Medo

Com alta de casos de covid-19, funcionários da Repar lidam com a insegurança de contrair a doença

Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar). Foto: divulgação / Petrobrás.

O medo e a insegurança viraram rotina para os trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) da Petrobras, em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. Com a pandemia do novo coronavírus, os funcionários estão tendo que lidar com o receio de contrair a doença dentro da refinaria. 

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Repar, Sindipetro, a testagem dos colaboradores começou a ser adotada no dia 14 de maio. E de lá até agora, em menos de um mês, 92 pessoas testaram positivo para a doença — segundo dados que foram repassados pela Secretaria da Saúde da Prefeitura de Araucária. “Eles estão afastando quem está positivo, mas sem informar desse resultado a quem trabalha junto com a pessoa, como se não tivesse risco nenhum”, argumenta o diretor do Sindipetro Alexandre Guilherme Jorge. 

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O sindicato soube da quantidade de casos positivos dentro da Repar pela divulgação da Prefeitura de Araucária. Segundo a entidade, a empresa não informou o resultado dos 1660 exames feitos. “A gente não tem informação pela empresa, soubemos de casos com sintomas médios, de pessoas com febre e dores, mas nada oficial. As coisas chegam para a gente pelo telefone sem fio. Um colega que soube, que telefonou”, comenta Jorge. 

E diante do aumento repentino de casos, o diretor do Sindicato espera uma mudança de postura por parte da empresa. “Eles passaram alguns procedimentos do que estão fazendo, como a higienização, o uso de máscaras, os testes. Mas o que estão fazendo não está resolvendo. O que vão fazer a mais? Eles não tocam em números. Diante disso, o nosso pleito é da interdição da unidade”, avalia o diretor do sindicato. Para Jorge, se tem 92 casos positivos, é porque tem alguma coisa errada no protocolo adotado pela empresa

Insegurança nas testagens

“O médico me ligou dizendo que meu teste deu positivo, fiquei sete dias isolado e fiz novo exame, que depois deu negativo”, contou um funcionário da refinaria que preferiu não se identificar. Com o resultado de infecção pelo novo coronavírus, o colaborador levou um susto. Ele passou a semana afastado em casa monitorando os sintomas e em isolamento. Por sorte, o colaborador mora sozinho e por isso o risco de transmitir a doença para outra pessoa foi menor.

“Teve uma moça que trabalha terceirizada e estava na mesma situação. Ela chorou sete dias, foi um susto. Tem que ter controle psicológico. Eu moro sozinho, mas tem gente que tem família, filhos. Ela e o marido são do grupo de risco”, relembra. Durante todo o período em que ficou isolado, o trabalhador disse que não recebeu contato da refinaria. “A empresa em nenhum dia me ligou, me procurou para saber se eu precisa de alguma coisa, como estavam meus sintomas”, conta, indignado. 

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O funcionário acredita que o ambiente da refinaria não está totalmente seguro para os colaboradores. “A limpeza nos ambientes foi reforçada, mas não temos notícias de limpeza nos transportes, nos micro ônibus e ônibus de viagem. Os vestiários são pequenos, chuveiro é compartilhado e os funcionários tomam banho no fim do turno. Eu tenho consciência e espero o vestiário ficar vazio para suar, mas nem todo mundo tem esse cuidado. Basicamente a empresa nos deu máscara, álcool gel e agora tem essa testagem. Na visão deles, se você se contaminou, a culpa é sua”, desabafa o colaborador. 

O que diz a Petrobrás

Em nota, a Petrobrás informou que não tem medido esforços para enfrentar a pandemia. “Além da ampla testagem, vem adotando ações como rigorosa higienização das instalações, uso de máscaras e redução da atuação presencial em cerca de 90% nas áreas administrativas e 50% nas áreas operacionais que desempenham atividades essenciais”, diz a empresa.

A Petrobrás afirmou ainda que todos seus empregados com confirmação para covid-19 são monitorados por equipes de saúde. A companhia não informa números por unidade. A nota afirma também que a empresa vem ampliando a aplicação de testes nas refinarias e cerca de 35 mil já foram realizados, que é aproximadamente 18% do total das 150 mil pessoas que atuam em suas unidades pelo Brasil. Os colaboradores que testam positivo são orientados a cumprir isolamento e passam a ser monitorados pelas unidades de saúde.


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