Crise e crescimento

Há penteados que tapeiam a calvície. Um deles é puxar para cima os cabelos dos lados e da parte de trás, cobrindo a nudez da cabeça. Um penteado estranho, que, por não dar aos cabelos um sentido esteticamente aceitável, é chamado de ?crise nacional?, porque ninguém sabe para onde é que vai.

Quem tomou conhecimento das mais recentes previsões sobre o comportamento do PIB brasileiro lembra do anedótico penteado. Para onde é que vai este Brasil?

O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento, previa que o nosso PIB cresceria 2,8% neste ano. Reviu esse número, acreditando que crescerá 3,5%.

O presidente Lula, em repetidos, otimistas e já cansativos discursos, insiste que a economia brasileira vai bem. E serve como defesa de seu governo, mostrando que a crise política não está influindo na economia. Esta vem sendo robustecida pela política dirigida pelo médico de profissão e economista de vocação Antônio Palocci Filho. Essa convicção de que o PIB vai bem até inspirou a idéia de amarrar o aumento do salário mínimo àquele índice global de crescimento, fórmula já descartada.

O Fundo Monetário Internacional contraria as boas expectativas brasileiras, como já fez nos dois últimos anos. Está prevendo taxa de crescimento da economia brasileira para 2005 abaixo da média mundial, dos principais países latino-americanos e dos emergentes, incluídos a Índia e a China. Confia no Brasil, como provou com a manutenção de diversos acordos, até que deles o nosso País desistiu. E volta e meia uma autoridade do FMI elogia o Brasil e a seriedade de sua política econômica. Algo como dizer que somos pobres ?de marré de si?, mas temos uma política econômica confiável, certamente para os credores. Nunca para o nosso povo, que quer desenvolvimento que gere riquezas, empregos e salários dignos.

O FMI rebaixou para 3,3% a estimativa de crescimento do PIB deste ano. Previa 3,7%. Mas há quem pense o contrário. É o caso do banco norte-americano Bear Stearns, que previa um crescimento de 3,2% e agora estima esse crescimento em 3,7%. Contraria o FMI, mas não as nossas expectativas e ambições. Na dúvida, temos de levar em conta a estimativa constante, tanto dos bancos, dos institutos ligados ao nosso governo e do FMI, que não consta dos discursos políticos, mas está presente nos estudos que levaram a tão díspares previsões de crescimento. É o fato de que vamos crescer menos que o resto do mundo.

O estudo ?Perspectivas para a Economia Mundial?, divulgado pelo Fundo Monetário Internacional, diz que no biênio 2005/06, o mundo todo deve crescer 4,3%. Os puxadores desse crescimento deverão ser os Estados Unidos e a China. A média de crescimento da América Latina está prevista em 4,1%, bem acima das melhores previsões feitas para o Brasil. A Venezuela crescerá algo como 7,8%, a Argentina, 7,5% e o Uruguai, 6%. No cenário mais otimista, o Brasil ficará bem abaixo dos países com os quais compete diretamente por investimentos. São eles a China, Índia e Rússia, com 9%, 7,1% e 5,5% de crescimento, respectivamente.

A crise política aparece como uma constante entre as causas desses resultados pífios de crescimento que são previstos para o nosso País. Em conclusão, não estamos indo bem nem na política propriamente dita nem na política econômica. Estamos fazendo aquele penteado que ninguém sabe para onde é que vai.

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