Série Invisíveis

Vícios, fome, abandono: depoimentos de quem mora nas ruas de Curitiba

Imagem mostra mostra moradores de rua em Curitiba
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

A terceira matéria da série de reportagens da Tribuna do Paraná sobre pessoas em situação de rua traz o depoimento de quem se encontra nesse estado e passa os dias morando nas praças e ruas do Centro de Curitiba.

Abordado pela reportagem enquanto escovava os dentes em uma das torneiras localizadas no meio da Praça Osório, o curitibano Diego, 36 anos, conta que está em situação de rua há cerca de um ano e que saiu de casa por conta do vício em drogas. “Sou soldador, já trabalhei concursado em prefeitura. Tinha dois carros, uma moto”, relembra.

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Ele vive no Centro e acredita que existe uma concentração maior de pessoas na região pela maior facilidade em receber ajuda em comparação com os bairros. “Porque no Centro todo mundo dá dinheiro, alimento na rua. Tem quem come e quem troca por droga”.

O soldador avalia que as pessoas em situação de rua em Curitiba são numerosas. Inclusive, acredita que o número aumentou nos últimos meses, mas ele também cita que há diversos casos de pessoas que retornam para casa ou buscam ajuda para tratar algum vício. “Internei um amigo meu e agora ele é açougueiro. Eu não quis ficar (na clínica). Agora ele tá lá com a família dele. Já ajudei um monte de gente”, comenta.

Diego admite que tem um vício e que usa todos os tipos de drogas e também ingere bebidas alcoólicas, o que contribui para que ele se perca nos dias e viva sem uma rotina planejada.

“Fica três quatro dias sem dormir, usando droga e bebendo, ai você pega e dorme dois, três dias no colchão ali. Não tem rotina, você faz teu dia no momento. Tem dias que você acorda e aparece alguém que tem dinheiro ai você começa a beber. Tem dias que eu tô cuidando de carro, dias que peço dinheiro na frente do mercado”, relata.

Sobre a alimentação nas ruas, ele comenta que é uma situação ‘tranquila’. Quando não recebe nada, geralmente, por volta das 15 horas ganha sobras de comida dos restaurantes localizados na região. “As vezes eu lavo as lixeiras de noite e aí o cara (dono de uma banca) me dá um salgado que sobrou e assim vamos levando”.

Mesmo sem ainda ter procurado auxílio para tratar o vício, Diego garante que não é fácil e que tenta mudar de vida. “Tem dias que você chora, tem dias que desanima, tem dias que você tá bem. Cada dia é diferente. Você tem que agradecer a Deus por estar acordado de manhã, que você pode fazer alguma coisa e correr atrás”.

Apesar de estar em situação de rua há cerca de um ano, o soldador mantém contato com a família. Ele tem duas irmãs que são técnicas de enfermagem e fala todos os dias com a mãe, que vive em Maringá. No dia em que conversou com a Tribuna, tinha recebido R$ 10 da mãe que usou para comer um lanche.

“A gente é como uma família”, diz mulher em situação de rua

Debaixo de uma marquise no Centro de Curitiba e acompanhada de um enorme cão preto chamado Black, Maria relata que tem uma casa no bairro Tingui, mas que as vezes fica morando um tempo na rua.

Questionada sobre como é viver nessa situação, Maria afirma que não é difícil e que sempre recebe alimentos, mas garante que é perigoso. “Aqui é uma escola, todo dia você aprende uma coisa”, revela.

Entretanto, a mulher afirma que possui uma boa relação com as outras pessoas que estão em situação de rua. “A gente é como uma família, um ajuda o outro, um defende o outro”.

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