Volta da aula presencial

“Basta de aula com televisão”, estudantes do Ensino Técnico do Paraná querem professores na sala

Mobilização contra o Ensino Técnico em Colombo
Mobilização de alunos contra o Ensino Técnico Estadual, em Colombo. Foto: colaboração.

“Imagina mais ou menos de 35 a 40 alunos por turma, adolescentes. Não tem nenhum professor na sala de aula. O único professor é quem faz as aulas gravadas, que aparece na televisão. É assim esse novo ensino técnico esse ano. Quando colocamos nossos filhos nesse ensino, imaginamos que teria um professor na sala de aula”, esse é o desabafo de Mônica Noernberg Borges de Lima, 36 anos, mãe de um dos alunos do ensino técnico do Colégio Estadual Presidente Abraham Lincoln, que fica no Centro de Colombo, na região metropolitana de Curitiba.

Nesta sexta-feira (16), Mônica se reuniu com outros pais e alunos do ensino técnico para uma mobilização em frente a escola. Eles pedem aulas presenciais, com professores nas salas de aula. “É essa a nossa reivindicação. Os alunos estão querendo desistir. Da forma que está, a tendência é só aumentar. Teve uma escola, em Cascavel, que conseguiu com a mesma movimentação o retorno das aulas presenciais para o ensino técnico”, comenta a mãe.

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Não só os alunos do colégio Abraham Lincoln estão indignados com a situação, mas também pais e alunos de outras duas escolas em Colombo: o Colégio Estadual Helena Kolody, que fica no Jardim Monza, e o Colégio Estadual Antonio Lacerda Braga, localizado no Alto Maracanã.

Os alunos têm aulas presenciais com professores durante a semana, da grade do Ensino Médio, e aulas do Ensino Técnico duas vezes na semana. São quatro aulas por vídeo às segundas-feiras e duas aulas às sextas-feiras.

“Eles venderam uma ideia que na imagem é linda, mas ao vivo, a realidade é outra. Na TV passa que é bonito, não é uma ideia ruim, só não funciona na sala de aula. Eles largam a TV lá e os alunos que se virem para acompanhar”, desabafa Larissa Wendler, de 33 anos, mãe de um aluno do ensino técnico de Desenvolvimento de Sistemas.

Dois anos em casa, e mais aulas em vídeo?

A mãe Larissa Wendler lembra que o período em que seu filho ficou em casa, assistindo aulas pela tevê, não foi fácil. “Agora quando voltam fazem essa aula virtual, que é horrível. Meu filho não quer ir pra aula. Ele chegou a me ligar dentro da sala de aula pedindo pra eu ir buscá-lo. Quando eu cheguei na sala dele, tava uma desordem. Como deixam 30 adolescentes numa sala com um vídeo chato passando? É inviável isso. Vai ser um aprendizado só de currículo. Se uma empresa contratar, não vão ter noção. Pra mim, isso é uma ilusão”, reclama a mãe.

Sem poder contar com a ajuda de professores e diretores da escola, que não podem mudar a sistemática das aulas, os pais se mobilizaram para pedir uma mudança. “Tem pais que tem condições de colocar os filhos num curso fora depois. E os outros? Meu filho, os amigos dele, não querem ir pra aula. Então nós pais nos unimos para fazer alguma coisa por eles”, finaliza Wendler.

O que diz a Secretaria Estadual de Educação

Em nota oficial, a Secretaria Estadual de Educação disse que as disciplinas técnicas de alguns dos cursos técnicos começaram a ser ministradas em aulas ao vivo e online por professores da Unicesumar. A parceria com a universidade surgiu como forma de expandir o ensino técnico pelo Paraná, principalmente em municípios menores e nas zonas rurais. A secretaria disse ainda que depois de diálogo com a comunidade escolar, tem ajustado o modelo adotado ao longo do ano. Confira a nota completa abaixo:

“Desde o início deste ano, as disciplinas técnicas dos cursos de Administração, Agronegócios e Desenvolvimento de Sistemas começaram a ser ministradas em aulas ao vivo e online por professores da Unicesumar. Há sempre um monitor em cada sala de aula, que repassa as dúvidas dos alunos para o professor.

A rede estadual buscou a parceria para expandir o ensino técnico pelo Paraná, considerando que, principalmente em municípios menores e nas zonas rurais, não há quantidade suficiente de profissionais habilitados para ministrar as disciplinas técnicas desses cursos.

Depois de diálogo com a comunidade escolar, ao longo deste ano, a Seed ajustou o modelo adotado. Uma equipe da Seed passou a avaliar aula a aula para aprimorar o conteúdo (além do suporte ao estudante em sala e pedagógico, que sempre existiu) e também alterou seu formato, deixando as aulas mais interativas e menos expositivas, por exemplo. O objetivo, sempre, é melhorar a educação profissional e levá-la a metade do ensino médio, como em países desenvolvidos, atendendo a comunidade escolar com qualidade, independentemente de parcerias.

Vale ressaltar que os professores da Unicesumar ministram apenas as disciplinas técnicas desses três cursos (são mais de 25 cursos técnicos integrados ao ensino médio na rede). Os estudantes do curso de Administração da 1ª série têm, por exemplo, duas horas-aula semanais nesse formato (dentro das 30 totais). Já os de Agronegócios e Desenvolvimento de Sistemas têm, neste primeiro ano, seis horas-aula nesse formato, com a aula síncrona mediada por tecnologia.

Todas as disciplinas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e dos demais cursos permanecem sendo lecionadas por professores da rede estadual de ensino do Paraná.”