O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi portador de uma informação inquietante: nos últimos trinta anos nunca houve uma crise tão profunda na renda gerada pela atividade agrícola. Para o ministro, o País deve ter sua atenção despertada para a gravidade da situação, bem mais explosiva que a fase atual da política e as perspectivas de renúncias e cassações.
A renda rural despencou em 2005 e, se não bastasse, caíram os preços pagos ao produtor e aumentaram os preços dos insumos utilizados na produção. Para ficar completa, a equação exibe ainda a elevação do nível de endividamento dos produtores rurais e uma acentuada quebra da expectativa de uma safra abundante.
O cenário desfavorável, segundo o titular da pasta, vai contaminar a próxima safra de verão, pois quando a renda do produtor está em baixa o desânimo é inevitável. O governo calcula a diminuição de 5% da área na safra que começa a ser plantada, afetando as culturas de algodão, arroz e trigo, com algum impacto sobre soja e milho.
Outro reflexo negativo sobre a produtividade virá com a redução do padrão tecnológico, mercê do uso menor de fertilizantes, defensivos e sementes de qualidade comprovada, num raio que deverá atingir cerca de 15% do total da área. Em termos gerais da agricultura brasileira, o patamar é bastante elevado e, decerto, terá conseqüências adversas sobre o excelente desempenho do agronegócio nos últimos anos.
As decisões sobre a renegociação dos débitos anteriores e do crédito de custeio da próxima safra sofreram considerável atraso, e também esse é um fator que amplia a taxa de insegurança da parte dos agricultores.
Na opinião de Rodrigues, a saída é trabalhar para manter e conquistar novos mercados para a produção brasileira, embora haja o difícil obstáculo colocado por países industrializados, na forma de subsídios e barreiras alfandegárias.
O panorama atual não gera nenhum otimismo, pois não há sinais positivos quanto ao acesso dos países produtores aos principais mercados de forma consistente e duradoura.