Crianças, ontem e hoje

Parece unânime a convicção de que as crianças de 20, 30, 40 anos atrás eram mais felizes, afinal podiam brincar à vontade em ruas que pareciam não ter fim. Crianças de hoje divertem-se dentro de casa ou em shoppings, já que a rua se tornou um lugar quase proibido. Indicativo de uma geração infeliz e problemática? Não necessariamente, até mesmo porque muitos dos adultos de hoje, apesar da infância livre que tiveram, são infelizes e muito problemáticos.

Outro lugar-comum: crianças de ontem eram mais educadas do que as de hoje. Embora pareça ser verdade, não podemos esquecer que o modelo de educação no passado era fundado em certezas inquestionáveis e na autoridade absoluta dos pais. Esse padrão universal trazia paz aos lares, mas também, mágoas e ressentimentos. Hoje busca-se a democracia do lar, sem um padrão definido de educação. Há mais discussões e discordâncias, mas também, menos hipocrisia. Paz é ilusão: não há convívio humano (principalmente o familiar) sem conflito.

Crianças de hoje vivem a realidade que elas conhecem. A comparação com o passado, lúdico e idealizado, parte dos saudosistas que, tomados pelo sentimento de inadequação à realidade, não conseguem ver que tudo muda a todo instante e que não há época só boa ou só ruim. Saudosistas têm, na verdade, saudade de si mesmos.

Djalma Filho é advogado

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