Argentina desafia FMI e evita desvalorização

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, fez duras críticas ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e afirmou que o governo não vai permitir a desvalorização do dólar em relação ao peso. ?Os organismos internacionais recomendam uma revalorização do peso. Vejam que lindo que isso soa! Mas fazem isso porque com um dólar mais baixo é mais fácil pagar a eles (as dívidas)?, afirmou Lavagna. ?Nunca mais haverá uma política de valorização do câmbio porque é nociva. Essa política é boa para os credores?, completou.

Após ter renegociado 76% de uma dívida de US$ 82 bilhões com credores privados no começo deste ano, a Argentina iniciou as conversações com o FMI para tentar alongar o prazo de pagamento de quase US$ 14 bilhões que deve ao organismo. Nesse contexto, a desvalorização do dólar seria positiva porque o país precisaria de menos pesos para fazer frente ao compromisso.

A queda da moeda norte-americana também poderia ter outro efeito positivo. Assim como pode ser verificado hoje no Brasil, o dólar barato contribuiria para a queda da inflação no país vizinho, que já começa a assustar. Em julho, os preços subiram mais de 1%.

A política argentina, entretanto, tem sido a de manter o dólar caro para não tirar a competitividade da produção local, favorecer as exportações e substituir as importações. Dessa forma, o governo tem conseguido manter altas as alíquotas para a exportação de produtos, o que gera arrecadação e garante um forte superávit primário (receitas menos despesas, excluídos os juros).

Somente nesta semana, o Banco Central argentino comprou US$ 385 milhões no mercado para sustentar o dólar. Para analistas, se não fossem as intervenções, a moeda norte-americana já estaria cotada em cerca de 2,40 pesos, e não na atual casa dos 2,90 pesos.

Polêmica

No final do mês passado, o FMI divulgou um documento em que defende que ?as autoridades argentinas devam aceitar um maior grau de flexibilidade para a taxa de câmbio nominal?.

Durante palestra realizada anteontem, Lavagna foi bastante duro com o FMI: ?A lógica dos mercados é perversa para a atividade econômica. O que é bom para a sociedade é mau para os mercados financeiros.?

O secretário de Indústria, Miguel Peirano, defendeu, em entrevista ao jornal Clarín, o dólar alto. ?É positivo agora e no futuro. Garante uma boa atividade e permite a realização de investimento que garantam o crescimento.?

Até partidos de oposição defenderam a medida. O ex-ministro da Economia e presidente do partido Recrear, Ricardo López Murphy, sugeriu ao BC que ?compre forte? dólares no mercado.

O banqueiro Carlos Heller, presidente da Abappra (uma associação de bancos locais), acha, entretanto, que a queda do dólar favoreceria o controle da inflação e também os trabalhadores informais, que não têm garantidos reajustes anuais de salários para compensar a alta dos preços.

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