Detalhes de remessas para o exterior serão revelados, diz Serraglio

As investigações da CPI dos Correios apontam que "houve muitas remessas de dinheiro" dos fundos de pensão para o exterior, afirmou hoje (9) o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Os detalhes das operações, disse ele, serão revelados "logo, logo" e a CPI está certa de que os fundos foram utilizados como fonte de recursos para o caixa 2 petista e o esquema do ‘mensalão’. "Tem muita coisa a mais em relação aos fundos de pensão."

O depoimento do ex-superintendente do Banco Rural Carlos Godinho à CPI, ontem (8), é prova de como funcionavam as operações. "Em 2003 e 2004 se percebeu a elevação do caixa (do Rural). Era um agrado com recursos dos fundos e que, pela outra mão, ele (o banco) distribuía ao PT", explicou Serraglio, depois de participar de ato de apoio às CPIs promovido pelo Movimento da Indignação à Ação. O esquema, insistiu, alimentou "uma campanha milhardária" nas últimas eleições e, "hipoteticamente" pode ter abastecido a conta Dusseldorf, mantida pelo marqueteiro Duda Mendonça em Nova York.

Godinho atestou que eram de fachada os empréstimos de R$ 28,8 milhões do Rural para as agências de Marcos Valério. O publicitário e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares alegam que apenas os empréstimos do Rural e do Banco de Minas Gerais (BMG) a Valério financiaram o caixa 2 do PT.

Serraglio defendeu a manutenção dos trabalhos das CPIs durante o recesso parlamentar por meio de uma autoconvocação do Congresso – o que eliminaria a necessidade de os deputados e senadores receberem remuneração extra. O senador Romeu Tuma (PFL-SP), representante da CPI dos Bingos no ato, fez o mesmo. O relator teme que o recesso "diminua esse ímpeto de responsabilização", o que seria "muito ruim para a Nação".

Ambos reclamaram da atuação do presidente Lula e petistas para desqualificar as investigações. Fizeram coro às declarações do jurista Miguel Reale Jr., coordenador do movimento lançado em agosto, que já levou ao Congresso manifesto assinado por 280 mil pessoas. "Não vamos permitir que enxovalhem mais a nossa alma!", discursou Reale Jr. "Há uma orquestração para fazer com que acreditemos que pessoas estão sendo condenadas injustamente", disse Serraglio. "Zomba-se do Parlamento e, quando isso vem da autoridade superior do País, não basta a indignação, é preciso a ação."

"Os mercadores da esperança viraram os mercadores da mentira", ressaltou Tuma, depois de defender as investigações do caso Celso Daniel e da corrupção em Ribeirão Preto, quando era prefeito o hoje ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ao abordar esses temas, acusam governistas, a CPI dos Bingos foge de seu objetivo e, portanto, atua à margem da Constituição. "Não dá para virar as costas às graves denúncias", disse o senador, para quem o assassinato do prefeito de Santo André foi crime político e, em Ribeirão, atuava uma "quadrilha".

Serraglio evitou detalhar quais ou quem são os obstáculos às CPIs, mas repetiu que "são muitos". Com representantes de seis partidos – nenhum petista – o ato teve forte conotação contrária ao governo. À saída, Reale defendeu o afastamento de Palocci do cargo – após a confirmação de que o ministro pegou carona no avião do empresário José Roberto Colnagui -, mas disse que aguardará o final dos trabalhos das CPIs para definir um pedido de impeachment de Lula.

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