CPI dos Correios não identifica origem de R$ 190 mi de Valério

Brasília (AE) – A CPI dos Correios não conseguiu identificar a origem de cerca de R$ 190 milhões movimentados nos últimos cinco anos nas contas mantidas no Banco do Brasil pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Para tentar esclarecer a questão, o sub-relator para a área financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), pediu ao BB que informe os lançamentos de créditos superiores a R$ 10 mil (pessoa jurídica) e R$ 2 mil (pessoa física). Até agora, o Banco do Brasil tinha informado os lançamentos superiores a R$ 30 mil (pessoa jurídica) e R$ 10 mil (pessoas físicas).

"Não identificamos de onde vieram R$ 190 milhões, mas isso não significa que tenha irregularidade. Pode ser que exista um volume expressivo de operações feitas abaixo de R$ 30 mil que explique a origem desses recursos", disse Fruet. Ele observou que a chegada dos novos dados requisitados pela CPI ao Banco do Brasil deverá demorar porque terão de ser tabuladas mais de 130 mil operações financeiras. A CPI já recebeu informações da quebra do sigilo bancário de 74 contas, das quais 51 são de Marcos Valério ou de suas empresas.

No primeiro levantamento feito nas contas do Banco do Brasil, a comissão também detectou que, entre 2003 e 2005, houve um crescimento de créditos depositados em favor de duas empresas de Marcos Valério. A empresa Multi Action Entretenimentos somou depósitos de R$ 3,1 milhões entre 2000 e 2002. Os créditos aumentaram quase seis vezes, indo para R$ 17,6 milhões no período de 2003 até este ano.

Na Tolentino e Melo Assessoria Empresarial, da qual Marcos Valério também é sócio, a entrada de dinheiro saltou de R$ 137 mil para R$ 6,7 milhões. Além disso, a 2S Participações, criada depois das outras duas, recebeu R$ 20,4 milhões entre 2003 e 2005.

Fruet incluiu no levantamento apresentado hoje as explicações dadas por Marcos Valério para a origem dos recursos que foram distribuídos para o PT e partidos aliados. O empresário disse que o dinheiro veio de empréstimos que fez no Banco Rural e no BMG. Em uma primeira versão, Marcos Valério disse que fez cinco empréstimos no BMG e no Banco Rural, totalizando R$ 50,2 milhões. Mais tarde, em depoimento à Polícia Federal, ele informou que foram seis empréstimos, no total de R$ 55,2 milhões.

Já em depoimento ao procurador-geral da União, Antonio Fernando Souza, o empresário afirmou que fez 11 empréstimos (sete no Banco Rural e quatro no BMG), totalizando R$ 151,1 milhões. "Identificamos essas três possibilidades de financiamento através desses empréstimos. Mas cada hora o Marcos Valério fala uma coisa. Ainda não sabemos qual das três possibilidades é a verdadeira", argumentou Fruet.

Os levantamentos feitos pela CPI também deixam claro que grande parte da fonte de recursos das empresas de Marcos Valério vinha de contratos com empresas estatais e governos. Nos últimos cinco anos, mais de R$ 300 milhões vieram do contrato da DNA, empresa de Valério, para fazer a publicidade do Banco do Brasil. Já de contratos com o Ministério dos Esportes e do Trabalho, foram depositados R$ 40,74 milhões na conta de Valério no Banco do Brasil, desde 2000 até meados deste ano. Na conta do Banco de Brasília, o empresário recebeu R$ 64,11 milhões da secretaria de Fazenda do Distrito Federal.

A CPI dos Correios pretende concentrar suas investigações nas movimentações financeiras de Marcos Valério e nos contratos feitos pelos Correios. "Vamos priorizar a investigação sobre a origem dos recursos que movimentaram o esquema do Marcos Valério", resumiu o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Na semana que vem, a Comissão vai ouvir os depoimentos de Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, e de Marcus Vinícius Vasconcellos, genro do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

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