Demografia e mudanças

Em 2030, segundo instigante projeção feita por técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), metade da força de trabalho no Brasil terá mais de 45 anos e as mulheres estarão na dianteira desse contingente, exigindo modificações estruturais do mercado e das políticas públicas. Tantos anos antes o quadro não deve causar preocupações a ninguém, argumentam os céticos, mas a aparente abstração sofre mudança radical se pensarmos nas modificações registradas no mundo e, em particular, no Brasil, nas últimas duas décadas.

Portanto, mesmo que esse desafio só venha a preocupar o presidente que assumir daqui a 24 anos, sexto na linha sucessória iniciada no próximo dia 1.º de janeiro, considerando mandatos de quatro anos e nenhum acidente de percurso do sistema político, os que vão exercer o poder de agora àquela data remota têm o inegável dever de agir com descortino para amenizar os impactos dos níveis de informação, saneamento básico, tecnologias médicas, oferta de alimentos, estabilidade de preços e outros fatores com influência na demografia.

Estudo do Ipea constatou que hoje mulheres têm menos filhos e as pessoas vivem mais tempo, a violência elimina maior número de rapazes e as exigências de qualificação retardam o ingresso de jovens no mercado de trabalho. Projeções indicam que em 2030 a população brasileira será de 225,3 milhões de pessoas, das quais 47% em idade ativa terão mais de 45 anos, sendo a maioria de mulheres. Provavelmente uma delas estará na presidência da República.

No livro Brasil: O estado de uma nação, lançado pela instituição, lê-se que no horizonte estudado a oferta da força de trabalho será muito diferente da atual e as transformações vão exigir ajustes para atender demandas de uma população mais madura, com menor agilidade e força física e mais sujeita a riscos. ?O desafio demanda reflexão da sociedade e adequação institucional para que, como se espera, o mercado de trabalho e os espaços pós-laborais cumpram seu papel?, revelou a pesquisadora Ana Amélia Camarano, coordenadora do capítulo sobre demografia.

Um dos fatores da composição populacional – a fecundidade – está em nível descendente no Brasil desde o final de 1960. ?A média de filhos por mulher, ao final da vida reprodutiva, passou de 6,2 na década de 1930, para 2,1 entre 1999 e 2004?, diz ela, citando que em 2030 a fecundidade urbana deverá ser de 1,4 filho por mulher. Na zona rural, a previsão é de 1,9 filho. Camarano diz, ainda, que ?a visão de que as brasileiras têm muitos filhos é equivocada, e a opinião pública tem uma percepção distorcida da realidade?.

A perspectiva de vida também está maior: entre 1980 e 2000, entre os homens subiu de 58,4 anos para 66 anos, e entre as mulheres passou de 65,5 anos para 74,3 anos, ou seja, 8,3 anos a mais que os homens. Uma das causas do fenômeno foi o aumento de acidentes e assassinatos entre os rapazes. A população ficará mais velha em face da queda da natalidade e maior sobrevida, passando o país a arcar com pesada despesa com idosos e o contingente dos que deixam de trabalhar antes do tempo por acidentes ou desgaste da saúde. O futuro será bom se decisões sérias forem tomadas agora.

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