CPI identifica R$ 10 milhões do BB para esquema financeiro irregular

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios identificou a primeira fonte dos recursos que supostamente, abasteceram o esquema financeiro irregular montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em benefício do PT. De acordo com a CPI, R$ 10 milhões provenientes do Banco do Brasil (BB) serviram para alimentar o esquema em 2004.

Esse dinheiro do BB deveria ter sido usado pela agência de publicidade DNA Propaganda, uma das empresas de Valério, em campanhas de publicidade da empresa de cartões de crédito e débito Visanet. Mas, numa operação cheia de triangulações, passou pelo Banco BMG e acabou no partido. "Houve, intencionalmente, o direcionamento de R$ 10 milhões ao PT. Ou seja, R$ 10 milhões que foram para o valerioduto vieram de recursos públicos", disse o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). "É evidente que os empréstimos de Marcos Valério junto aos bancos existiram apenas para esquentar dinheiro público", disse o sub-relator-adjunto da CPI, deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Em 12 de março de 2004, a Visanet – na qual o banco tem participação de um terço – depositou R$ 35 milhões na conta da agência de publicidade na instituição financeira. Segundo Serraglio, esses recursos são apenas da instituição, de um total de R$ 100 milhões destinados para propaganda em 2004. Os sócios da estatal na Visanet são os Bancos Bradesco e o Real ABN Amro.

Três dias depois do depósito da Visanet, em 15 de março, a agência aplicou R$ 34.867.000,00 no BB. Em 22 de abril, a DNA Propaganda transferiu R$ 10 milhões do banco para o BMG e o restante das verbas continuou aplicado no BB. Depois de quatro dias, o BMG concedeu um empréstimo a empresa Rogério Lanza Tolentino e Associados, uma das firmas de Valério, no valor de R$ 10 milhões. A garantia para a operação foi a aplicação financeira em nome da DNA no valor de R$ 10 milhões. Esse empréstimo consta da relação apresentada pelo empresário como sendo da legenda.

Depois de se reunir hoje pela manhã com integrantes da CPI, o diretor de Marketing do BB, Paulo Rogério Cafarelli, informou que a instituição financeira decidiu entrar na Justiça contra a DNA Propaganda por falta de comprovação de gasto de R$ 9.095.610,00. "Dos R$ 35 milhões destinados para a DNA fazer propaganda da Visanet, em 2004, R$ 9 milhões não têm comprovação de gastos", afirmou o relator da CPI dos Correios. No encontro, Cafarelli entregou à CPI uma nota técnica da instituição, datada de 5 de maio de 2003, na qual o ex-diretor de Marketing Henrique Pizzolato cria o sistema de pagamento antecipado dos anúncios feitos para a Visanet. Pizzolato apareceu na lista de Valério como um dos beneficiários de R$ 300 mil. "A responsabilidade é do Henrique Pizzolato, que foi quem autorizou o pagamento antecipado dos recursos", afirmou Serraglio. Além de criar o pagamento antes do tempo, mesmo antes da execução dos serviços de publicidade, o ex-diretor de Marketing do BB também redirecionou toda a propaganda da Visanet para a DNA. Até o fim de 2002, a publicidade da Visanet ficava a cargo de três agências que atendiam o BB. Mas, a partir de 2003, toda a publicidade foi para a DNA.

A CPI também investiga se Valério usou o mesmo esquema em 2003, na conta da Visanet. Em 19 de maio de 2003, a Visanet fez um depósito no valor de R$ 23,3 milhões no BB para a DNA. No dia seguinte, a agência de publicidade faz uma aplicação de R$ 23.211.000,00 no BB. Em 26 de maio de 2003, a agência de publicidade SMP&B – outra empresa dele – faz um empréstimo de R$ 19 milhões no Banco Rural. Essa operação também consta da relação de Valério como sendo da sigla. "Há uma engenharia muito inteligente, com um inusitado número de contas e empresas de Marcos Valério. Mas, em relação a 2003, ainda estamos finalizando os levantamentos para saber se foi usado o mesmo sistema", resumiu Paes.

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