Aftosa volta a deixar o Paraná em alerta

O pesadelo da febre aftosa, que durante cinco meses gerou polêmica, ações judiciais e muitos prejuízos à cadeia produtiva, voltou a assombrar o Paraná. Ontem, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirmou novo foco da doença no município de Japorã, no Mato Grosso do Sul. Como medida de prevenção, o Paraná fechou divisa com o estado vizinho – impedindo a entrada de carne e seus subprodutos – e reforçou a vigilância sanitária na fronteira. Há menos de um mês, o Paraná concluiu o abate de 6.781 animais, apontados como focos de aftosa pelo Mapa.

?Todo cuidado é pouco nessa hora. Aliás, pouquíssimo?, alertou o consultor de pecuária da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Alexandre Jacewicz. ?Há atividade viral em toda aquela região. Não pode brincar com isso, não pode baixar a guarda.? O ressurgimento da doença no Mato Grosso do Sul acontece num período em que o Paraná está fragilizado – é que parte do rebanho bovino da região oeste está há mais de seis meses sem vacinação.

Porém, apesar de todos os riscos de o vírus chegar ao Paraná – até mesmo pela proximidade geográfica -, Jacewicz não acredita que isso possa ocorrer. ?Depois do sacrifício dos 6,7 mil animais, de todo o trabalho feito, dos cuidados tomados, acredito que dificilmente a atividade viral surgirá no Paraná?, afirmou. Jacewicz foi um dos integrantes da Comissão de Avaliação, Taxação e Sacrifício e acompanhou todos os trabalhos realizados junto às sete propriedades apontadas como focos de aftosa pelo Mapa.

Descontrole da fronteira

Para o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarne-PR), Gustavo Fanaya, que também fez parte da Comissão de Avaliação, Taxação e Sacrifício, o ressurgimento da doença preocupa, principalmente porque não se sabe se é o resquício do foco que surgiu em outubro passado ou se é um novo foco. ?Se for uma nova contaminação, demonstra que o descontrole na fronteira com o Paraguai continua?, afirmou. ?Nesse caso, acho que o Paraná tem que fechar a fronteira com o Mato Grosso do Sul para o resto da vida, senão o risco aqui vai ser grande.?

Segundo ele, o novo foco no Mato Grosso do Sul pode atrasar o processo de reconquista do certificado de status livre de aftosa com vacinação também do Paraná. ?A OIE (Organização Internacional de Sanidade Animal) deve analisar o processo num bloco só?, afirmou. Pelas normas internacionais, a reconquista do certificado ocorre seis meses depois de abatido o último animal doente.

137 bovinos

Segundo o Departamento de Saúde Animal (DSA), a propriedade onde foi registrado o foco em Japorã possui 137 bovinos, sendo três com idade abaixo de 4 meses, dez com idade entre 5 e 12 meses, 25 com idade entre 13 e 24 meses e 99 com idade acima de 24 meses. A última vacinação contra febre aftosa foi realizada em maio de 2005. Todos os animais serão sacrificados.

De acordo com nota técnica divulgada pelo departamento, não foi possível o isolamento viral e 22 amostras do soro sangüíneo, das 134 examinadas (todas de animais acima de 4 meses de idade), foram reagentes a proteínas não-estruturais do vírus de febre aftosa. O DSA destacou, ainda, que dos dez bovinos com sinais clínicos, apenas um foi reativo ao teste sorológico empregado.

No Mato Grosso do Sul, a dúvida também gira em torno da origem do foco. O presidente da Associação dos Criadores de Gado do Mato Grosso do Sul (Acrisul), Laucídio Coelho Neto, afirmou que ?pela idade da seqüela é um gado que escapou do abate?. Nesse caso, teria havido falha no trabalho dos técnicos realizado no final do ano passado e início de 2006.

Durante o combate ao último foco de aftosa na região, foram abatidos 27 mil bovinos em Japorã. Escaparam do rifle sanitário 20 mil cabeças, o que é considerado um número alto para um município que estava no centro das áreas infectadas. Também não foram utilizadas as chamadas cobaias, bois não imunizados e sem aftosa, para testar a erradicação da doença. Ao todo, 33.741 animais já foram sacrificados no estado vizinho.

Pecuarista ainda aguarda indenização do Mapa

Um mês depois de ter o rebanho de 1.810 animais abatido, o pecuarista André Carioba, gerente da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira – primeiro foco de febre aftosa apontado pelo Ministério da Agricultura no Paraná, no dia 6 de dezembro – ainda aguarda a indenização de quase R$ 646 mil que será paga pelo governo federal. Os outros 50% foram depositados pelo Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Paraná (Fundepec-PR) em março.

Segundo Carioba, a informação em Brasília é de que a documentação necessária para liberar os recursos estaria com o departamento jurídico da União. A expectativa, segundo ele, é que o dinheiro venha o quanto antes para cobrir os prejuízos.

A propriedade, de acordo com o pecuarista, está passando pelo processo de ?vazio sanitário.? Na segunda-feira, dia 24, chegam os animais-sentinela. Serão cem bezerros, que já passaram pelo exame de sorologia e não apresentaram qualquer indício da doença. Na fazenda, esses animais passarão por novos exames quinze dias depois de sua chegada e por mais exames trinta dias depois. Só então o pecuarista estará liberado para voltar a colocar animais na propriedade para comercialização.

?Nossa programação era engordar 7 mil cabeças este ano, mas só será possível chegar a 4 mil?, afirmou, referindo-se ao longo período em que a fazenda ficou interditada.

Vacinação

Sobre o ressurgimento da aftosa no Mato Grosso do Sul, o pecuarista chamou a atenção sobre o gado paranaense que está na fronteira com o Paraguai e ainda não foi vacinado. ?Tanto a Secretaria da Agricultura como o Ministério da Agricultura têm que agir de maneira rápida e antecipar a vacinação?, afirmou. (LS)

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