Deputados afortunados

Há uma posição xenófoba sobre o que dizem os estrangeiros a respeito do Brasil. A menos que nos elogiem – e os elogios revelem interesses deles que estejam sendo atendidos -, muitos brasileiros costumam ver as opiniões sobre o nosso país como ingerência em nossos assuntos internos, exclusivos e que não são da conta de ninguém. É um equívoco, pois neste mundo global é preciso que mantenhamos bom conceito lá fora para que não se repitam opiniões como a expressa pelo antigo presidente francês Charles De Gaulle, que disse que ?o Brasil não é um país sério?. O problema dessa maledicência, principalmente quando fundada e fundamentada, é que afasta os estrangeiros do comércio com o Brasil. E por comércio aí se entenda todo tipo de relação bi ou multilateral, inclusive cultural, política, diplomática, além das estritamente econômicas.

Os três poderes da República, além da iniciativa privada, constroem o nosso conceito. O Executivo, sob o comando de Lula, ganha aplausos de um grupo de países que apóia suas idéias de formação de uma terceira via, não atrelada nem aos Estados Unidos nem ao Mercado Comum Europeu. Aí, nos aproximamos dos governos populistas de esquerda hoje liderados por Hugo Chávez, da Venezuela. E, no fio da navalha nos equilibramos para evitar uma posição desafiadora em relação aos Estados Unidos, o nosso maior mercado. E, queiramos ou não, a nossa maior fonte de influências culturais.

O nosso Legislativo não colabora para que tenhamos um bom conceito no resto do mundo. Exemplo é o que acaba de publicar o jornal El País, um dos órgãos de imprensa mais influentes na Europa. O jornal espanhol chama os deputados brasileiros eleitos e reeleitos de ?afortunados?. E justifica esse conceito listando privilégios de que gozam. Diz: ?Uns e outros (novos parlamentares e reeleitos) podem ser considerados afortunados do ponto de vista dos privilégios que acumulam?. O jornal espanhol afirma que os ganhos de um deputado brasileiro podem chegar a R$ 92,9 mil, contabilizando-se o salário base, hoje de R$ 12,4 mil, mais verbas de gabinete, salários de assessores, auxílio-moradia, subsídio para correspondência e viagens, entre outros itens. O periódico não diz, e é difícil de provar, mas sabe-se que não são poucos os parlamentares que embolsam boa parte ou todas essas verbas, ao invés de empregá-las em suas finalidades precípuas. E, ainda, é de se duvidar que mesmo os que usam corretamente tais recursos devessem tê-los à disposição. São muitos os assessores, as despesas com correspondência e discutível o auxílio-moradia. Temos casos de deputados que perderam ou terminaram seus mandatos e continuaram morando em imóveis do governo, como se tivessem sobre eles direito de usucapião. E o povo paga.

?São tantos os serviços que o Congresso põe a sua disposição que existe um livro de 330 páginas com informações a respeito para uso exclusivo dos deputados?, informa El País. No final do artigo, o jornal espanhol dá uma alfinetada no presidente da Câmara, Aldo Rebelo, que entra para a história como o primeiro presidente comunista do Brasil, pois por pouco mais de um dia ocupou o trono durante viagem de Lula à Venezuela, onde foi fazer campanha eleitoral para Hugo Chávez. Diz o jornal que ?ao atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo, parece que os deputados ganham pouco. Ele apresentou um projeto para que o salário base dos deputados, de R$ 12,4 mil, seja equiparado ao salário de um membro do Tribunal Supremo (Supremo Tribunal Federal), de R$ 24,2 mil?.

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