É hora de trabalhar

Passado o pequeno refresco da Páscoa, depois de três meses gastos nas marchas e contramarchas inerentes a um processo político exposto à ação oxidante de interesses mesquinhos, está na hora de trabalhar. A referência não pode ser mais direta quando se procura compreender o ataque de catalepsia sobre o governo Lula.

Tolhido pela rede de malha finíssima da volúpia do raposismo nacional – nomeações, cargos, contratos e concessão de verbas – o presidente viu-se sufocado pela maré de palpites, referências e imposições, chegando ao extremo da paciência ao bater na mesa e encerrar a reforma ministerial.

A primeira reunião ministerial serviu para Lula dar o tom da administração daqui em diante: trabalho duro. Há problemas sérios no campo social a serem atacados de imediato, exigindo soluções anunciadas com grande pompa e ainda não cumpridas.

A parcela da população dependente dos serviços oferecidos pelo governo, especialmente nos campos da educação, saúde e segurança, não pode ficar à mercê dos arreganhos desse ou daquele grupo que apóia o governo, com intenção sabidamente identificada.

Estamos chegando ao segundo trimestre, grande parte da safra de verão foi dizimada pela estiagem, o índice de desemprego industrial volta a mostrar as garras, o dólar e o petróleo sobem, e o País assistindo à briga de foice para saber quem sai ou quem entra no ministério. Até quando?

Se em dois anos Lula não conseguiu armar o ministério ideal, desconsiderada a presença de tantos amigos, deverá o presidente enfatizar à opinião pública que este é o ministério com o qual vai governar, pelo menos até que alguns resolvam deixar os cargos para disputar as eleições em 2006.

Ser governo é ter força para colocar-se acima das picuinhas e veleidades tão comuns em nosso meio político. Não é de hoje a prática da oração de São Francisco (é dando que se recebe), assim como é velho o bordão desarquivado por Severino Cavalcanti, depois da ferrada: ?Eu gosto mesmo é de governo?.

Para continuar fazendo jus às esperanças do povo, Lula deve aproveitar o momento singular para promulgar extintos, para sempre, o compadrio, a conversinha de sacristia, os debiques do coronel insatisfeito. Esta é a hora, presidente!

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