CPI avalia convocar Jefferson para esclarecer esquema de Furnas

As revelações feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o esquema da empresa Furnas Centrais Elétricas e a participação do PT, PTB e do PSDB na operação que, segundo ele, foi acertada pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu – hoje deputado cassado – com o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo provocaram reações dos parlamentares do governo e da oposição. Há, inclusive, o início de um movimento de defesa da reconvocação de Jefferson para depor à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios.

"Se ele (Jefferson) provocou a crise dizendo, muitas vezes, que cansou de hipocrisia, que diga tudo agora. Se ele realmente sabe mais, deveria ir novamente à CPI", defendeu o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

A reconvocação de Jefferson, o primeiro deputado cassado em razão do escândalo do "mensalão" que ele próprio denunciou, também é recebida com simpatia pelo líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). "Se ele tiver disposição em dar os nomes (dos parlamentares beneficiados com o esquema de Furnas) deve ir à CPI. Mas tem de ir e falar os nomes."

Integrante da CPI dos Correios, o deputado Maurício Rands (PE), disse que a reconvocação de Jefferson tem de ser estudada com os demais integrantes da comissão.

"Vamos debater, discutir com os companheiros e decidir com cautela", afirmou. Segundo Rands, a cautela tem de pautar a discussão sobre o possível retorno de Jefferson à CPI dos Correios por duas razões: "Primeiro porque Jefferson disse verdades e mentiras e, segundo, porque estamos na reta final da CPI." E prosseguiu: "Tem de tomar cuidado para não marcar um monte de outros depoimentos."

Apesar da cautela ao comentar as novas declarações de Jefferson, Rands reconheceu que as afirmações do ex-deputado do PTB não podem ser "desprezadas".

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse não ter "nenhuma expectativa e nenhuma limitação" em relação à reconvocação de Jefferson pela CPI dos Correios. O senador disse ainda que os deputados que supostamente participaram do esquema de Furnas revelado pelo deputado cassado não são do PSDB.

Segundo Jefferson, o acordo feito entre Toledo, Dirceu e ele previa a liberação de R$ 1,5 milhão por mês para o PT e quantia igual para o PTB, além de R$ 400 mil para as despesas de diretoria que o Dimas teria e outros R$ 600 mil para um grupo de 12 parlamentares tucanos.

"Esse grupo dos 12 que ele (Jefferson) fala não era exatamente de 12. Mas trata-se de um grupo de deputados que logo no primeiro ano do mandato do presidente Lula vieram nos falar que queriam votar a favor das reformas, e nós éramos contrários. Fizemos uma reunião, que inclusive foi em meu gabinete, e eles acabaram convidados a deixar o partido", explicou Virgílio. " Eles saíram imediatamente, há três anos", assegurou o líder do PSDB no Senado.

"Como era possível o PSDB ficar recebendo dinheiro e votando contra (o governo). É muito estranho", complementou Goldman.

Segundo o líder tucano no Senado, não é possível afirmar houve receptação de recursos de Furnas por parte do grupo dissidente do PSDB.

"O que se sabia é que o motivo pelo qual saíram era salvar águas brasileiras de Furnas. Eles tinham um diretor potencial que acabou depois sendo indicado", afirmou Virgílio.

No relato de Jefferson, o deputado cassado disse que o ex-diretor da estatal o procurou em sua casa, em abril do ano passado, para propor a partilha em troca de sua permanência na diretoria de Furnas.

Entre os deputados que deixaram o PSDB àquela época estão Luiz Piauhylino (PDT-PE), Osmânio Pereira (PTB-MG) e Salvador Zimbaldi (PSB-SP).

Relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), demonstrou preocupação com as declarações de Jefferson e com uma possível reconvocação, alegando falta de tempo. O relatório vai ser apresentado em 15 de março. O prazo final para o encerramento da CPI é dia 11 de abril.

"Vamos aguardar o depoimento do Dimas na quarta-feira para definir os próximos passos", disse Serraglio. "Mas não é possível haver desprezo (das informações de Jefferson)", frisou. Na avaliação do relator da CPI, o ideal seria que Jefferson fosse ouvido em uma CPI específica do caso Furnas ou na CPI dos Bingos.

Voltar ao topo