Da informação ao conhecimento

Por muito tempo a escola foi o lugar social privilegiado no qual as informações consideradas relevantes eram selecionadas, organizadas e transmitidas aos alunos. Selecionadas por especialistas a partir do conhecimento produzido por outros especialistas; organizadas hierarquicamente em currículos disciplinas, conteúdos e planos de aula; transmitidas pelo professor em sala de aula, para alunos cujo papel era o de meros receptores destas informações.

Hoje podemos afirmar sem temor que para acessar informações ricas e variadas não é mais preciso ir para a escola ou para a universidade. As mídias de massa e as tecnologias digitais cumprem tranqüilamente esse papel, com grandes vantagens sobre a sala de aula.

Em encontros e debates com professores é comum alguém levantar e dizer em voz alta o que muitos estavam pensando:

– Então nós corremos o risco de ficar sem emprego!

Podemos responder, provocando:

– Se a sua função é meramente transmitir informações, você tem toda razão em ficar com medo. Afinal, os meios de comunicação atuais podem fazer isso de maneira muito mais rica, interessante e envolvente do que nós podemos fazer na escola com nossos métodos e recursos tradicionais. Porém se sua atuação está voltada para a educação, vista como um processo de formação humana, que ultrapassa a simples informação e envolve idéias e valores, você ainda tem muito campo para trabalhar.

O que podemos, em uma aula de 50 minutos, ensinar para nossos alunos sobre um determinado tema, quando contamos somente com nossa voz, o quadro de giz e o livro didático? Comparemos esta aula com um bom DVD associado a um bom sítio na internet, nos quais os alunos podem ler textos mas também ver fotografias, desenhos e vídeos, responder a desafios, participar de jogos e gincanas, discutir assuntos ?quentes? relacionados ao tema, buscar novas informações sobre os aspectos que mais despertarem sua curiosidade, ?mergulhando? na informação – e isso tudo no seu próprio ritmo? Vai ser cada vez mais difícil para o professor que quiser competir com estes meios tão ricos em estímulos.

Se quisermos recuperar a importância do papel do nosso papel como professores neste mundo multimidiático, devemos adotar uma atitude menos informativa e mais formativa, iniciando uma caminhada rumo a formas educativas centradas não mais nos ?conteúdos? (isto é, nas informação por si mesmas), mas sim em atividades, desafios, questões, problemas, em ?coisas a fazer? com a informação.

As tecnologias devem estar a serviço direto de propostas educacionais que não se restrinjam ao simples repasse de informações e à reprodução de idéias prontas para o consumo.

Para isso, no entanto, os educadores devem estar conscientes de que precisam deslocar o seu foco da seleção e transmissão de conteúdos para a construção efetiva de pontes, ligações e relações, acrescentando valores e gerando novos significados.

Falava-se muito na ?sociedade da informação?, até que se percebeu que a informação por si mesma não tem vale muita coisa, a não ser que contribua para a construção do conhecimento e, mais ainda, para o desenvolvimento de atitudes e comportamentos que façam diferença: este sim um verdadeiro processo educativo.

Antonio Simão Neto (simao@interfacesonlime.com.br) é do Instituto Interfaces.

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