Prendendo corações

Banda da PM suaviza o clima em hospitais e no isolamento social na pandemia

Foto: soldado Ismael Ponchio / Polícia Militar

Saxofones, trompetes, clarinetes, partituras. Essas são as armas da Banda da Polícia Militar do Paraná para aliviar a vida da população na pandemia do coronavírus. Desde que a doença chegou e mudou radicalmente a vida de todo mundo, a Banda da PM ganhou uma nova missão: levar cultura à população em tempos de isolamento social.

Os policiais músicos têm se apreentado por todo o estado, principalmente por hospitais e unidades de atendimento. Mas há também apresentações nas ruas dos bairros de Curitiba, levando diversão para os moradores que estão em confinamento para prevenir a doença.

O objetivo é justamente usar a música para suavizar a vida de pacientes e profissionais de saúde, mas também da população em geral. Na Semana da Enfermagem, comemorada entre os dias 12 e 20 de maio, a banda percorreu hospitais de Curitiba tocando em homenagem aos enfermeiros. No Dia das Mães, uma live transmitida diretamente do Jardim Botânico levou os músicos da polícia direto para a casa de toda a população.

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Posted by Polícia Militar do Paraná on Saturday, May 9, 2020

A última apresentação foi última quinta-feira (21), quando os pacientes e trabalhadores do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a maior unidade de saúde do estado, puderam dar um tempinho na rotina pesada para se divertir com o repertório da Banda da PM.

A missão está sendo regida pelo maestro-chefe da banda, o capitão José Galdino Silva Filho, de 52 anos, justamente em seu último ano servindo a corporação. Músico desde criança e policial militar desde os 18 anos, capitão Galdino explica que a banda de 163 anos de existência e com 73 integrantes teve de se reinventar para se apresentar ao público na pandemia. Como todos os eventos pré-agendados foram cancelados, a Polícia Militar resolveu entrar em ação no combate ao coronavírus também com a música. 

“A atividade fim da PM é vista como uma posição de proteção, de confronto. Mas a banda tem que mostrar que o lado cultural e artístico também não pode parar. A música é a melhor arma que podemos usar neste momento. Mostrar que existe algo além da farda, que é o sentimento do ser-humano. Esse sentimento precisa ser compartilhado e a música é o melhor meio para isso. A música é linguagem da alma”, expressa o capitão Galdino.  

Enfermeiros do Hospital Cajuru curtem da janela show da Banda da PM | Foto: Soldado Fernando Chauchuti/PMPR

Na visita da banda ao Hospital Pequeno Príncipe, referência nacional no atendimento pediátrico que infelizmente já registrou a morte de uma criança de 5 anos por covid-19, capitão Galdino revela que nunca havia sentido uma emoção tão forte na carreira ao ver os pequenos pacientes e profissionais da saúde aplaudindo da janela.

“Tenho 34 anos de serviço na Polícia Militar, exclusivo na banda de música, e nunca tinha sentido algo tão diferente. Senti como se fosse minha primeira apresentação. A emoção toma conta. Você vê esses profissionais que estão praticamente morando no hospital e as crianças na janela, sorrindo. Eu ficava imaginando o que passa na cabeça deles. Eles queriam poder ficar mais próximo da banda”, revela o maestro.

Capitão Galdino lembra que a satisfação dos policiais da banda ao ver a reação das crianças internadas foi tão forte que muitos tiveram até dificuldade de tocar. “Foi uma mescla de emoções, de poder levar a alegria através da música. Teve músico que ficou com dificuldade de tocar. Sem palavras para descrever”, revela o maestro.

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Adaptações

As mudanças da rotina da Banda da PM começam pelos ensaios, realizados em grupos pequenos e pelo efetivo reduzido nas apresentações. Acostumada a se apresentar com 30 músicos, agora as caminhadas são de 30 minutos pelos bairros com apenas sete integrantes para evitar aglomeração. “Agora a plateia é da janela. E como as pessoas não podem ir ao teatro, nós vamos até elas”, resume o capitão Galdino.

O que os policiais da banda perceberam é que o resultado das apresentações têm sido muito satisfatórios. É um alento tanto para a população, que está carregada devido à pandemia, quanto para aqueles que convivem com o perigo da doença nos hospitais.

No repertório, as músicas são variadas: do rock ao pop, do gospel ao sertanejo. Arte para todos os gostos. Além das caminhadas pelas ruas, a Banda da PM também faz lives que são transmitidas na página da própria corporação no Facebook.  

“Fomos tocar no Hospital São Vicente, em Curitiba e o responsável do hospital pediu para a gente fazer uma caminhada rápida lá no corredor. A gente percebeu quanto as pessoas estavam se sentindo valorizadas por receber um grupo de cinco músicos para tocar para eles. O pessoal da área de saúde está muito envolvido nesse combate. Então para nós é gratificante o sentimento de poder ajudar”, pontua o capitão. 

Clarinetista, a sargento Silvana Haas, 46 anos, também percebe uma necessidade de as pessoas consumirem mais cultura para amenizar tantas notícias ruins neste momento. A apresentação do Dia das Mães, quando a população estava impedida de ver a família pelo risco de contaminação, a policial ficou muito emocionada em poder levar música à população na apresentação no Jardim Botânico, cartão postal de de Curitiba que está fechado na pandemia, que foi transmitida em uma live no Facebook. “A música toca mais fundo do que um abraço. E neste momento que a gente não pode se abraçar, a música pode cumprir esse papel”, resume a sargento.

Nas apresentações pelos bairros, a policial se sente feliz com a resposta dos moradores quando a banda passa. “As pessoas aplaudem muito quando a gente passa na frentes das residências. Na verdade estamos tentando emitir uma mensagem positiva. A música tem o papel especial nisso, porque une e toca o coração das pessoas”, conta a sargento.

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Capitão Galdino e Sargento Silvana estão engajados na missão da Banda da PM na pandemia | Foto: Soldado Ismael Ponchio/PMPR

“Quando tocamos na última semana na unidade de saúde Ouvidor Pardinho, um enfermeiro veio e disse que não tínhamos noção como a nossa apresentação fortalece eles. E a gente sai com a sensação de missão cumprida. É o nosso papel”, finaliza a policial.


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