O pão de cada dia

Famílias são beneficiadas com programas sociais

Mais de 100 mil famílias curitibanas – mais de 20% do total – fazem parte do Cadastro Único da Fundação de Ação Social (FAS) e, com isso, estão aptas a receber benefícios dos programas sociais mantidos pelos governos federal, estadual e prefeitura. Dependendo da condição financeira, essas famílias – com renda de até três salários mínimos – podem receber desde uma quantia mensal para aumentar a renda até isenções em taxas de concursos públicos e vestibulares.

Quase 35% das 100.796 famílias cadastradas pela FAS são beneficiadas mensalmente pelo programa Bolsa Família. São 35.262 famílias curitibanas que, em julho de 2013, receberam, em média, R$ 125,92. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) os benefícios podem variar de R$ 36 a R$ 306, conforme a renda e o número de filhos. No total, o repasse de julho, em Curitiba, foi de R$ 4.400.294,00.

Multiplicidade

A FAS gerencia 16 programas sociais, com ações que priorizam o atendimento a idosos e jovens. Cada programa tem critérios específicos para adesão. A diretora de Informações e Gestão de Benefícios da FAS, Denise Ferreira Netto, ressalta que nem todas as famílias do Cadastro Único recebem benefícios. “Nos programas federais, por exemplo, é o governo federal que seleciona as famílias que têm o perfil para receberem o benefício”, explica. Denise destaca que o acompanhamento das famílias que participam dos programas sociais é feito pelos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS). “Só os recursos não bastam, é preciso dar estrutura para que as pessoas tenham acesso a seus benefícios e direitos, especialmente as que estão em situação de extrema pobreza. A intenção não é manter a transferência de renda, é fortalecer para que as famílias possam sair desse processo”, afirma.

Dois filhos e divorciada

Daniel Derevecki
Alice e Naylla dizem que ajuda é essencial à sobrevivência.

Aos 22 anos, Naylla Kravetz da Silva tem dois filhos: uma de cinco e um de três. É divorciada e o ex-marido não colabora com as despesas dos filhos. Naylla mora com os filhos na Vila Icaraí, área de invasão no Uberaba. Até o começo do mês trabalhava como auxiliar de cozinha. “Com o salário pagava a casa e o dinheiro do Bolsa Família uso para comprar fraldas, leite, bolachas e remédio para o meu menino, que tem bronquite”, conta.

Além do Bolsa Família, Naylla recebe também o benefício do programa Brasil Carinhoso, destinado às pessoas em situação de extrema pobreza com crianças menores de seis anos. “É um dinheiro que faz toda a diferença, só com o salário não dava”, comenta. Mas, para receber o dinheiro, também tem obrigações. “Preciso levar as crianças no posto de saúde de três em três meses e não podem faltar a creche”, destaca.

Dificuldades

A mãe de Naylla, Alice Kravetz, 50, também recebe uma quantia do Bolsa Família. Ela mora com um filho de 24 anos e uma filha de 14. Alice era doméstica, mas como está com problema nos pés está com dificuldades para trabalhar. Com o filho também desempregado, o dinheiro do programa é essencial para a família.

Mudanças a longo prazo

“Imagine a condição que a pessoa está para comemorar que recebe R$ 70. Para essas famílias, é um grande alívio”, destaca o professor de economia da Universidade Federal do Paraná, Huascar Pessali. Sobre o argumento que receber benefícios sociais causaria “acomodação&rdq,uo;, ele afirma que “provavelmente essas pessoas não tiveram boa educação, não têm condições de entrar no mercado de trabalho de forma competitiva. Essas pessoas não vão se transformar em grandes empresários a partir desse pequeno benefício”. Segundo o economista, para as pessoas de mais idade é ainda mais difícil que a ajuda financeira do governo traga grande mudança de vida.

O professor considera que a implementação dos programas sociais, especialmente os de transferência de renda, resulta no desenvolvimento das comunidades atendidas. “A partir do benefício desenvolve a região, pois permite que novas atividades comecem a surgir. Por exemplo, a pessoa tendo um pouco de dinheiro pode fazer a reforminha em casa, assim chama o eletricista, o pedreiro local. Gera o efeito multiplicador de renda”, explica.

Efeitos

Para Huascar, o sucesso dos programas de transferência de renda depende da interação com outros programas, como os de qualificação profissional e acompanhamento escolar. “O efeito é de longo prazo. Em uma ou duas gerações, os filhos dessas famílias que recebem os benefícios já terão outra perspectiva de vida, pois receberam educação e estarão capacitados para o mercado de trabalho”, destaca.

Pronatec tem 3.550 vagas pra cursos de qualificação

Em Curitiba, segundo a diretora da Qualificação para o Trabalho da Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego, Marisa Stedille, são oferecidas 3.500 vagas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). A quantidade de vagas foi estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, conforme a demanda baseada nos seguintes critérios: pessoas desempregadas, no primeiro emprego e que solicitaram o seguro-desemprego pela terceira vez em 10 anos – às quais as vagas são destinadas.

As áreas em que são oferecidos os cursos do Pronatec vão desde a construção (manutenção predial, eletricista, mestre de obras), industrial (mecânico, técnico-mecânico), serviços e comércio (estética e alimentação) e transporte (operador de empilhadeira). Alguns cursos têm pré-requisitos de escolaridade e as cargas horárias variam. A mínima é de 160 horas. “Os alunos matriculados recebem o material didático e auxílio para transporte e lanche, de cerca de R$ 10 por dia”, complementa Marisa.