passada, que elevou a taxa de juros para 18,25% ao ano. A forte expansão da atividade econômica é um dos fatores que preocupam a autoridade monetária, que teme que a recuperação econômica cause reajuste nos preços por parte da indústria.

"Continua sendo necessário que a política monetária permaneça especialmente vigilante em relação ao ritmo de expansão adicional da demanda." A mudança é perceptível, segundo o documento, pelo nível de produção dos bens semi e não duráveis, que apresentam desde agosto de 2003 o maior nível de produção.

Até novembro, a produção industrial registrou em 2004 um crescimento de 8,3%, segundo dados do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística).

O comitê lembra que em novembro houve queda na produção dos bens intermediários, enquanto o grupo de produtos ligados ao consumidor final apresentou crescimento. E que embora a produção tenha registrado queda de 0,4% em novembro, indicadores mostram que os resultados de dezembro devem apresentam uma elevação.

"Essa projeção positiva, juntamente com a revisão para cima do valor observado em setembro, é consistente com um cenário em que terá prosseguimento a expansão da produção industrial iniciada no segundo semestre de 2003, embora não necessariamente no mesmo ritmo observado em suas etapas iniciais, após a relativa acomodação registrada em meses recentes", diz o documento.

Preços administrados não vão subir neste ano

O Copom manteve as projeções para o reajuste dos preços da gasolina e tarifas de energia e telefonia fixa em 2005, segundo a ata da reunião da última semana, divulgada ontem. O documento, assim como o do mês passado, prevê que os preços da gasolina e do gás de botijão não devem subir neste ano. A previsão foi mantida mesmo com o aumento recente dos preços do petróleo no mercado internacional.

"Os preços vêm registrando alta volatilidade em função das notícias acerca de possíveis restrições na oferta por parte dos países produtores, do estoque disponível de petróleo nos principais países consumidores e da sua adequação ao grau esperado de rigor do inverno no hemisfério norte", diz o documento.

O barril do petróleo é negociado pouco abaixo de US$ 48. No ano passado, o barril chegou a ser comercializado a mais de US$ 55.

Para a energia elétrica, a previsão é que as tarifas subam 9,5% no ano que vem. Já o aumento dos preços da telefonia fixa deve ser um pouco menor, 7,7%. Essas variações são as mesmas da ata de dezembro.

O mesmo ocorreu com o conjunto dos itens administrados por contrato e monitorados, que deve subir 6,7% neste ano. Em relação ao reajuste de todos os itens administrados por contrato e monitorados, o Copom reduziu a previsão de 7,2% para 6,7% em 2005.

Mercados

Para o Copom, o ambiente nos mercados internacionais está deteriorado em relação ao mês passado, com a reversão da tendência de queda dos preços do petróleo e do risco-país.

A ata lembra que a estabilidade dos mercados continua associada às condições dos países industrializados, em especial os EUA, e às possíveis respostas do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) a esses movimentos.

"Assim, novas informações sugerindo um cenário econômico que demande uma mudança na atual política de subida gradual das taxas de juros pelo Fed resultarão em maior volatilidade nos preços de ativos financeiros nos mercados internacionais de capitais." A taxa anual de juros nos EUA é hoje de 2,25%.

Segundo o BC, a instabilidade pode ser agravada caso as taxas de câmbio das principais economias sofram fortes flutuações diante de desequilíbrios nas contas externas desses países. Os EUA, por exemplo, possuem elevado déficit comercial.

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