Língua portuguesa

A Covid-19 ou O Covid-19? Telegramática já tirou dúvidas de 1,6 milhão de curitibanos

Serviço da Telegramática funciona em Curitiba há 36 anos. Foto: Prefeitura de Curitiba / divulgação.

Se o objetivo dessa reportagem fosse aplicar uma lição rápida de gramática, a dica do dia seria: covid-19 se escreve como gênero feminino, portanto vem precedido pelo artigo “a”. Exemplo na frase: os sintomas DA covid-19 podem variar de um simples resfriado até uma pneumonia severa.

Já para o coronavírus, adotou-se o gênero masculino. Exemplo na frase: a pandemia DO coronavírus provocou aumento na procura por serviços de teleatendimento.

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Tanto é verdade, que o Telegramática, serviço de tira-dúvidas da Prefeitura de Curitiba, tem registrado aumento nas ligações semanais nos últimos tempos e, para celebrar um dos atendimentos mais queridinhos da cidade, a Tribuna do Paraná foi conversar com uma das consultoras do serviço para saber um pouco mais sobre a história do atendimento e a quantas anda a moral do povo quando o assunto é o domínio da língua portuguesa.

Se você vive em Curitiba há mais de 30 anos, certamente o Telegramática já resolveu sua vida durante a realização de uma redação, trabalho escolar, monografia ou documento. Criado em 1985, o serviço de tira-dúvidas foi inspirado no Grammarphone, made in USA, que – na década de 80 – fazia sucesso nos Estados Unidos. No Brasil, Fortaleza foi a primeira capital a lançar o serviço. Curitiba veio em seguida.

Com mais de um milhão e 600 mil atendimentos registrados desde o início do serviço, o Telegramática fez parte da vida de acadêmicos, estudantes, professores, advogados, jornalistas e de todo mundo que um dia se deparou com alguma dúvida de português e não sabia a quem recorrer. Fácil, rápido e confiável. Bastava ligar que o Telegramática resolvia seu problema.

Aí veio a Internet e, com ela, a dúvida: será que é o fim do Telegramática? Felizmente, não. E ao contrário do que se imaginava, o serviço cresceu ainda mais. Segundo a consultora do serviço licenciada em Letras, Rosana Wippel, natural seria pensar que com o advento das ferramentas de busca on-line a procura pelo teleatendimento entrasse em extinção. O que aconteceu, no entanto, foi que – ao invés de tirar as dúvidas – os buscadores virtuais acabaram confundindo ainda mais o público. “É muito comum recebermos ligações de usuários afirmando que procuraram na Internet e encontraram dezenas de orientações gramaticais diferentes, o que acaba por confundir ainda mais quem já está com a dúvida”, revela.

No Telegramática não corremos esse risco. Com uma equipe de quatro consultores (dois recém contratados), mais de mil livros e acervo digital, não há dúvida gramatical que eles não resolvam. Segundo Rosana, até hoje, nenhum usuário ficou sem a reposta certa de que precisava. E olha, é muita gente viu? Segundo a Prefeitura, o serviço recebe, em média 100 ligações por dia. Por ano, quase oito mil dúvidas são esclarecidas por intermédio do serviço. E as ligações não vem só do Paraná. Segundo a prefeitura usuários de todos os estados e até de fora do Brasil recorrem ao Telegramática todos os meses. Ufa! Haja português pra esclarecer!

É com ou sem acento?

Segundo Rosana, a campeã invicta de dúvidas entre os usuários do serviço sempre foi e continua sendo a crase. Seguida do hífen e das regras de acentuação do novo acordo ortográfico, que tirou o acento agudo de palavras como “joia” e “ideia”, por exemplo.

Em quarto lugar fica a concordância juntamente com a flexão verbal, como na frase: “a maioria concordou com a decisão”. Nesse caso, por exemplo, a dúvida fica por conta da “maioria” que, sendo sujeito coletivo, pode confundir o escritor entre as flexões “concordou” e “concordaram”.

E, por último ela, a vírgula. “O pessoal se bate bastante com pontuação e, agora na pandemia, várias dúvidas e relação à gramática das palavras relativas à doença surgiram”, revela a consultora.

No coração do povo

Entre dúvidas acadêmicas, jurídicas e científicas, eventualmente ligações inusitadas acontecem. “O usuário disse que tinha uma dúvida natalina. Fiquei sem entender o que ele quis dizer exatamente e ele insistiu que era uma dúvida natalina. Brincando, ele disse que queria saber apenas se presépio era com ‘s’ou ‘z’”, lembra Rosana que, apesar da piadinha estilo “tio do pavê”, encarou a brincadeira como uma forma de carinho do público.

Noutra ocasião, uma pessoa ligou só pra saber se o serviço ainda existia, o que comoveu a equipe do Telegramática. “Uma senhora telefonou e ficou feliz quando atendemos à ligação. Ela disse que estava ligando em agradecimento pelo nosso papel na sua vida acadêmica há muitos anos e que sua única dúvida era se o serviço ainda existia, para que as gerações mais jovens pudessem ter a mesma experiência que ela”, lembra Rosana.

Para a consultora o que justifica o carinho do curitibano com o serviço é a agilidade do atendimento e, é claro, o fato do mesmo ser gratuito. Ela faz a propaganda dela! “Trata-se de uma ferramenta segura, eficaz e especializada, que jamais irá deixar o usuário na mão quando o assunto é o uso correto da língua portuguesa escrita, ou falada”, finaliza.

Se, de fato, é como diz o ditado que “as palavras têm poder”, mais poder ainda tem quem faz uso correto delas. E, no que depender do Telegramática, o curitibano vai sempre tirar nota 10.

Serviço: Telegramática

Contato: (41) 3218-2425
Horário: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h

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