Analistas acham que Copom aumenta juros em 3 pontos

Rio

e Brasília  – O Banco Central faz esta semana a última reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom) sob a gestão de Armínio Fraga e a maioria dos analistas do mercado aposta numa alta, de até três pontos percentuais, na taxa básica de juros Selic. Caso a expectativa se confirme, a taxa voltará ao patamar de maio de 1999. Além do esperado efeito de conter a inflação, os juros altos podem ser um golpe na dívida pública brasileira.

Segundo estimativas de analistas, para cada um ponto percentual de elevação na Selic, o governo gasta mais R$ 5 bilhões, no período de um ano, com a manutenção da dívida. Ou seja, se a taxa subir três pontos percentuais, o impacto pode chegar a R$ 15 bilhões. Com juros mais altos, o mesmo esforço fiscal feito pelo governo ? hoje, a meta de superávit fiscal para 2003 (receitas menos despesas sem contar o pagamento de juros) está em 3,75% do PIB ? resulta em mais dívida ao longo do tempo.

O economista Fernando Ferreira, sócio da Global Invest, acredita que as sucessivas elevações da taxa básica de juros podem acabar levando o país a um ciclo vicioso: a dívida cresce e fica cada vez mais difícil lidar com os encargos do endividamento. E lembra que, no limite, taxas elevadas demais podem acabar afugentando os investidores estrangeiros. Temerosos com a capacidade de o país em honrar sua dívida, os investidores destinariam menos dólares ao país, o que pressionaria as cotações e, conseqüentemente, dificultaria a queda da inflação.

? A origem desse problema está na ilusão de usar o superávit primário como referência. No mundo inteiro, adota-se o resultado nominal (que considera o pagamento dos juros) ? diz Ferreira.

O déficit nominal do Brasil, que até o começo do ano estava em torno de 6% do PIB, hoje está em 9% do PIB. No mercado financeiro, a expectativa de aumento de juros já faz crescer a demanda por um maior esforço fiscal do governo. Mas, para Marcelo Allain, coordenador da Comissão de Estudos Macroeconômicos da Associação Nacional das Instituições de Mercado Aberto (Andima), uma meta de superávit primário mais ambiciosa não seria sustentável a longo prazo:

? Acreditamos que um empenho do próximo governo em aprovar as reformas previdenciária, fiscal e tributária pode ser uma estratégia mais consistente ? disse Allain.

A comissão da Andima espera uma alta de juros de um ponto percentual na reunião do Copom esta semana. O economista Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente financeiro do banco Nossa Caixa, lembra que, a longo prazo, taxas de juros muito elevadas podem aumentar a percepção de risco do país, que influencia diretamente nas cotações do dólar. Quando alguém ou algum país oferece juros altos demais a um investidor, cria-se a desconfiança sobre a qualidade desse credor.

Para ele, não seria necessário elevar os juros, porque a inflação está subindo não devido a um aumento da demanda, mais sim por pressões de custo. Nesse caso, acrescenta Toledo, o governo poderia buscar outras opções para controlar os preços, citando a reforma da previdência, o uso de compulsórios ou uma política fiscal mais austera:

? Há um tabu no Brasil de que, quando há qualquer aceleração da inflação, por qualquer motivo, deve-se subir os juros. Mas o preço a pagar é muito alto ? afirma.

Mas, para a economista Sandra Utsumi, do BES Investimento, o custo de subir os juros é pequeno quando leva-se em conta que a medida pode melhorar as expectativas do mercado e, assim, levar a uma queda do dólar. O diretor de Tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, diz que uma alta dos juros pode frear a piora nas expectativas para a inflação do ano que vem.

Meirelles vai para sabantina

Na mesma semana em que o Comitê de Política Monetária se reúne para decidir a nova taxa de juros do país, o futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O mercado estará atento tanto ao comportamento de Meirelles frente aos senadores quanto à sua reação a uma provável elevação da taxa de juros. O objetivo é buscar uma pista de como será o comportamento da política monetária do país sob a nova gestão.

Para Alexandre Schwartsman, da BBA Corretora, a indicação de Meirelles não mudou ainda a percepção do mercado de que a inflação será mais alta nos próximos meses. Por isso, ele acredita que o BC tem que subir os juros em três pontos percentuais esta semana. O consultor Luiz Paulo Rosenberg também aposta em alta para até 25% ao ano para que o BC mostre comprometimento com as metas.

? A inflação é como câncer e deve ser atacada no início dos primeiros sintomas ? afirmou.

Voltar ao topo