Dirigente do Banco Rural diz que doações de filiados do PT eram garantia

Brasília – O vice-presidente do Banco Rural, José Roberto Salgado, disse hoje (19) que um empréstimo destinado ao PT em 2003 tinha como garantia as doações de filiados do partido. Em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, Salgado disse que a primeira renovação do empréstimo foi aprovada pelo ex-vice-presidente da instituição financeira José Augusto Dumont, falecido em 2004.

Em 2003, o PT tomou empréstimo de R$ 3 milhões no Banco Rural. De acordo com relatório parcial apresentado pela comissão, embora registradas formalmente, as operações não podem ser classificadas de empréstimos regulares, por conta da fragilidade das garantias nos respectivos contratos.

Além disso, o empresário Marcos Valério, apontado como operador de um suposto esquema de repasse de dinheiro a políticos, também pegou outros empréstimos junto ao Banco Rural para suas empresas SMP&B e Grafite em 2003. Salgado contou aos parlamentares que, no final de 2004, o Banco Rural procurou os maiores clientes que tinham crédito com a instituição e pediram que reduzissem ou liquidassem a dívida, entre eles as empresas SMP&B e Grafite.

Em janeiro de 2005, em encontro com Salgado, Valério disse que não tinha como pagar os empréstimos e que o dinheiro era repassado ao PT. A dívida ficou em aberto e vencida por 60 dias. Em março, foi feita uma negociação com o empresário para que o dinheiro fosse pago, mas, com as denúncias contra o banco na mesma época, o acordo acabou não sendo cumprido e a dívida está sendo cobrada judicialmente, como informou Salgado à CPI.

O vice-presidente do Banco Rural disse também que, quando soube que o dinheiro não era para as empresas de Valério, procurou saber qual o destino dos recursos e verificou que o dinheiro foi destinado a instituições financeiras como Bradesco, Banco do Brasil, Banco de Boston e BMG.

Salgado afirmou que não tinha conhecimento da existência de contas do empresário Marcos Valério no exterior. Ele disse que o Banco Rural não fez remessas ao exterior para Valério e se colocou à disposição da comissão para pedir às subsidiárias do banco informações necessárias às investigações.

O executivo também rebateu as acusações do ex-superintende do banco Carlos Godinho, segungo o qual os empréstimos eram forjados e feitos para não serem pagos. "Várias afirmativas são inverídicas e mentirosas", disse. "Não sei porque ele resolveu fazer isso".

O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que o depoimento mostra que não havia garantias normais. "A novidade que ele pretende mostrar é que todos recursos obtidos tenham sido destinados a outros estabelcimentos bancários", afirmou. Ele disse que continua acreditando que os empréstimos eram para o PT ou para quem o ex-tesoureito do partido destinasse.

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