Correa toma posse na segunda-feira em meio a temores e esperanças

O próximo governo de esquerda de Rafael Correa gera temores nos empresários, contudo, os setores sociais esperam uma profunda reforma que inclua a nacionalização dos recursos naturais do país. Correa, um economista de 43 anos, toma posse nesta segunda-feira, em uma cerimônia que já conta com as presenças confirmadas de ao menos sete presidentes latino-americanos, do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e do príncipe das Astúrias, Felipe de Borbón, entre dezenas de delegações estrangeiras.

O novo mandatário ganhou a presidência na disputa do segundo turno, realizada em novembro, defendendo uma série de propostas, entre elas, uma possível moratória do pagamento da dívida externa, uma radical negativa a um tratado de livre comércio com os EUA e uma renegociação dos contratos com as multinacionais do setor de petróleo.

O presidente da Câmara das Indústrias em Quito, Mauricio Pinto, disse aos jornalistas correspondentes que a agenda do presidente eleito "tem uma temida priorização de caráter político e não tem uma priorização em temas chaves para o desenvolvimento do país, como o investimento". "O enfrentamento político que virá vai provocar uma reação (negativa) do mercado", acrescentou.

Para o dirigente do movimento social Equador Decide, Eduardo Delgado, o futuro governante "deve ter de um lado um estado velho e uma velha economia para construir um novo estado e uma nova economia". "Deve recuperar o que nos roubaram: primeiro, a soberania popular e a soberania nacional; em segundo lugar, recuperar os recursos naturais que foram roubados; em terceiro lugar, fazer uma ampla reforma política, temos de recuperar a democracia seqüestrada pela "partidocracia" (conceito que denomina o desvio do papel que corresponde aos partidos políticos na democracia); e, em quarto lugar, a reforma ética, cultural e uma nova integração latino-americana", acrescentou.

O presidente da Bolsa de Valores de Quito, Patricio Peña, disse que Correa emitiu duas expressões "bastante duras a respeito do setor empresarial e financeiro, que necessariamente nos coloca na defensiva". "Não escutamos mensagens de abertura para os setores que não pensam como ele (Correa), escutamos mensagens em que… estão classificando os bons e os maus. Os bons são os que pensam como ele e os que seguem sua tendência… E os maus s/ão aqueles que não estão com essa linha de pensamento", assinalou.

O presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas, Luis Macas, disse à Associated Press que exige de Correa que "os recursos naturais passem as mãos dos equatorianos (nacionalização), não é possível que companhias multinacionais levem 80% (dos recursos de petróleo) e 20% fiquem no país". O petróleo é o principal produto de exportação do Equador.

O presidente da Corporação de Promoção de Exportações e Investimentos, Ricardo Estrada, disse que "vê com certo otimismo algumas declarações que ele (Correa) tem feito, como de atrair investimentos". "O primeiro promotor tem de ser o presidente, embora, seja necessário criar as condições legais e operacionais para que nosso país seja atraente", acrescentou.

O presidente da Central Equatoriana de Organizações Livres e Sindicatos, Jaime Arciniegas, exige que o novo governo restitua a todos os direitos adquiridos por parte dos trabalhadores sobre tudo aquilo relacionado com a organização sindical, contratos coletivos, assim como a eliminação de empresas intermediárias na contratação de pessoas.

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