Tudo acontece na rua Brasílio Itiberê. A lista de flagras dos moradores é extensa: furto de cabos elétricos, tráfico e uso de drogas, violência, furtos e roubos de todos os tipos. José Silva*, que mora na rua, localizada na região do bairro Jardim Botânico, resume a situação de forma direta: “Já aconteceu de tudo. Está virando um pandemônio.”
A Brasílio Itiberê corta quatro bairros da região central de Curitiba: Vila Izabel, Água Verde, Rebouças e Jardim Botânico. É uma das vias mais movimentadas da cidade e rota importante para quem se dirige à Arena da Baixada, ao Estádio Durival Britto ou ao Jardim Botânico, tradicional ponto turístico de Curitiba.
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Com o tráfego intenso, a via também dá acesso à Praça da Solidariedade, na rua Engenheiro Rebouças, onde funciona um centro de atendimento a pessoas em situação de rua. Desde 2022, o local conta com uma casa de passagem, a Padre Pio.
Apesar da proposta acolhedora, moradores relatam que, durante o dia, muitas das pessoas atendidas permanecem na apelidada “rua do medo”. O ponto de ônibus em frente à casa de José, por exemplo, virou moradia improvisada, com direito até à “guarda-roupas”, feito com os pertences guardados sobre a cobertura da parada. “Fizeram do ponto de ônibus uma casa. Ficam ali dormindo e usando drogas. Os motoristas não param mais para embarcar os passageiros”, relata o morador.
Em outros momentos, quando não ocupam o ponto de ônibus, as pessoas abordam motoristas pedindo dinheiro ou circulam em busca de alimentação oferecida por igrejas da região. Para moradores como José, embora a iniciativa das doações seja positiva, ela também contribui para que muitas dessas pessoas permaneçam nas ruas.






Invisível às autoridades
Desde 2022, José aciona a Central 156 da prefeitura de Curitiba para tentar melhorar a situação. A maioria dos chamados solicita limpeza do lixo revirado e jogado na rua ou fiscalização da ocupação do ponto de ônibus. O mais recente, de julho de 2025, pedia justamente a vistoria da estrutura que virou abrigo.
Segundo Fernando Verdi, presidente do Conselho de Segurança (Conseg) do bairro Rebouças, a criminalidade na região cresceu. Até a metade de 2025, foram registrados 883 furtos e 79 roubos no bairro, conforme dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP).
No entanto, o número desses crimes, na prática, pode ser maior do que o registrado. “Muitos roubos ocorrem em imóveis vazios, para alugar. Isso dificulta o trabalho policial porque, ao abordar o suspeito, o representante do imóvel muitas vezes não é localizado para registrar ocorrência”, explica Verdi.
José afirma que outro crime frequente é o furto e a queima de fios. “Nos fins de semana, fazem fogueiras gigantes para queimar a fiação. Já vi roubarem duas vezes na esquina com a Omar Sabbag e uma com a Conselheiro Laurindo. Roubam e derretem ali mesmo, sem nenhum problema.”
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Região é considerada caótica por moradores
Apesar das denúncias, os moradores se sentem desamparados pela falta de atenção das autoridades. “Está um caos. A gente chama a polícia e ela não vem. A Guarda Municipal também não aparece e diz que é caso da PM. Se abrimos chamado no 156, nada acontece”, desabafa José.

Na tentativa de buscar uma solução, os representantes do Conseg querem integrar câmeras de comerciantes da região à Muralha Digital, para facilitar a identificação de quem comete os furtos e roubos. “Já tenho conversado com alguns comerciantes para cederem imagens. Alguns têm medo, mas outros já se mostraram disponíveis”, diz Verdi.
Para efetivar o projeto, o plano será discutido em reunião com a administração regional da Matriz. Outra sugestão a ser deixada pelo Conseg é a possibilidade de ampliar as rondas noturnas na região.
A responsabilidade é de quem?
Em nota à Tribuna, a Polícia Militar do Paraná (PMPR) informou que realiza patrulhamento ininterrupto e planejado conforme demanda da população. As ações, segundo a corporação, se baseiam em dados estatísticos, análises criminais e denúncias feitas pelos canais oficiais, como o 190, o aplicativo App190 PR e Boletim de Ocorrência Unificado (BOU). Leia um trecho da nota abaixo:
“Em Curitiba, o policiamento é intensificado por todos os batalhões do 1º Comando Regional de Polícia Militar (1º CRPM), com atenção especial às áreas de grande concentração comercial, elevado fluxo de pessoas e locais de eventos. O objetivo é reforçar a segurança, prevenir delitos e garantir respostas rápidas em situações de emergência. O trabalho ostensivo é realizado diariamente, com patrulhamento, abordagens e orientações à população. Nos bairros Rebouças e Jardim Botânico, o 12º e o 20º Batalhões de Polícia Militar atuam de forma contínua para assegurar um policiamento presente e eficaz.”
A Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito (SDMT) reforçou que a Guarda Municipal também patrulha a região, sobretudo praças e equipamentos públicos, e atua em conjunto com outras forças quando necessário.
Em situações de emergência, a Secretaria destaca que “os cidadãos podem solicitar atendimento através do telefone 153 da Guarda Municipal, ou do número 190, da Polícia Militar. Quanto ao compartilhamento das imagens via Muralha Digital, no Programa Conecta Muralha, lançado no início de julho, a iniciativa é voltada à empresas de segurança privada e aos condomínios com o objetivo de prevenção e combate à criminalidade. No caso de registros de ocorrências durante o monitoramento, os casos serão encaminhados para investigação da polícia judiciária.”
Por fim, a Fundação de Ação Social (FAS) afirmou que os pontos citados nas reclamações dos moradores fazem parte do roteiro fixo de abordagem social, com equipes percorrendo as ruas pela manhã, tarde e noite. O atendimento, segundo a fundação, depende do aceite voluntário da pessoa abordada. Relembre aqui como é feito o trabalho da FAS em uma noite de frio extremo em Curitiba.
*O nome José Silva foi inventado a pedido do morador, que não quis se identificar na reportagem.
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