CPI dos Correios

Sempre que se tenta uma comissão parlamentar de inquérito para investigar algum escândalo ou suspeita de corrupção em órgão do governo ou a ele ligado, há manobras do Poder Executivo para tentar impedir as investigações.

Começam por uma tomada oficial de posição contra das forças situacionistas, sejam elas do atual governo ou dos passados. Seguem através da intervenção dos homens do governo no Congresso, na busca do convencimento de deputados e senadores de que a CPI não é conveniente nem necessária. A polícia poderia esclarecer os fatos, especialmente a Polícia Federal, na qual mais confia a sociedade.

Se nada disso der certo, negocia-se. E a moeda de troca é o dinheiro do povo, constante das rubricas orçamentárias. As chamadas verbas de emendas parlamentares, dinheiro consignado no orçamento que pode ou não ser liberado. E será liberado para aqueles que mudarem de posição e passarem a votar com o governo. Essas verbas de emendas parlamentares são, em geral, eleitoreiras. Visam beneficiar políticos, cabos eleitorais e mesmo financiadores de campanha. Em muitos casos, é dinheiro para negócios menos claros, como pagamentos em duvidosas concorrências. Como tal, são dinheiro sujo. Enquanto não objeto de troca, do toma lá, dá cá, é simplesmente dinheiro do povo, fruto de impostos e taxas que serviriam para que o Executivo exercesse o seu papel de governar, oferecendo os serviços e obras que são de sua obrigação.

O governo, quando não quer uma CPI e tanto luta contra ela, tem algo, ou muito, a esconder ou nada a revelar. Um bom governo escancararia suas portas para as investigações, fossem policiais ou parlamentares, quando casos como o da corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos fossem tão claramente denunciados. Ninguém mais do que ele se beneficiaria com a revelação da verdade, livrando-se dos negocistas e mostrando à sociedade seriedade e boas intenções.

O atual governo fez todos aqueles esforços, mas, mesmo assim, foi aprovada a CPI mista, formada de deputados e senadores. Agora vem a notícia de que o Executivo não vai desistir. Quer abafar o inquérito parlamentar fazendo com que os partidos de sua base não indiquem membros para compor a CPI. Além disso, tenciona-se questionar na Justiça a legitimidade da comissão, pois se trata de instituição que tem de, ao ser requerida, explicitar com clareza seus objetivos, apontando fato ou fatos concretos. Aí, parece piada. É extorsão e isso todo mundo viu na televisão. E a não-indicação de membros para formar o colegiado investigador poderá falhar, pois o presidente do Senado já declarou que se não indicarem, ele usará da prerrogativa de fazê-lo pessoalmente.

E estão esquecendo de algo que nos parece essencial. Os congressistas são representantes do povo, seus mandatários, eleitos pelo voto. Portanto, é ao povo que se tenta esconder a verdade.

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