Deficientes e deficiências

A Campanha da Fraternidade deste ano, promovida pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, não tem sido nada fraterna com o governo Lula. O movimento católico está voltado para a inclusão social dos deficientes físicos e mentais, mas também tem servido para que os prelados da Igreja Católica apontem e condenem com veemência o que consideram deficiências do governo. Antes de mais nada, é bom lembrar que antes da eleição de Lula e ainda durante largo tempo de seu mandato as relações entre o grupo político e ideológico do presidente e de seu partido e a Igreja Católica, em especial sua ala progressista, foram das melhores. Pois é essa ala progressista da igreja, majoritária na CNBB, e mesmo alguns bispos considerados mais conservadores que hoje criticam as políticas do governo. A CNBB diz que Lula fez do Brasil um ?paraíso financeiro?. Esta afirmação foi feita durante entrevista de d. Odilo Pedro Scherer, secretário-geral da CNBB, mas já fora expressa como opinião de outros líderes da igreja.

Para Scherer, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva decepcionou a população e, sob seu mandato, o Brasil transformou-se numa lucrativa banca. A corroborar tal assertiva, temos o fato de, no ano passado, o lucro dos bancos terem sido maiores que a soma dos lucros dos estabelecimentos financeiros durante todo o governo de oito anos de FHC.

?Sabemos que os governos têm limites, mas não podemos deixar de dizer que a sociedade tinha expectativas de políticas sociais e de combate à pobreza mais eficazes?, declarou Scherer, em nome da CNBB. Ele qualificou as políticas econômicas deste governo de conservadoras e ressaltou que não garantiram o crescimento e beneficiaram somente os banqueiros, que obtiveram ?lucros históricos?.

Acrescentou o bispo: ?São políticas que concentram a renda em vez de distribuí-la?. E lembrou que o crescimento econômico do Brasil no ano passado, de apenas 2,3%, foi o mais baixo da América Latina. Só o Haiti teve desempenho pior. Sobre as eleições presidenciais deste ano, o secretário-geral da CNBB disse que ?a população vai querer saber o que cada um dos candidatos propõe para gerar trabalho e renda e para reduzir a sangria de recursos, que acabam nas mãos dos grandes bancos?. Para ele, as políticas sociais de Lula, além de terem ?decepcionado?, foram combinadas com uma política econômica que não está orientada para a inclusão social.

O desencanto da cúpula da Igreja Católica é tanto maior quanto maiores foram as promessas do candidato que tinha a sua simpatia. Desencanto que se avoluma quando se considera que a política econômica praticada foi conservadora, criticada no passado tanto por Lula, quanto pela CNBB. As severas declarações de d. Scherer já encontram repercussão importante. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) saiu em defesa da CNBB, apontando os juros altos como instrumento da construção do indigitado ?paraíso financeiro?. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, vai visitar dom Odilo na próxima semana para cumprimentá-lo pelas críticas que fez ao governo.

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