Arte fundamental

Coletivo de poesia de Curitiba aposta nas redes e conquista jovens no TikTok

Toma aí um poema
Foto: Arquivo pessoal/Jéssica Iancoski

O coletivo de poesia Toma Aí Um Poema (TAUP), de Curitiba, aposta nas redes sociais para aproximar a literatura das pessoas, principalmente dos jovens da geração Z. Segundo o coletivo, eles já possuem o maior podcast de poesia declamada do Brasil, com mais de 1 milhão de players. A TAUP começou a fazer leituras de poesia na pandemia, como forma de aproximação e entretenimento entre escritores e poetas. A ideia de entrar nas redes veio das reuniões mensais de leitura de poemas. O grupo começou a gravar poemas e distribuí-los na internet, primeiro no Spotify, depois no Instagram, Youtube e agora no TikTok.

O coletivo poético, que se intitula como um projeto social de acolhimento, de incentivo e de desenvolvimento da escrita e da leitura, é visto e reconhecido como pioneiro e inovador quando o assunto é a poesia nas redes. É um potente publicador de material literário em múltiplas mídias: podcast (o maior de literatura falada no Brasil, com mais de 70 mil ouvintes somente no Spotify), revista, livros físicos e digitais e redes sociais.

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“Todo mundo que conhece, gosta de poesia. O que acontece, culturalmente, é que o contato com a poesia passa pela escolarização da literatura e, infelizmente, é repleto de traumas. Entramos para o TikTok e para o Instagram Reels porque é fundamental oferecer poesia, sem que seja exigida qualquer coisa do leitor-telespectador-ouvinte”, destaca Jéssica Iancoski, editora do Toma Aí Um Poema.

Conta a editora que entrar no TikTok foi uma ideia que surgiu quando o TAUP bateu um milhão de players, somando os acessos em todas as plataformas. “Hoje, querendo ou não, o TikTok faz parte da rotina das pessoas e nos vimos nessa plataforma uma forma de entregar a poesia para aqueles que a procuram, mas sobretudo para aqueles que não esperam”, explicou.

Entrar no TikTok foi uma ideia que surgiu quando o TAUP bateu 1 milhão de players. Foto: Arquivo pessoal/Jéssica Iancoski

Contextualizando Curitiba na história, o coletivo espera aproveitar as brechas que a internet cria para promover a cidade, a arte dos poetas curitibanos, as vozes que escrevem na capital, os conectando com quem compartilha a cidade. “Quando se oferece uma mensagem, um pensamento, uma crítica, um texto engraçado, muitas pessoas param o que estão fazendo e sentem e pensam. E isso é poderoso quando pensamos em agir na mudança para o bem. É oferecer algo de bom, em um espaço virtual que está entojado de mentiras, violências e sensacionalismo”, afirma a Jéssica Iancoski.

Poesia na rede

A presença de projetos literários nas plataformas digitais e em redes sociais em ascensão, como o TikTok, aproximam e democratizam a literatura. Segundo o TAUP, o reflexo disso é o sucesso da rede na última Bienal Internacional do Livro em São Paulo, evento em que a maior parte das editoras focaram na nova geração de leitores — a geração Z, mais jovem e diversa —, abrindo espaços mais democráticos para falar de literatura na internet.  

Durante o evento, a pesquisa “Retratos da Leitura em eventos do livro e literatura” evidenciou o crescimento da influência de redes voltadas para vídeos como o TikTok, Youtube e Instagram no interesse em leituras de livros: 28%, nesta enquete, contra 3% no levantamento realizado em 2019 em todo o país. O estudo também demonstrou que ler livros ajudou a enfrentar o isolamento imposto pela pandemia de covid-19 – 87% dos entrevistados informaram que leram mais durante esse período.

Focado em vídeos curtos, de 15 ou 60 segundos e 3 minutos, o TikTok cresceu por causa do seu apelo para a viralização. A rede, que ganhou espaços de destaque nos estandes das editoras durante a Bienal, trouxe à tona o “BookTok”, hashtag de amantes da leitura. A hashtag “BookTokBrasil” já soma mais de 4 bilhões de visualizações dentro do aplicativo e ajudou a divulgar centenas de livros, aproximando gêneros literários antes vistos como distantes. Um deles é a poesia. 

Para o coletivo curitibano, a ideia de sair do padrão agrada. “Gostamos de sair do padrão e propor formatos novos que dialoguem com a revolução tecnológica e com os jovens. Publicamos podcast, videopoemas, edições interativas e por aí vai”, diz a Jéssica Iancoski.

O coletivo acredita que a poesia deve circular pelas redes como circulam outros gêneros literários: a piada, a receita, os relatos pessoais – com menos formalidade e mais livres.

Reunião do Toma Aí Um Poema com poetas curitibanos. Imagem: Arquivo pessoal/Jéssica Iancoski

Atualmente, o coletivo Toma Aí Um Poema posta leituras de poesia brasileira contemporânea e clássicos, mesclado com as músicas que viralizam nas plataformas. “Há poesia com lo-fi, com solos de piano e batidas instrumentais. O próximo passo agora é começar a declamar as letras do Jovem Dionísio e do Zé Felipe! O que já fizemos no Spotify e adoramos”, exemplifica Jéssica. “Os jovens estão buscando respostas para firmar as suas identidades. Em qualquer lugar, digital ou não, o que circula é o discurso. É através dele que os jovens encontram ideologias para identificação ou não. Compreender isso é o melhor jeito de estimular a leitura e a escrita”, justifica.

Além da Jéssica, o coletivo conta com os poetas curitibanos Belise Campos, Andreia Moema, Lilly Magaflor, Jaime Barros dos Santos Junior e Nicola Otávio.

Mais espaço para representatividade LGBTQIAP+

Para Neusa Dorreto, atriz, diretora de teatro e uma das vozes que realiza as leituras de poemas nos canais multimídia do coletivo, esse trabalho é de grande importância na educação dos jovens que cresceram inseridos na tecnologia. “Usando as redes sociais, com postagens no Instagram e TikTok, o Toma Aí Um Poema informa, declama e proclama a poesia clássica e contemporânea, com uma roupagem moderna que fala a mesma língua da liberdade, contra qualquer preconceito”, frisa Neusa. E acrescenta: “É uma fala com amor, com literatura ardente e apaixonada da tenra idade. Eu, como atriz e diretora de teatro, faço parte dessa montagem, sabendo que a paixão e a delicadeza educam corações para a paz”.

O TikTok mudou o jogo para os livros e também trouxe mais representatividade LGBTQIAP+ na literatura. O Toma Aí Um Poema tecla sempre na importância da desconstrução “Falar na comunidade e na representatividade LGBTQIAP+ é insistir nesse discurso de que não existe certo ou errado, sobretudo, quando o assunto são as teorias de gênero. A mesma dominação que ocorre no campo da poesia, impondo obstáculos para a expressão, incide nas esferas do corpo. A poesia é um lugar de empoderamento e uma das ferramentas mais saudáveis contra os sufocamentos individuais e sociais que enfrentamos”, finaliza a editora. 

Ouça a declamação da música “Acorda Pedrinho” no TikTok do TAUP neste link.