42 anos de história

De fábrica a shopping casamenteiro: a história por trás do Mueller

Imagem mostra detalhes do Shopping Mueller, em Curitiba
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Os curitibanos não dizem que vão ao “Shopping Mueller”. Para indicar qual o destino, basta falar que vão ao Mueller. Com 42 anos de história, o local ajudou a consolidar o costume de passar os finais de semana nos shoppings da cidade, em uma época em que abrir aos sábados e domingos ainda não era prática comum.

Em 1986, a administração do shopping foi uma das primeiras a negociar com a Prefeitura de Curitiba para abrir aos sábados, quando o funcionamento dos estabelecimentos ainda era restrito aos dias úteis. O primeiro acordo permitiu funcionamento apenas das 8h às 13h de sábado, mas as negociações continuaram para garantir o funcionamento também à tarde.

As 170 lojas do shopping concordaram em abrir aos sábados à tarde mediante compensações, como vale-refeição, pagamento de horas extras, comissões e folga na segunda-feira. Inicialmente, a medida enfrentou resistência da gestão municipal. Com o tempo, os shoppings passaram a funcionar não apenas aos sábados à tarde, mas também aos domingos, adotando o modelo americano já implementado no Mueller na época.

A prática contribuiu para consolidar o hábito de passear em shoppings nos finais de semana, seja para almoçar nas praças de alimentação ou para compras de lazer. Para a superintendente do Shopping Mueller, Daniela Baruch, a trajetória do empreendimento está intrinsecamente ligada ao crescimento urbano de Curitiba.

“Em muitos casos, o shopping dita tendências. Em outros, acompanha o que acontece na cidade e na sociedade. Um empreendimento como este tem grande relevância para qualquer município. É um vetor de crescimento”, afirma.

Propulsor de urbanização

Quando a antiga fábrica dos Irmãos Mueller foi transformada em shopping, as ruas ao redor ainda não eram pavimentadas. Durante a transição, a administração firmou um acordo com a Prefeitura, que tornou o shopping um agente central no desenvolvimento da infraestrutura da região.

O protocolo assinado previa alargamento da Avenida Cândido de Abreu, calçamento da Rua Mateus Leme, instalação de semáforos e remanejamento da fiação elétrica. A construção de uma passarela subterrânea, ligando a Praça 19 de Dezembro à calçada da Cândido de Abreu, foi parte do projeto que acabou não saindo do papel. O investimento variou de 225 mil a 80 milhões de cruzeiros, dependendo de cada etapa da obra.

“As mudanças na cidade interferem na operação do shopping. Às vezes parecem pequenas, mas fazem diferença. Por exemplo, há alguns anos, quando a Rua Mateus Leme mudou de sentido, tivemos que reorganizar o fluxo interno do estacionamento. Foi uma ótima mudança para nós”, lembra Daniela.

Ponto de referência 

A história do Mueller começa muito antes da inauguração do shopping, em setembro de 1983. Desde 1878, o local abrigava a primeira oficina mecânica de Curitiba e a ferraria de Gottlieb Mueller, que mais tarde se tornou a Fundição Mueller, localizada na Estrada do Assungui, hoje Rua Mateus Leme. A posição era estratégica, facilitando o escoamento da produção agrícola local e a comunicação entre os colonos e a cidade.

O fundador faleceu em 1902, e à medida que Curitiba se expandia ao redor da fundição, seus filhos mais velhos, Rudolpho e Oscar, deram continuidade aos negócios, que posteriormente passaram para os netos. Em 1978, o prédio foi vendido a um grupo de empresários — Salomão Soifer, Milton Gurtensten, Samuel Teig e Rubens — enquanto a fundição foi transferida para outro endereço, permanecendo em funcionamento até 1990.

Mesmo sem manter a função original, o nome Mueller foi preservado, consolidando-se como referência na cidade. Quando os empresários chegaram de São Paulo após visitar o primeiro shopping da capital paulista, pediram um táxi no Aeroporto Afonso Pena apenas dizendo que queriam ir “ao Mueller”. O taxista os levou corretamente ao destino, reforçando o porquê o nome deve ser mantido para o shopping.

Hoje, o Mueller mantém sua fama como ponto de referência. Mesmo quem não sai de casa com o objetivo de ir ao shopping acaba passando pela região para conferir novidades nas lojas, seja para comprar um presente de última hora, adquirir uma peça de roupa ou simplesmente para ocupar o tempo antes de um compromisso.

“Os shoppings funcionam como marcadores do tempo para as pessoas. Sabem que é Dia das Mães quando começam as campanhas, por exemplo. É impressionante perceber a influência e a responsabilidade que temos na vida das pessoas”, afirma a superintendente Daniela Baruch.

Lugar onde tudo acontece 

Apesar de hoje as inovações no shopping serem mais sutis, o fato de o Mueller ter sido um dos primeiros da cidade, ao lado do Shopping Itália, fez com que muitas novidades chegassem primeiro a ele. No ano de inauguração, por exemplo, uma locadora de vídeo testou de forma exclusiva o serviço chamado “Babá Vídeo”.

O Disk Tape tinha como objetivo auxiliar as mães durante as compras no shopping. No espaço da locadora, uma telona era posicionada no centro de uma área repleta de brinquedos, exibindo filmes e animações infantis. O serviço custava cerca de 500 cruzeiros por hora e recebeu o apelido de “estacionamento de crianças” pela imprensa local..

Em 1990, o shopping marcou outra estreia: inaugurou o primeiro quiosque de sorvetes do McDonald’s no mundo, na praça de alimentação. Criado inicialmente como ação publicitária para atrair clientes e indicar a localização do restaurante, o modelo curitibano se tornou tão bem-sucedido que foi replicado em outros países onde a rede atua, como Portugal, Alemanha, Hungria, Venezuela, Japão, China e Índia.

O Mueller segue sendo um espaço de experimentação para projetos inéditos em Curitiba. Em 2021, recebeu a primeira loja da rede norte-americana de cafeterias Starbucks na cidade. “A rede fez questão de abrir primeiro aqui por causa da nossa ligação com a cidade”, lembra a superintendente do shopping.

Aprendiz de Santo Antônio 

Em 2003, o Shopping Mueller inaugurou a passarela que liga dois prédios paralelos na Rua Mateus Leme, com o objetivo inicial de ampliar a oferta de vagas de estacionamento e facilitar o acesso de clientes que estacionavam de um lado da rua para o outro. Ao longo dos anos, no entanto, a estrutura conquistou um novo status: tornou-se um dos pontos mais “instagramáveis” da cidade.

A passarela se transformou em um atrativo visual permanente, frequentemente decorada para eventos sazonais, como Natal e Carnaval, com instalações de luzes e cenários temáticos. Em 2024, com a exposição imersiva do artista Claude Monet, o espaço ganhou ainda mais notoriedade, consolidando-se como um cartão postal escolhido por casais para pedidos de casamento e fotos especiais, inclusive ensaio fotográfico de noivas.

“A gente percebeu que a passarela tinha um significado muito grande para as pessoas. Elas passavam e tiravam fotos espontaneamente. Começamos a receber inúmeros pedidos de casamento no local. Eram jovens que se conheceram aqui na praça de alimentação e queriam eternizar esse momento onde tudo começou”, relata Daniela Baruch, superintendente do shopping.

Em 2023, o Mueller inovou ao lançar sua própria identidade sonora, uma música composta especialmente para o shopping, que rapidamente se tornou marca registrada do empreendimento. Curiosamente, a melodia também se transformou em trilha sonora de casamentos.

“Criamos a identidade sonora porque queríamos de alguma maneira estar presentes na vida das pessoas. Logo depois, a música foi solicitada em uma versão maior para ser usada em um casamento também. Isso nos inspirou a criar adaptações para datas comemorativas, como São João e Carnaval”, explica Daniela.

Antigo, não velho 

Com quatro décadas de presença em Curitiba, o Mueller encara o desafio de quem foi pioneiro: continuar inovando e apresentando novidades. “O desafio de qualquer empresa hoje é manter o pioneirismo, e isso se aplica também ao shopping. Buscamos isso tanto nas ações quanto no mix de marcas para seguir sempre à frente”, afirma a superintendente Daniela Baruch.

Apesar de ser um espaço antigo, a prioridade da administração e dos lojistas é garantir que o shopping não envelheça em termos de relevância e experiência. “O passado acalenta. Conhecemos nossa história, mas o futuro é uma incógnita. Por isso, tentamos resgatar  essas memórias porque é uma forma de tranquilizar as pessoas. Tem coisas que fazem parte da memória afetiva das pessoas”, complementa Daniela.

No aniversário de 40 anos, o shopping promoveu uma ação que mistura nostalgia e entretenimento: o retorno do Aqua Boat, brinquedo que marcou a infância de muitas crianças nos anos 1990. A iniciativa atendia ao pedido de adultos que queriam apresentar a experiência à nova geração.

“Tivemos o cuidado de dimensionar o brinquedo para que adultos também pudessem entrar. Hoje, talvez não seja a primeira escolha das crianças, mas nosso objetivo é que pais e avós tragam filhos e netos, brinquem e contem: ‘Olha, isso aqui era assim na minha época’”, explica Daniela.

A trajetória do shopping é inseparável da cidade que o viu crescer. No Mueller, tradição e inovação caminham lado a lado, refletindo uma história construída em parceria com os curitibanos. “Queremos que as pessoas façam parte da nossa trajetória. Por isso, precisamos reconhecer e agradecer aos curitibanos e paranaenses, que ajudaram a construir a história do Mueller até os dias de hoje”, conclui a superintendente.

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