CPI dos Bingos manda quebrar sigilos de empresário

Brasília (AE) – A CPI dos Bingos promoveu hoje (2) uma acareação entre o ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares e o empresário Sérgio Canozzi, depois deles terem prestado depoimento que se contradiziam. Soares acusou o empresário de patrocinar – na campanha eleitoral de 2002 – um esquema de achaques semelhante ao que fazia o então presidente da Loterj e futuro subchefe da Assuntos Parlamentares da Casa Civil da Presidência, Waldomiro Diniz. Como a versão do empresário não convenceu os senadores, ele e sua mulher, Denise Canozzi, terão suas contas bancária e fiscal abertas.

Também foi quebrado o sigilo telefônico do empresário e do aparelho instalado no gabinete aonde Soares trabalhava. A intenção é apurar se procede a informação de que Canozzi insistiu com várias ligações para ser recebido por Soares.

No decorrer do depoimento de Canozzi, a comissão confirmou com a Receita Federal que ele é dono de dois CPFs e é alvo de vários processos, um dos quais objeto da intimação entregue, na ocasião, pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP), a pedido do delegado da Polícia Federal do Rio Grande do Sul, Daniel Justo Madruga. "Como o delegado não consegue localizá-lo, mandou a intimação por fax", informou Tuma. Sérgio Canozzi disse que não atua na área de jogos, e sim na área imobiliária e de marketing comercial.

Segundo Soares, o empresário lhe propôs que entrasse no esquema em troca da "drenagem" de recursos públicos para campanhas eleitorais, que poderiam chegar de R$ 80 a R$ 100 milhões apenas nos nove meses do governo de transição de Benedita da Silva.

Pela proposta, o desvio de dinheiro público iria ainda assegurar um "faturamente privado", de R$ 10 milhões para a governadora, R$ 5 milhões para o próprio Soares e de R$ 1 milhão para o empresário.

Luiz Eduardo se referiu a Canozzi como sendo "um corruptólogo".

"Ele parecia muito seguro de seu plano, a ponto de dizer que os R$ 300 mil achacados por Waldomiro mostravam a inércia, a ineficiência do presidente da Loterj", afirmou.

Soares disse ter falado com a governadora sobre a conversa com Canozzi em três ocasiões, mas que ela desconversava dizendo: "Luiz Eduardo, você deveria ser mais construtivo e não ficar me trazendo mais problemas". Tal reação ele atribuiu à "situação de andrajo" em que ela se encontrava, com uma série de problemas na campanhas. O principal deles, conforme frisou, era a "fritura" patrocinada pela direção nacional do PT, que ao mesmo tempo mantinha uma aliança com o ex-governador Anthony Garotinho. "O objetivo era favorecer Lula no segundo turno da campanha à presidência", informou.

Seus outros interlocutores foram o secretário de coordenação de governo do Rio, Marcelo Sereno, "que atuava como sendo o primeiro-ministro", e mais dois secretários de Benedita, Manoel Severino e Val Carvalho, que reagiram com indiferença diante da denúncia. Sereno foi convocado pela CPI.

Luiz Eduardo disse que não denunciou Sérgio Canozzi por temer que o seu procedimento escondesse, na realidade, um "ardil" contra a campanha do PT. Ele era o candidato a vice na chapa de Benedita. "Perguntei, por que alguém viria falar logo comigo sabendo da minha luta contra os policiais corruptos e outros males que atacaram o Rio de Janeiro", alegou.

Ele disse ainda que chegou a conversar com os coordenadores de campanha, Antonio Palocci e Luiz Dulci, sobre o erro em permitir que Sereno acumulasse a secretária com o papel de arrecadador de verbas para a campanha, mas nada teria dito sobre a suspeita de envolvimento de Waldomiro no esquema de achaques. "Quando vi que ele tinha sido alçado à Casa civil, achei que estava enganado, até que a fita dele com o Carlos Cachoeira comprovou minhas suspeitas", afirmou.

A versão do empresário Sérgio Canozzi é a de que teria procurado Luiz Eduardo por determinação de Bendita, depois de ter conversado com ela sobre a intenção de empresários espanhóis de investir em casas de Bingo no Estado. "Seria para tratar de questões estratégicas", afirmou.

Em telefonema ao senador Tião Viana (PT-AC), a ex-governadora o desmentiu, dizendo que jamais se encontrou com ele. O empresário disse ainda ter ido à festa de aniversário de Bendita, no Clube Monte Líbano, aonde teve a oportunidade de cumprimentar o então presidente do PT, José Dirceu.

Expurgo

Luiz Eduardo falou sobre um curto diálogo que teve com José Dirceu nesse período. "Eu disse: ‘a situação está complicada’, e ele respondeu: ‘temos de descomplicar’". Ele acusou o ex-ministro de estar por trás do "dossiê apócrifo, feito por militantes petistas", que resultou na sua saída da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Na época, disse ter pedido ao então presidente do PT, José Genonio, punisse os responsáveis pelo documento falso, "visto que as denúncias eram falsas", mas que, em vez disso, Genoino saiu dizendo que o ex-secretário "se comportava como um gambá que difundia o mau-cheiro para eclipsar seus problemas".

Voltar ao topo