Contra interdição

Voluntários protestam e rebatem denúncias sobre crianças ‘dopadas’

Conselheiros da casa de acolhida Fundação Francisco Bertoncello, em Colombo, interditada na terça-feira pela Justiça querem ter acesso ao processo. Francisco Bertoncello Júnior diz não ter conhecimento do teor das denúncias. “Queremos acesso ao processo para ter o direito de nos defender”, afirma. Na manhã de ontem houve manifestação de apoio à fundação.

Segundo o Ministério Púbico, crianças tomavam até seis medicamentos tarja preta no mesmo dia. Das 29 acolhidas, de 5 a 12 anos, 10 faziam uso de medicamentos. A promotora de Justiça Ana Lúcia Peixoto, responsável pela investigação do caso, afirma ainda que as crianças tomavam o remédio Neozine para ficarem quietas. O medicamento, segundo ela, era administrado para fazer as crianças dormirem e algumas chegavam a cair no chão.

Consultas

As crianças foram retiradas de suas famílias e abrigadas na instituição por serem vítimas de maus-tratos, de abusos sexuais ou abandono de pais dependentes químicos. Com a interdição da instituição, elas foram encaminhadas para outras casas em Curitiba. Segundo a promotora, todos os remédios tinham prescrição médica, mas não há registro de consultas médicas regulares.

Em depoimentos tomados em maio, os dois médicos que prestavam serviço na fundação confirmaram que as consultas só eram feitas a cada seis meses.

A perícia do MP ainda ressaltou que por serem crianças as consultas teriam de ser feitas a cada mês. Outro ponto ressaltado pela promotoria é que a instituição não fazia nenhum tipo de tratamento psicoterápico.

Filhos de mães viciadas

Na manifestação de apoio à casa, o porta-voz da Rede de Instituições de Acolhimento de Curitiba e Região (RIA), Gustavo Brandão, não crê que exista exagero na medicação dada às crianças. “Há acompanhamento farmacológico. Agora elas estão sem medicação, estão em risco”, diz. “São crianças que precisam de tratamento, que apresentam problemas psicológicos”, afirma o conselheiro Francisco Bertoncello Júnior.
Para Marlene Garcia de Andrade, que integra a direção da Associação Acácias, o uso de medicamentos faz parte do tratamento de algumas das crianças.

“Muitas são filhas de mães viciadas em crack e já começam a tomar remédio desde a maternidade”, afirma Marlene.
A promotora Ana Lúcia Peixoto explica que a instituição não teve acesso ao processo pelo trâmite jurídico.