Aftosa fecha o Frigorífico Garantia

O Frigorífico Garantia, que já foi o maior exportador de carne do Paraná, fechou ontem as portas em Maringá. Cerca de 800 pessoas foram demitidas. De acordo com o advogado do frigorífico, Marcos Rodrigo de Oliveira, a intenção da empresa é retomar as atividades tão logo o Paraná possa voltar a exportar carne bovina. Quase 90% da produção da unidade em Maringá se destinava ao mercado externo, especialmente à União Européia. Desde outubro de 2005, as exportações de carne do Paraná estão embargadas devido à febre aftosa.  

?Durante quase 16 meses a unidade vinha trabalhando ?no vermelho?. Para não acumular maiores perdas, optou-se pela interrupção das atividades?, explicou o advogado. O frigorífico realizou o último abate no dia 1.º de março. ?Desde então, estudamos a abertura de mercado, a possibilidade de retomar as exportações. Como não existe perspectiva, a empresa decidiu encerrar as atividades temporariamente. Esta unidade – a maior do Grupo Garantia – tem custo de manutenção elevado e não é competitiva com o mercado interno?, justificou. O grupo conta com unidades menores no Mato Grosso do Sul e em São Paulo, voltados para o mercado interno.

Redução drástica

Desde que o mercado externo fechou as portas para a carne do Paraná, o Garantia teve que reduzir drasticamente o número de abates: passou de 1,4 mil cabeças por dia para 500 cabeças. E o abate ocorria apenas uma ou duas vezes por semana. O número de funcionários também caiu: passou de 1,4 mil para 800 em pouco mais de um ano. ?O interesse é retomar as atividades. E os ex-funcionários terão preferência na recontratação?, afirmou.

A suspeita de febre aftosa surgiu no Paraná em outubro de 2005. Em dezembro, o Ministério da Agricultura declarou que havia foco da doença na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira. Em janeiro de 2006, foram confirmados focos da doença em outras seis fazendas. Ao todo, aproximadamente 7 mil animais foram sacrificados em março do ano passado, mesmo sem o isolamento do vírus. Desde então, o Estado vem lutando para reconquistar o status de livre de aftosa com vacinação.

Oliveira não falou sobre o prejuízo acumulado pela empresa desde que as exportações foram embargadas, mas garantiu que os credores estão sendo pagos, assim como os funcionários estão recebendo os direitos trabalhistas. O frigorífico já existia em Maringá desde 1978 – sob a denominação Frigorífico Central – e passou a fazer parte do Grupo Garantia, com sede administrativa em São Paulo, em janeiro de 2005. A unidade de Maringá está instalada no km 2 da rodovia PR-323 e ocupa área total de 242 mil metros quadrados.

Decisão pega o setor de surpresa

O encerramento das atividades do Grupo Garantia no Paraná pegou o setor de surpresa. ?A gente esteve reunido com a direção do frigorífico semanas atrás. Reclamaram das dificuldades por conta da aftosa, mas não falaram que poderiam demitir ou fechar?, afirmou Gustavo Fanaya, assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carne no Paraná (Sindicarne-PR).

Segundo ele, o frigorífico estava abatendo cerca de 5,5 mil cabeças de gado por mês, em janeiro e fevereiro últimos -quase metade da média do ano passado, que era de 11 mil cabeças por mês, e bem abaixo da capacidade da unidade, que é de 20 mil. ?Os abates já não pagavam mais o custo da empresa?, afirmou.

Para Fanaya, o fim das atividades do Frigorífico Garantia pode desestabilizar a cadeia produtiva. ?Há um efeito negativo sobre todo mundo. Como é uma região de muita oferta pecuária, pode ocorrer um desajuste com oferta sem demanda?, apontou. Outro efeito, segundo ele, seria a recomposição dos custos da operação, que afetaria o preço pago ao produtor. ?Pode ser que produtores sejam forçados a vender para um frigorífico de distância maior, elevando o custo do frete.? Para o consumidor final, Fanaya acredita que não haverá alteração no preço da carne.

Com a febre aftosa, o Paraná deixou de exportar cerca de US$ 490 milhões, segundo estimativa do Sindicarne-PR. Em 2005, o Estado exportou aproximadamente US$ 83 milhões de carne bovina – o Garantia respondeu por quase metade do montante. Em 2006, as exportações caíram para US$ 24 milhões – cerca de US$ 8 milhões pelo Garantia. ?A gente espera que esse episódio seja o ingrediente para que o Ministério da Agricultura aja mais rapidamente?, declarou. O governo federal ainda não encaminhou à OIE (Organização Internacional de Epizootias) documento solicitando que o Paraná seja declarado livre de febre aftosa.

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