Seca

Calorão vai piorar a crise hídrica e pode faltar água pra valer em Curitiba e região

Represa do Passaúna com apenas 36,54% de sua capacidade total, em foto feita no dia 29 de setembro. foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná.

Mesmo com os temporais de domingo (27) e segunda-feira (28), o calorão que chega a Curitiba e região nesta quarta-feira (30) e que deve bater recorde na quinta (1.°), com previsão de 34°C, deve agravar ainda mais a pior estiagem da história no Paraná. E vale enfatizar e muito o alerta da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar): se a população não colaborar poupando água e não chover nada nos próximos quatro meses, nenhuma gotinha, o baixíssimo volume dos reservatórios podem secar de vez, levando a crise hídrica a um estado muito crítico.

“Não tem nada alentador”, desaba o diretor de meio ambiente e ação social da Sanepar, Julio Gonchorosky. Segundo ele, o que choveu neste mês de setembro não chegou a um quarto do que deveria chover em média. “As chuvas dos últimos dias foram bem vindas, mas não trouxeram nenhum alento para o abastecimento. Quando você não está numa situação tão dura, até tudo vai bem. Mas para a situação hídrica atual não altera em nada”, lamenta o diretor.

As quatro barragens da Sanepar em Curitiba e região – Piraquara 1 e 2, Iraí e Passaúna – abastecem diariamente 3,6 milhões de pessoas. Hoje com apenas 29% da capacidade total do sistema, vem a pergunta: por quanto tempo ainda teremos água?

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Segundo Gonchorosky, Curitiba e região consomem cerca de 7% a 8% dos reservatórios por mês.  Num cálculo rápido, o que temos hoje nos reservatórios, contando com economia e sistema de rodízio, dá para manter abastecimento para os próximos três ou quatro meses – isso considerando que não chova nada nesse período. O alento, explica o representante da Sanepar, é que agora na primavera estamos entrando no período de chuva. “Ainda que as chuvas estejam mais mais fracas agora, estamos entrando num período de chuvas, o que pode aliviar um pouco”, ressalta Gonchorosky.

No entanto, o que se espera dessa primavera não é muito animador. Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a previsão ainda é de seca para os próximos meses. Indicativos apontam para chuvas abaixo da média história nesta primavera. A previsão mais otimista, no entanto, aponta para um verão um pouco mais chuvoso. Mas o verão só inicia na segunda quinzena de dezembro. Até lá, ainda há três meses pela frente.

Rodízio mais severo

De acordo com o Simepar, a previsão é de que o primeiro dia de outubro registre a temperatura mais alta de 2020, podendo alcançar os 34ºC em Curitiba e 40º no interior, como em Maringá. Como as ondas de calor provocam ainda mais gasto de água, a estiagem pode ficar ainda mais severa.

Com capacidade atual dos reservatórios da capital e região em 29%, o consumo gerado pela onda de calor pode antecipar uma mudança no esquema de rodízio no abastecimento. Atualmente, são 36 horas sem água para 36 horas com abastecimento nos imóveis. No entanto, se os reservatórios chegarem a menos de 25% de capacidade, o rodízio deve mudar para 48 horas sem água e 24 horas de abastecimento normalizado.

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“O esquema de rodízio não é só ruim para a população, mas também para todo o sistema. Hoje, pessoas com uma boa cisterna e caixas d’água acabam não sentindo muito. Mas com o esquema de 48 por 24, todo mundo vai sentir”, enfatiza Gonchorosky.

Para evitar ao máximo o rodízio severo, a Sanepar tem lembrado da importância da economia de água, evitando qualquer desperdício. “É um esforço que a gente precisa fazer para chegar na meta de 20% de economia. Estamos em torno de 15%, 16%. São 5% difíceis, mas extremamente importantes”, ressalta.

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Podemos ter rodízio ano que vem?

A economia de água e o sistema de rodízio têm sido assuntos frequentes com a pior estiagem da história. E garantir água para os próximos meses não é a única preocupação da Sanepar. A companhia também pensa no armazenamento para o inverno do ano que vem.

Com previsão para uma primavera mais seca, mas com verão com chuvas normais, a expectativa é de que não será preciso rodízio ano que vem ou pelo menos não tão radical quanto agora. “Precisamos atingir até o final de março ao menos 70% de capacidade dos nossos reservatórios. Se conseguirmos alcançar isso, o inverno vai ser mais tranquilo em 2021”, avalia. 

Uso consciente sempre

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Há quem comprou cisternas, há também quem colocou garrafa pet na caixa de descarga para diminuir o consumo de água. Além disso, houve quem diminuísse o tempo de banho, quem também passou a escovar os dentes com a torneira fechada. Todos esse hábitos podem e devem continuar, mesmo depois do período de estiagem.

“As mudanças climáticas não deixam dúvidas de que podemos ter uma forte estiagem novamente. Com extremos de secas e chuvas, vamos ter que repensar muita coisa no que vamos fazer com o planeta”, alerta o diretor da Sanepar.

Dicas para economizar água!

– Feche a torneira: ao lavar as mãos ou a louça, não deixe a torneira aberta todo o tempo. Feche na hora de passar sabão e só reabra no enxague. Isso evitará que vários litros de água tratada sejam desperdiçados.

– Hora do banho: seja rápido no banho. Cada 5 minutos embaixo do chuveiro ligado consomem aproximadamente 70 litros de água.

– Basta um copo: para escovar os dentes é necessário apenas um copo de água. Evite deixar a torneira aberta.

– Use a vassoura: água não é vassoura. Jamais use a água da mangueira para “varrer” a sujeira. A vassoura faz isso muito bem sem usar água.

– Economia: diminua as descargas e regule periodicamente a válvula hidra ou a caixa de descarga. Você também pode usar uma garrafa pet dentro para ocupar espaço.

– Lavando roupa: junte roupas para lavar todas de uma só vez. Não jogue fora á água da lavagem. Aproveite a água usada no tanque ou na máquina para lavar calçadas.

– Vazamentos: os maiores ladrões de água são vazamentos, torneira pingando e descarga desregulada. Faça manutenção regularmente.

– Carro limpo: use baldes, e não a mangueira, para lavar o carro. Seu automóvel fica limpo e a economia pode chegar a 300 litros de água. Mas nesse período de estiagem, andar com o carro sujo é um ato de cidadania. Deixe pra lavar o carro quando o fornecimento de água voltar ao normal.

– Fazendo a barba: não faça a barba com a torneira aberta o tempo todo. Use a água somente para molhar e enxaguar o rosto.

– Lavar as mãos: lavar as mãos com a torneira aberta o tempo todo causa um grande desperdício. Ao ensaboar as mãos, deixe a torneira fechada.

– Reaproveite: a água do último enxágue das roupas, no tanque ou na máquina, pode ser usada para ensaboar tapetes, tênis, cobertores, pisos e calçadas.

– Gaste menos: ao lavar a louça, encha a cuba de água e deixe-a fechada. Evite deixar a torneira aberta, enxágue a louça toda ao final da lavagem. Assim, o gasto de água é bem menor.

– Lixo no lixo: nunca jogue cigarros, absorventes ou papéis no vaso sanitário, porque o lugar deles é na lixeira. Isso pode entupir o vaso, o que gera mais gasto de água.

– Viajou? Fechou: quando viajar, feche o registro do cavalete de entrada de água, evitando desperdícios e vazamentos.