Diplomata cubano deixa o Brasil sem comentar suposta doação ao PT

Dois dias depois de apontado como o responsável pela entrega de até US$ 3 milhões clandestinos para o PT, o diplomata cubano Sérgio Cervantes deixou hoje o Brasil sem comentar a suposta doação de seu país à campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A amigos parlamentares do Grupo de Amizade Brasil-Cuba, Cervantes deteria dito que a denúncia seria risível. "Ele achou graça porque considerou a denúncia fantasiosa e não se pronunciou porque a embaixada de Cuba já negou que tenha feito qualquer doação", disse um deputado petista que esteve com o diplomata cubano e pediu para não ser identificado.

Já o embaixador brasileiro em Cuba, Tilden José Santiago, permanecerá em Brasília e amanhã terá um almoço com o deputado José Dirceu (PT-SP), que à época da suposta doação era presidente nacional do PT.

Tilden disse que não poderia falar sobre o caso na condição de embaixador, mas afirmou que como militante político e ex-deputado não acredita na doação de Cuba para o PT. Segundo ele, Cervantes também não era o tipo que se prestaria a um trabalho desses. "Não há nenhuma possibilidade disso ter acontecido. Cervantes, que é um diplomata que, apesar de cubano, conhece bem a realidade brasileira e não faria isso", disse.

Dirceu negou conhecer Cervantes, embora tenha sido fotografado trocando um forte abraço com o diplomata. "Eu não conheço, nem nunca vi", garantiu. Assegurou não ter mantido nenhum contato com Cervantes, nem mesmo durante a temporada em que permaneceu em Cuba recebendo treinamento de guerrilheiro. "Quando cheguei, ele já não estava lá", afirmou o deputado. Só que fonte qualificada da embaixada brasileira em Cuba assegurou que Dirceu e Cervantes são amigos e se conhecem há muito tempo.

Na verdade, Cervantes é um velho conhecido de petistas e comunistas brasileiros. Há duas semanas, ele tomou parte do 11º Congresso do PC do B, na condição de delegado do Partido Comunista Cubano (PCC).

Durante o encontro, falou da importância do PC do B e de seus militantes "comprometidos com a luta pela prosperidade e pela igualdade do seu povo". E ainda acrescentou: "Em tempos de agressividade das ações imperialistas, é preciso que haja maior integração para que seja possível lutar e vencer. Na América Latina, essa união é ainda mais necessária devido ao forte intervencionismo do imperialismo no continente, que age através das elites dos países latino-americanos".

Negro, forte e simpático como um baiano de Salvador, Cervantes notabilizou-se como íntimo de deputados e senadores brasileiros. Entre os seus instrumentos de aproximação, estão dois produtos típicos de seu país. "Ele distribuía para deputados e senadores charutos e rum, mas sem dólar dentro", brinca um deputado do PT. Na verdade, Cervantes também preparou excursões de parlamentares brasileiro para conhecerem a ilha de Fidel Castro. "Fizeram essas viagens parlamentares de todos os partidos, embora Cervante fosse próximo do petistas e muito mais próximo ainda do PC do B", contou uma fonte diplomática da embaixada brasileira em Cuba.

No PC do B, Aldo Rebello, atual presidente da Câmara, seria um do seus principais interlocutores. No grupo de amizade Brasil-Cuba, o cubano tem como amigos os deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) e Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). "Cervantes era consultor político de Cuba e tinha relação com todos os partidos. Não há nenhuma possibilidade dessa doação ter acontecido. Essa afirmação é inconseqüente", disse Sigmaringa. Mas todos admitem que o governo cubano tem muitos interesses no Brasil, principalmente, o de abrir linhas de crédito.

"Esse é mais um motivo para eles não se meterem assuntos internos", argumentou o deputado.

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