CPIs encontram 161 telefonemas entre Okamotto e acusados do ‘mensalão’

Impedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de ter acesso ao sigilo fiscal, bancário e telefônico do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, técnicos das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) dos Correios e dos Bingos combinaram esforços, secretamente, e descobriram 161 ligações trocadas por ele com os principais investigados do "mensalão". O rastreamento dos peritos, ao qual a reportagem teve acesso, dá boa amostra da proximidade de Okamotto com o ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT Delúbio Soares e o publicitário Duda Mendonça.

Os técnicos fizeram o levantamento com base nos dados telefônicos de Delúbio, de Duda Mendonça, do ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e do ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira, que estão em poder da CPI dos Correios. O resultado foi compartilhado, informalmente, com os colegas da CPI dos Bingos para orientar investigações. A maior parte dos telefonemas identificados foi trocada com o ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT e uma das empresas do publicitário Mas há também várias ligações feitas no governo petista.

Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e arrecadador de recursos para a legenda, o presidente do Sebrae controla um orçamento de R$ 900 milhões no órgão, um dos cargos mais cobiçados na administração federal. No meio empresarial, é tido como mais discreto que Delúbio e, principalmente, como homem de estrita confiança de Lula.

‘favor’ – O ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento é investigado pelas CPIs por dois motivos. O primeiro é o pagamento ainda mal-explicado de uma dívida de R$ 29.400,00 do presidente com a sigla. Os registros bancários da agremiação indicam que Lula pagou o a dívida, mas Okamotto admitiu ter quitado os R$ 29.400,00 por meio de depósitos em dinheiro. O presidente do Sebrae disse aos parlamentares que pagou a dívida do próprio bolso como um "favor" a ele. A versão não convenceu os parlamentares, que suspeitam que Okamotto tenha obtido o dinheiro ou com Duda ou com Delúbio – que, com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, operou o chamado esquema do "mensalão".

A segunda razão é o depoimento do economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de Fazenda de São José dos Campos no Vale do Paraíba (SP), na gestão da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) como prefeita. Venceslau acusou o presidente do Sebrae de arrecadar recursos de caixa dois entre empresas que tinham contratos com prefeituras administradas pela agremiação.

O rastreamento dos técnicos mostra que Okamotto manteve pelo menos 56 telefonemas com o ex-secretário nacional de Finanças entre março e novembro de 2002. As ligações eram trocadas da casa ou do celular de Delúbio com o celular dele. Ao todo, os peritos identificaram 94 minutos de conversas.

O telefonema de maior duração ocorreu no auge da campanha de 2002, em 7 de setembro. A ligação durou quase cinco minutos – oito dos telefonemas partiram de Okamotto e os demais foram recebidos por ele.

A influência de Okamotto também pode ser medida pelos telefonemas trocados com a CEP Comunicação, empresa de Duda Mendonça. No total, o presidente do Sebrae foi acionado 75 vezes pela CEP entre fevereiro de 2002 e março de 2003, já na gestão petista. Há registro de telefonemas de nove e dez minutos. Ao todo, foram 156 minutos de conversas. Segundo o levantamento das CPIs, Okamotto também recebeu 23 ligações de Dirceu em 2002, além de quatro em 2001. Esses telefonemas somaram 58 minutos de conversas.

A reportagem deixou recado hoje para o presidente do Sebrae em sua residência, mas não houve retorno. No Sebrae, na tarde de hoje, a reportagem foi informada de que não havia expediente por causa do carnaval. O celular registrado em nome de Okamotto, que aparece nos registros das CPIs, estava desligado.

Voltar ao topo