Falta profissionais

Atuar na linha de frente da covid-19 espanta contratações na Saúde de Curitiba

Médicos estão entre as vítimas do coronavírus
Foto ilustrativa: Rawpixel

A informação de que vão ter de atuar no atendimento de pacientes com Covid-19 tem dificultado o sistema de saúde de Curitiba na contratação de médicos, enfermeiros, e técnicos de enfermagem. Segundo dados da Fundação Estatal de Atenção à Saúde (Feas), responsável pela contratação de equipes para o SUS da capital, apenas sete das 40 vagas abertas para médicos de UTI foram preenchidas por chamamento público desde o início da pandemia. Ou seja, o preenchimento foi de apenas 17,5% das vagas e uma delas voltou a ser aberta após pedido de demissão de um dos profissionais. Quadro que também se repete na contratação de médicos para a assistência primária, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

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Em relação aos médicos da assistência primária, foram abertas 265 vagas, com apenas 30 profissionais respondendo ao chamamento público para contratação, o equivalente a 11%. Para enfermeiros, foram abertas 369 vagas, mas só 47 profissionais responderam ao chamamento, ou seja, 12,7%. Já para técnicos de enfermagem a porcentagem é ainda menor: das 1.415 vagas abertas desde o início da pandemia, apenas 45 foram preenchidas na convocação, representando somente 3,1%.

“A contratação está sendo baixa porque muitos profissionais desistem assim que sabem que terão que atuar no atendimento de pacientes com Covid-19. Muitos nem aparecem no dia da convocação e ainda tem os já contratados que pedem demissão pelo mesmo argumento”, confirma o diretor-geral da Feas, Sezifredo Paz. “Teve um médico que foi contratado para atuar na assistência primária e ao saber que teria que atender pacientes com Covid-19 pediu demissão depois de só um dia de trabalho”, enfatiza Paz, que revela também casos de médicos já contratados que pedem para trabalhar em unidades de saúde que não atendem casos de coronavírus.

No caso dos médicos, o menor valor pagos pela Feas é de R$ 8 mil para seis plantões de 12 horas por mês. Já para dez plantões de 12 horas por mês o valor sobe para R$ 13 mil, podendo chegar a R$ 16 mil se a jornada for noturna com o pagamento de adicional.

Para enfermeiros, o valor médio pago é de R$ 3.800 para carga horária de 180 horas por mês. Enquanto que para técnicos de enfermagem o valor médio é de R$ 2.000 pela mesma carga horária. Nos dois casos também há adicionais, como insalubridade e noturno, além de vale-refeição de R$ 555. “São valores acima do mercado, que geralmente paga apenas o piso de cada categoria”, enfatiza o assessor de recursos humanos da Feas, Ronei Paulin.

O diretor-geral da Feas aponta ainda que a cada onda de transmissão da Covid-19 que sobrecarrega os hospitais, como a atual, a dificuldade de se contratar profissionais de saúde é maior. De acordo com o último boletim epidemiológico da prefeitura, a rede hospitalar do SUS que trata Covid-19 em Curitiba segue colapsada, com 101% de ocupação dos 542 leitos de UTI. Na enfermaria o quadro é de 87% de ocupação.

Paz afirma que um dos motivos de os profissionais descartarem atuar pelo sistema municipal é a condição de que muitos já atuam em outras unidades de saúde, o que ampliaria ainda mais o temor de se contaminarem com o coronavírus ao assumirem outro posto além do volume de trabalho. “Muitos desses profissionais não têm só um vínculo de trabalho e já têm uma rotina pesada no tratamento da Covid-19 em outros hospitais. Então muitos consideram que vão ficar ainda mais cansados, mais extenuados atuando em mais uma frente da Covid”, avalia o diretor-geral da Feas.