Debates

É preciso distinguir para não confundir. E mais, para saber o que esperar de um e outra.

Nos comentários que se seguiram ao debate de domingo, na TV Bandeirantes, entre os candidatos à presidência, viu-se, nos mesmos textos, o uso das palavras debate e discussão como sinônimos, o que também é comum na linguagem corrente. Mas, não são.

Discussão é o exame cooperativo, por um grupo de pessoas, de um problema, de um tema, para que se chegue à melhor solução. É o que se faz nas organizações. E por isso o cumprimento de alguns requisitos: convocação das pessoas habilitadas, com informações prévias, escolha de local apropriado, determinação de horário, procedimento adequado, mente aberta e o leal desejo de colaborar da solução. Ou o que em certa fase dos julgamentos se faz nos tribunais.

Debate é o confronto entre contendores com vontade de que prevaleça o argumento de uma parte. Aqui não se procura a melhor solução para um problema ou definir o valor de uma tese por argumentos racionais. O propósito é impor uma idéia, uma vontade. Quando, em uma reunião para discussão se abandona o procedimento próprio dela e se agarra na mesma posição, sem considerar as demais manifestações com o intuito de que essa posição se sobreponha, mesmo não sendo a melhor, descamba-se para o debate. Isso ocorre, por vezes, nas organizações e até nos tribunais.

Muitos que assistiram ao debate de domingo ficaram frustrados porque não houve discussão sobre os grandes problemas nacionais. Até o Luiz Inácio Lula da Silva reclamou da falta, em sua manifestação final. Havia-se preparado para discutir assuntos como a da segurança nacional – disse ele, remexendo nos cadernos dos estudos de sua assessoria – e nada. Mas bem que ele entrou no debate.

Ora, o debate programado foi para ser um debate. Um confronto entre os candidatos onde, de preferência, predominassem acusações com embaraços nas respostas e derrota de alguém. Luta de gladiadores para divertir… pois isso é que dá grande ibope. Discussão mesmo, pela tevê, é uma coisa chata e interessa apenas a um pequeno público e por isso vai para os painéis em outros horários menos nobres… A estrutura do debate conduziria fatalmente ao resultado. Se não “correu sangue” foi porque os candidatos se contiveram ainda.

Mas, deixando de lado as emoções pretendidas, o debate pode ter ajudado o eleitor a formar um melhor juízo sobre os candidatos. Ele viu os cansados em suas manifestações. Não somente em suas respostas, como em suas perguntas que são também reveladoras: algumas mostravam a desonestidade com eram feitas e isso fala sobre o interrogante.

Nas respostas houve, de passagem, algumas repetições de intenções de governo como a de reforma tributária de Ciro Gomes que mereceria aqui um comentário específico, à parte.

J. Ribamar G. Ferreira é advogado e professor aposentado da UFPR.

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