Diferença cultural não impediu a integração dos orientais

Curitiba também é a cidade dos japoneses. Estima-se que hoje vivam aqui cerca de 40 mil descendentes, se dedicando as mais diversas áreas e ajudando no desenvolvimento da cidade. Mas a capital não foi o primeiro destino dos imigrantes. Eles se instalaram em outros locais e aos poucos foram chegando à terra que escolheriam para morar e criar seus filhos.  

O pesquisador Claúdio Seto, mostra em seu livro ?Awumi? (Caminhos percorridos) que o primeiro japonês a pisar oficialmente em Curitiba foi o ministro Sadadsuchi Uchida. Ele esteve aqui em 1907 para negociar a vinda de imigrantes japoneses, mas não obteve sucesso.

Na época, os curitibanos ainda não tinham idéia de como a cultura japonesa iria ganhar espaço na cidade. A simpatia pelo povo oriental era pequena, tanto que um jornal da época fez uma matéria criticando os governantes por terem recebido o ministro ao invés de prestigiar uma exposição de artesanato no Colégio Estadual do Paraná.

Mesmo assim, os japoneses não desanimaram e vieram colonizar a terra. Começaram a chegar aqui perto da década de 1920, com o maior fluxo ocorrendo durante a Segunda Guerra Mundial, período em que quem morava em áreas portuárias era obrigado a abandonar suas terras. A descente de japoneses Rosa Osaki lembra que seus bisavós contavam que durante a noite suas propriedades eram invadidas e seus pertences roubados ou destruídos. A única solução era ir embora. ?Foi uma época difícil, muitos chegaram em Curitiba sem nada e, ainda carregavam crianças pequenas?, comenta.

Na capital, eles foram alojados em uma chácara que ficava na rua Jacarezinho. Depois de alguns dias, o interventor Manoel Ribas começou a mandar as famílias para outros lugares. Aos poucos foram arrendando terras e ser firmando na plantação de hortaliças. Hoje estão no comércio e atuam nas mais variadas profissões.

Segundo o descendente Jorge Yamawaki, a intenção dos imigrantes era trabalhar e guardar dinheiro para voltar ao seu país. Mas a realidade encontrada aqui era bem diferente da imaginada. Não conseguiram cumprir o plano e foram ficando, ano após ano. No entanto, aos poucos, descobriram que mesmo que pudessem não queriam mais voltar ao Japão. O amor pela terra que lhes deu trabalho já era maior do que a saudade da terra mãe.

A tradição lembrada nas ruas e praças

Logo que chegaram à Curitiba os japoneses se preocuparam em manter vivas as suas tradições. Uma das grandes preocupações era a transmissão da língua e da escrita japonesa. Para ensiná-la fundaram associações. Aos poucos introduziram o jogo de beisebol, cursos de dança, canto, culinária e artesanato. Hoje, a cultura ganhou as ruas e os curitibanos podem apreciar toda a tradição em duas grandes festas anuais realizadas na Praça do Japão.

A Associação Cultural Beneficente Nipo-Brasileira tem 59 anos e muita história. Ela cumpre um papel fundamental para manter viva as tradições japonesas. Entre elas, o grupo de dança que encanta o público com a beleza dos movimentos suaves apresentados em cada canção. Trinta e cinco pessoas fazem parte do grupo e a idade varia muito. Desde crianças até senhoras que já passaram dos 90 anos.

Setsu Ko Oquitsu, 80 anos, integra o grupo há 17 anos. Conta que resolveu aprender a dançar para espantar a saudade dos costumes japoneses. ?Vontade de colocar o quimono e de ouvir a música?, fala. Setsu está ensaiando para se apresentar na Semana de Todas as Etnias do Paraná que acontece todos os anos no Teatro Guaíra.

Anualmente, no mês de junho a associação promove o festival do imigrante, o ?Imin Matsuri?. Ele começou a ser realizado em 1990 e em 1993 passou a se realizar na Praça do Japão. O visitante tem a impressão que está dando um passeio pelo lado oriental do mundo, podendo apreciar os pratos típicos, a dança e o artesanato. Outra festa que se destaca é a Hara Matsuri (Festa da Primavera). O pesquisador Cláudio Sato conta que os japoneses acreditam que as plantas possuem espíritos. No inverno elas repousam em suas raízes, no outono no tronco, no verão nas folhas e na primavera nas flores. ?Na festa pedimos boa colheita ou sucesso nos estudos e negócios?, comenta. Agora, a Associação se prepara para a criação de mais uma festa: o Natal Budista do Paraná, ?Hana Matsuri?. O evento será realizado em abril no Museu Oscar Niemeyer.

A adaptação não é fácil

A imigrante Chiyoe Osaki, 91 anos, lembra como foi a sua vinda para Curitiba, na década de 1920. Os pais já estavam aqui e ela veio do Japão, especialmente para casar com o filho de uma família de amigos. A língua foi a principal dificuldade. Até hoje se comunica só no idioma japonês e entende um pouco da língua portuguesa. Os filhos mais velhos começaram a aprender o português depois que começaram a freqüentar a escola.

Chiyoe passou por vários apuros na época da II Guerra Mundial por não dominar o idioma nacional. Uma vez quase foi presa. Ela estava numa feira na Praça Zacarias e disse para a irmã que ia comprar um sapato. Um policial a ouviu falando em japonês e queria detê-la. Por sorte, foi ajudada por outros imigrantes que traduziram o que havia dito. ?Eles tinham medo de espionagem, de que a guerra chegasse aqui?, conta Rosa Osaki, filha da imigrante. Desde então, Chiyoe toma cuidado para sair sempre acompanhada de alguém que fale português.

Outra grande dificuldade foi se acostumar com a alimentação, muito diferente da japonesa. Mas hoje ela adora feijão. ?Viajamos para o Japão e ela queria voltar logo, pois estava com saudade da comida?, diz Rosa.

Segundo a descendente, quando os japoneses chegam aqui encontram muita dificuldade para se adaptar. Mas, depois dessa fase, não querem mais deixar o Brasil. ?Lá as regras são muito rígidas. As pessoas vivem mais pressionadas. Vários executivos japoneses que se aposentam compram casas por aqui. Outros vem a trabalho e nunca mais voltam?, atesta.

Quem disse que é só peixe cru?

A culinária japonesa também caiu no gosto dos curitibanos. Fábio Kagayama abriu o restaurante japonês Miyako há 10 anos. Na época a concorrência era pequena, havia apenas quatro casas. Hoje são cerca de 50. No início, a clientela era formada apenas por descendentes, agora é possível encontrar no local gente de todas as raças.

Fábio lembra que quando abriu as portas teve que ensinar as pessoas a manusearem os palitinhos. ?Ensinamos um a um. Mas não é difícil, no mesmo dia os fregueses estão aptos a prática. Em último caso pode-se usar talheres?, fala. Hoje são poucos os clientes que não dominam a arte.

No início as pessoas também tinham muita curiosidade sobre o Sashimi, feito com fatias finas de peixe cru. ?Hoje já estão acostumados?, compara. O prato parece ter caído mesmo no gosto dos freqüentadores. Todo fim de semana o restaurante recebe cerca de 160 pessoas, a maioria de outras descendências.

Por R$ 37,00 (para duas pessoas) é possível apreciar um combinado de sushi (pratos à base de arroz temperado), Sashimi e também rolinhos, que podem ser recheados de salmão, manga ou abacate. As sextas-feiras, sábados e domingos no horário do almoço é possível apreciar ainda um buffet de comida oriental, com Tofu (queijo de soja) e o famoso Yakissoba (macarrão com carne e legumes).

Para deixar os pratos sempre atrativos, Fábio faz atualização em São Paulo. ?Lá aparecem muitas novidades?. Antes de abrir o restaurante, ele passou alguns anos no Japão se especializando. ?Foi lá que aprendi a gostar de cozinhar??, fala. Com Fábio trabalham os pais e mais 15 funcionários.

Ebi no niguiri ou Sushi de Camarão

Ingredientes:

2 kg de camarões (70 a 80 camarões)

1 kg de arroz cozido para sushi temperado

Furicaquê  

Wassabi (raiz forte)

Tempero para o camarão:

2 colheres de sopa de vinagre

1 colher de chá de glutamato monossódico

2 colheres de sopa de saquê

2 colheres de chá de açúcar

Modo de preparar

1. Tire a cabeça dos camarões, finque um palito em cada um, no sentido do comprimento do corpo, pela cabeça e lave-os.

2. Ferva 2 litros de água com 2 colheres de chá cheias de sal e cozinhe os camarões durante 1 minuto. É importe que não se cozinhe muito para não comprometer o sabor.

3. Retire os palitos e a casca (deixando a cauda). Abra os camarões pela parte inferior com uma faca e retire os intestinos que se encontram na parte dorsal. Arrume-os numa travessa e regue-os com o tempero de vinagre, glutamato, saquê e açúcar.

4. Com o arroz para sushi, forme os bolinhos, salpique furikaquê e cubra cada um deles com um camarão inteiro.

Rendimento: 70 a 80 unidades

Fonte: Revista Nihon Ryoori

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