Agenda de Lula prioriza negociações com líderes

Davos, Suíça (ABr) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva privilegiou, na sua agenda oficial, em Davos, os encontros bilaterais com chefes de Estado e de governo e não vai receber o presidente da Microsoft, Bill Gates, que havia solicitado uma audiência. Além de falar para uma platéia de 2.250 convidados do Fórum Econômico Mundial, hoje, Lula terá encontros já confirmados com o primeiro-ministro alemão, Gerhard Schröder; com o primeiro-ministro de Portugal e presidente da Comissão Européia, José Manoel Durão Barroso; e com o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki.

Lula chega à estação suíça de Davos hoje pela manhã, após participar do Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre. O primeiro compromisso do presidente é um encontro de trabalho com o primeiro-ministro português. Depois, Lula se reúne reservadamente com o chanceler alemão, às 14h45m. O encontro com o presidente da África do Sul está marcado para as 19h45m.

Investidores

O presidente permanece dois dias em Davos, mas a mensagem de hoje aos participantes do Fórum Econômico Mundial, prevista para as 18h, é o momento mais importante de sua estada na Suíça. Em 2003, Lula foi recebido por uma platéia desconfiada e receosa de investidores, preocupados com os rumos da economia e da política no Brasil. O presidente deve dizer que o país mudou para melhor e que, por isso, é confiável e atraente.

O tom de que as mudanças estão acontecendo no Brasil e vale a pena acreditar e investir no país deve prevalecer no discurso do presidente e de sua equipe, em Davos. Ainda hoje o presidente participa de um outro evento oficial do Fórum, que vai discutir formas de financiar a guerra contra a pobreza.

Amanhã, a agenda paralela ao encontro oficial preparada pelo governo brasileiro é dedicada aos investidores. Além da plenária "Brasil e parceiros: oportunidades de investimentos", o presidente Lula tem programados encontros bilaterais e um almoço com empresários. O presidente deve deixar Davos por volta das 16h30m.

Participam do encontro os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim; da Fazenda, Antonio Palocci; da Casa Civil, José Dirceu; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Fora FMI

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o Brasil pode caminhar sem o Fundo Monetário Internacional (FMI). "A decisão de renovar ou não o acordo com o FMI se dará em função dos interesses nacionais, observando as melhores condições para o Brasil. Mas o Brasil não precisa mais do acordo, no sentido em que precisava antes. O Brasil tem condições de caminhar com as próprias pernas, se assim decidir", disse Meirelles aos jornalistas. Ele destacou que essa decisão será tomada só em março.

Meirelles não quis comentar a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, mas garantiu que o Banco Central vai priorizar o controle da inflação. "É isso que o Banco Central coloca com toda a clareza. Não há exemplo de países na história recente que tenham crescido com inflação fora de controle. Inflação alta não leva a crescimento", disse.

Ele adiantou que o Brasil neste ano vai continuar crescendo. "Essa expectativa de crescimento pode chegar a 4%, o que é muito maior do que o Brasil cresceu nos últimos 15 anos até 2003. Para isso é importante a estabilidade", acrescentou.

Blair diz que Brasil é bem-vindo

O primeiro ministro britânico Tony Blair disse ontem em Davos, Suíça, que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, será bem-vindo na próxima reunião do G-8 (grupo dos oito países mais industrializados do mundo). A Inglaterra será a anfitriã do encontro a ser realizado em julho.

Segundo Blair, a presença de um país sul-americano será valiosa pelo compromisso com temas ligados ao desenvolvimento e à mudança climática do mundo. Os dois pontos serão temas centrais na reunião dos líderes mais poderosos do planeta.

Na coletiva de imprensa após a sua participação no Fórum Econômico Mundial, Blair não foi enfático ao comentar a proposta de seu colega francês, Jacques Chirac, para a criação de um imposto para financiar a luta contra a Aids.

"É importante colocarmos todas as propostas sobre a mesa e discuti-las", disse.

O líder britânico enfatizou que o propósito final é elevar o nível do compromisso com a África e há várias maneiras de fazê-lo, como, por exemplo, o financiamento internacional. Mas ressaltou não ter estudado detalhadamente a proposta de Chirac.

O presidente francês propôs, na sessão inaugural do Fórum de Davos, a criação de um imposto sobre as transações financeiras internacionais para a luta contra a Aids.

Além disso, pediu para ser analisada a possibilidade de se aplicar uma taxa sobre os combustíveis, retendo um dólar por cada bilhete aéreo emitido e que os paraísos fiscais compensassem uma parte da evasão fiscal mundial com a retenção sobre os capitais estrangeiros.

Sobre essas questões, Blair insistiu que, independentemente da maneira escolhida, é importante ter claro o objetivo central, que é dirigir mais recursos à África.

Ao lado do multimilionário Bill Gates e do cantor de rock Bono Vox, Blair qualificou as condições de vida da população africana como ?chocantes? e ?escandalosas? e disse ser necessário os governos atuarem para remediar esta situação.

O cantor Bono explicou sua presença no Fórum de Davos, que reúne representante das corporações e empresas mais importantes do mundo, como uma condição sine qua non de ?super estrela do rock e ativista?. Por isso, ele acredita dever estar onde podem ser tomadas as decisões em favor dos pobres.

Bill Gates disse ser necessário se firmar um compromisso para evitar a morte de milhões de africanos por causa de enfermidades passíveis de serem prevenida como a malária. Ele acrescentou ser importante obter remédios mais eficazes e com capacidade de não criar resistência nos pacientes. Ele também pediu o desenvolvimento de uma vacina para combater a doença, já que suas conseqüências são cada vez mais graves.

Fórum elogia ascenção chinesa com reservas

O Fórum Econômico Mundial elogiou a ascensão da China no cenário econômico internacional, mas mantém reserva em certas questões envolvendo o país, como sua política cambial. Vários representantes chineses, empresários e políticos, começando pelo vice-premier do país, Huang Ju, chegaram à estação de esqui dos Alpes Suíços com o objetivo de apresentar os progressos do gigante asiático. A presença em massa é acompanhada de sinais animadores e comentários positivos de analistas e empresários de todo o mundo.

O economista-chefe do banco americano Morgan Stanley, Stephen Roach, um analista que geralmente se mostra pouco entusiasta, também disse estar otimista com a situação chinesa. Sua impressão é a mesma de Jacob Frenkel, economista e vice-presidente do American International Group (AIG), e de Takato-shi Ito, professor da Universidade de Tóquio.

Para Ito, "nada deverá deter o gigante asiático", que teria um crescimento de 9,5% em 2005, cifra semelhante à de 2004.

A boa vontade – real ou, pelo menos, mostrada – das autoridades chinesas e os "grandes progressos" registrados não são suficientes para que a economia chinesa ingresse no seleto grupo dos grandes, afirma o presidente do grupo farmacêutico suíço Novartis, Daniel Vasella. Para ele, serão necessários vários anos até que a China disponha de uma norma adequada para fazer respeitar os direitos de propriedade intelectual.

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