A falta de banheiros para cobradores de estações-tubo é um problema antigo em Curitiba. Em 2015, a Tribuna do Paraná falou sobre o martírio que é ir ao banheiro para quem trabalha no transporte coletivo.
De lá pra cá, os cobradores saíram de dentro dos ônibus para dar lugar à bilhetagem eletrônica. A parte da categoria que trabalhava nos veículos tinha à disposição o banheiro dos terminais para correr em uma situação de apuro. Mas e aqueles que continuam na função e trabalham nas estações-tubo?
Além do ponto de parada da Praça Carlos Gomes, que tem um banheiro administrativo compartilhado entre servidores da prefeitura, muitos outros cobradores precisam contar com a boa ação dos comerciantes num momento de “aperto”.
“São dois banheiros, um para os fiscais e outro para os cobradores, que dividimos com funcionários da limpeza da cidade. Agora tenho acesso ao banheiro, mas já trabalhei em lugares que não tinha nem loja perto para pedir ajuda. As mulheres são as que mais sofrem, porque não podem ir em qualquer banheiro, precisam de um lugar com estrutura”, detalhou um funcionário que pediu para não ser identificado.
É o caso de cobradores lotados em algumas estações-tubo do bairro Rebouças. A região é composta por prédios de empresas e poucos comércios de rua. O banheiro mais próximo e de fácil acesso é de um shopping da região, mas a ida e volta até lá ultrapassam os 15 minutos de intervalo – que devem ser usados para ir ao banheiro e lanchar.
“É indigno o que a gente passa, tem que ficar pedindo pra usar banheiro dos comércios e muitos não gostam. Penso que poderia fazer um banheiro para os dois tubos que ficam próximos, os cobradores ficam com a chave, ou até quem sabe instalar um banheiro químico”, explicou um trabalhador para a Tribuna.

E quando está doente?
A situação piora quando uma comida não cai bem ou uma virose se aproxima. Como aguentar, pelo menos, quatro horas de jornada e correr em quinze minutos para encontrar um banheiro?
“Quando sei que tô com algo assim, nem vou trabalhar porque não tenho condições de ir ao banheiro. Uma vez comi uma coisa que não me fez bem e tinha acabado de terminar meu intervalo, a pessoa que cobre esse período tinha acabado de sair do tubo, mas liguei correndo e pedi pra ela voltar porque estava passando mal”, relatou um trabalhador.
Depender sempre da política boa vizinhança acarreta impasses. Na Avenida Presidente Getúlio Vargas, por exemplo, um dos cobradores recorre a dois comércios nas proximidades. Por saber que os empresários não gostam muito de ajudar, ele prefere ficar seis horas sem ir ao banheiro.
“Eles deixam usar, mas você percebe que eles não gostam muito e não estão errados também, é o trabalho deles e uma pessoa ‘estranha’ vem pedir para usar. A maioria dos dias eu nem vou, mesmo com a pessoa no intervalo vindo aqui, porque quero evitar conflitos. Aqui na região até tem local que é mais arrumado e as cobradoras mulheres vão lá, mas dizem que os funcionários olham torto”, argumentou.
Por que não tem banheiro nas estações-tubo?
Desde 2009, a instalação de banheiros nas estações-tubo aparece como proposição na Câmara Municipal de Curitiba. A última vez foi em 17 de janeiro, quando o vereador João Bettega (União) enviou uma indicação de sugestão ao Poder Executivo de instalação de banheiros para motoristas, cobradores e usuários do transporte em estações-tubo.
Na justificativa, a melhora das condições de trabalho dos motoristas e cobradores é citada. “Atualmente, muitos desses profissionais enfrentam longas jornadas sem acesso a infraestrutura adequada, o que pode comprometer a saúde e bem-estar.”
Em todos esses anos, a Urbanização de Curitiba (Urbs) respondeu a duas sugestões. A primeira, de 2013, dizia que um estudo técnico visando a instalação de banheiros públicos em bancas ou outros equipamentos próximos às estações-tubo era realizado.
E aí, Urbs?
Em nota, a Urbs informou que os cobradores têm intervalo de 10 a 15 minutos, quando são substituídos por outro operador e utilizam banheiros no comércio e nos equipamentos urbanos nas proximidades das estações-tubo. Em todo o sistema são 25 equipamentos urbanos cujos banheiros podem ser utilizados, como Ruas da Cidadania, postos da Guarda Municipal, distritos de manutenção das regionais, e locais como a Casa da Mulher Brasileira.
Ainda na nota, a Urbs reforçou que desde o fim do ano passado, testes com o banheiro móvel estão sendo realizados. ” No fim do ano passado foi feito um teste com um banheiro móvel (que é puxado por um veículo) e também estão sendo avaliadas outras ações, como a possibilidade de sanitários fixos, com a extensão de rede de coletores de esgoto até estações-tubo que não possuem equipamentos urbanos municipais próximos. Todas as estações-tubo da Linha Verde – Atuba, Solar, Polícia Rodoviária Federal, Jardim Botânico, UFPR (em construção),Fanny, São Pedro, Santa Bernadethe, Xaxim, Marechal Floriano e PUC já possuem banheiros exclusivos para cobradores”, comunicou a Urbs.

