Vão pra onde?

Nova concessão do transporte em Curitiba reacende debate sobre extinção de cobradores

Imagem mostra um cobrador de ônibus em uma estação-tubo de Curitiba.
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Sete anos após o início de um processo que pode levar à extinção da função de cobradores de ônibus em Curitiba, a categoria pode enfrentar um novo baque. A futura concessão que vai definir os rumos do transporte público da capital traz a possibilidade de novos cortes. Este foi um dos principais temas discutidos durante as audiências públicas realizadas pela Prefeitura de Curitiba nos dias 1º e 15 de outubro.

Para o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), os documentos colocados em consulta trazem riscos concretos aos trabalhadores que seguem no sistema.

A proposta de concessão prevê, no escopo B da minuta, a automatização, a operação, a manutenção e a conservação da infraestrutura da Rede Integrada de Transporte (RIT), além da execução dos investimentos obrigatórios definidos em contrato. No conjunto de regras que organiza os serviços por lote, a Cláusula 15 autoriza cada concessionária a adotar soluções automatizadas nas estações-tubo, sempre respeitando os limites legais e a liberdade de gestão de cada empresa.

A Cláusula 15.2.1 detalha que, com a adoção de sistemas automáticos, a concessionária fica dispensada de manter a mão de obra antes empregada nessas funções. Os estudos anexados à consulta pública mostram que os cobradores foram alocados em partes orçamentárias distintas, classificados como parte do custo das operações de infraestrutura. Na prática, esse enquadramento reforça a tendência de desligamento gradual da categoria.

A automatização das estações-tubo, que inclui plataforma nivelada com a calçada e portas automáticas, permite ao passageiro acessar o interior dos ônibus apenas com a validação eletrônica do cartão transporte ou o pagamento com cartão de crédito ou débito. O processo elimina a atuação do cobrador, substituído pelo sistema digital. A tecnologia já foi testada ao longo do primeiro semestre de 2025.

Para o vice-presidente do Sindimoc, Rogério Campos, embora a nova concessão destaque inovação e modernização, o texto deixa em segundo plano a valorização dos profissionais do transporte coletivo. “O papel do trabalhador é importante no transporte coletivo, seja para ajudar a embarcar, ajudar a descer ou para dar informações. Levamos essas questões ao presidente da Urbs e fomos informados de que seria aberto um diálogo sobre essa questão”, afirma o dirigente.

As preocupações do sindicato foram formalizadas em um documento enviado durante o período de consulta pública. No texto, a entidade solicita garantias de manutenção dos empregos, contratação de seguro contra acidentes de trânsito e proibição de terceirização das funções de motoristas e cobradores.

Imagem mostra um ligeirinho prateado chegando a uma estação-tubo de Curitiba.
Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

Categoria em extinção?

Desde 2018, a classe de cobradores de ônibus começou a enfrentar o risco de desaparecer em Curitiba. A retirada desses trabalhadores de seus postos iniciou com a alteração da Lei nº 10.333, de 2001 em 2019, que passou a permitir que não haja cobradores somente nos ônibus que param nas estações-tubo e nos micro-ônibus.

A retirada dos profissionais ganhou força após a alteração, em 2019, da Lei Municipal nº 10.333, de 2001, que passou a permitir a ausência de cobradores nos ônibus que atendem exclusivamente estações-tubo e nos micro-ônibus. Em 2023, os últimos cobradores que atuavam em linhas convencionais foram retirados, restando apenas as linhas Interbairros 4, 5 e 6 com a função ainda ativa

Desde então, o trabalho permanece apenas nas estações-tubo e terminais administrados pela Urbs. Dos cerca de seis mil trabalhadores da categoria, a maior parte foi realocada ou requalificada, caminho que volta a ser apontado como solução possível nos novos contratos.

Automatização será gradativa, indica Urbs

Segundo a Urbs, a automatização das estações-tubo acontecerá de forma gradativa ao longo de três anos. Todos os terminais permanecerão operando com cobradores. Em nota enviada à Tribuna, o órgão afirma que a transição será conduzida “de maneira a aproveitar o turnover (taxa de rotatividade de funcionários de uma empresa) natural do sistema, com aposentadorias e saídas voluntárias, ou seja, sem que haja demissão em massa dos cobradores devido à automação”.

A Urbs também destaca que os trabalhadores serão capacitados para outras áreas por meio de convênios com Sesc e Senat, podendo migrar para funções como motoristas, operadores ou profissionais da área mecânica. “É válido lembrar que os motoristas e cobradores que trabalham atualmente no sistema formam uma mão de obra qualificada e que conhece bem o transporte coletivo da cidade. Ela deve ser aproveitada naturalmente pelas empresas vencedoras”, explica o órgão.

A extinção definitiva da função dependerá das decisões das novas concessionárias, que terão total responsabilidade sobre contratações, demissões e gestão das equipes. A Urbs reforça que não possui poder diretivo sobre as relações trabalhistas, mas pretende atuar como mediadora para garantir que a mão de obra atual seja aproveitada sempre que possível.

A consulta pública das minutas da concessão estava aberta até a ultima segunda-feira (17/11). Após essa etapa, o leilão está previsto para ocorrer na B3 em janeiro de 2026, com início do contrato programado para junho. O período de transição entre o modelo atual e a nova concessão poderá durar até 24 meses.

Durante toda a fase de transição e ao longo da execução contratual, a Urbs afirma que seguirá fiscalizando as relações trabalhistas por meio de vistorias presenciais, diálogo com sindicatos, análise de documentos e atendimento a denúncias. A nova concessão também amplia indicadores de qualidade e prevê pesquisas contínuas de satisfação dos usuários.

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