Crescimento duvidoso

Os nossos políticos continuam olhando os números da economia sob a ótica que mais lhes convém. Ora utilizando-se de binóculos de forma correta, os vêem aumentados; ora mirando do lado contrário, os vêem diminutos, menores do que a realidade. A realidade, esta sim parece difícil de ser vista e revelada. Há um discurso permanente exaltando sucessos. Estaríamos prontos para andar com as próprias pernas, sem auxílio de financiadores externos, internos e não raro dispensando a colaboração da iniciativa privada. Os empregos criados, o aumento da produção e a redução dos problemas sociais seriam vitórias de governo, como se deste dependessem os triunfos eventualmente alcançados, quando muito do que aparece é resultado de um jogo em que as ações da iniciativa privada fazem a maior parte.

E a iniciativa privada costuma ver o governo como obstáculo e não catapulta do desenvolvimento, já que sobrecarrega o setor produtivo com uma carga tributária que beira os 40%, das maiores do mundo. No mais, a iniciativa privada precisa de investimentos, sejam na infra-estrutura do país que lhe propiciaria energia, transportes e o que mais é necessário para o crescimento e movimentação da produção. Esses estão mais no papel, nos planos, nas pranchetas que realizados.

Há poucos dias, em palestra que conseguiu exumar de proselitismo político, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu que o novo governo, seja eleito Alckmin ou Lula, terá grandes dificuldades. Isso se comprova, desde logo, se olharmos para os mais críveis números que nos oferecem. Houve desaceleração da economia no segundo trimestre deste ano, que fez com que o Banco Central revisasse de 4% para 3,5% a projeção de crescimento.

A previsão de inflação de 2006 foi revista de 3,8% para 3,4%, abaixo da meta de 4,5% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Parece bom, mas não é necessariamente bom. Num país como o Brasil, carente de recursos, uma certa dose de inflação precisa ser tolerada para que haja financiamento ao crescimento econômico. Aliás, foi isso que sempre pregou o PT e toda a esquerda brasileira.

Embora o Copom do Banco Central prossiga em sua política de redução dos juros básicos, estes continuam sendo dos mais altos do mundo. E, na negociação entre o sistema financeiro e os tomadores, eles são absurdamente elevados.

Culpa de quem? Os juros altos são em grande parte de responsabilidade do governo. Ele é o maior tomador de empréstimos e, portanto, redutor da oferta de dinheiro. Menor oferta e demanda crescente significam alta. A manutenção dos juros altos é ainda necessária para atrair investidores, sem os quais não teremos como financiar o desenvolvimento nem mesmo dos programas sociais. Com juros mais baixos, discursos estatizantes e constantes mudanças nas regras do jogo, os investidores fugirão do Brasil e irão pousar, com suas moedas fortes, em outras plagas.

Pode ser até que estejamos andando pelas próprias pernas, mas sem dúvida com o auxílio de, no mínimo, muletas ou bengalas. Correndo livremente, é evidente que não estamos.

Este panorama de hoje será muito agravado no novo governo, quando crescerão as incertezas políticas, econômicas e de como financiar os programas sociais que ambos os candidatos prometem ampliar. Nos discursos de campanha, tanto Alckmin quanto Lula prometem mundos e fundos. Mas é de se temer que faltem os fundos.

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