Combate ao “inflassauro”

Somos um povo amigo. Mais que isso, aliados. E temos capacidade para usar recursos monetários no lugar certo, sem desviá-los para bancos da Suíça ou desperdiçá-los em quinquilharias. Quem faz isso são os vizinhos, não nós. Nossa equipe econômica é competente e os Estados Unidos vão continuar a prestar ajuda no que for preciso e possível, bem como apoiarão iniciativas de ajuda do FMI – Fundo Monetário Internacional.

Com palavras tais, o governo dos Estados Unidos tentou desfazer o mal-estar criado com as declarações proferidas pelo secretário do Tesouro, Paul O’Neill, que, se não foram determinantes, contribuíram para alimentar a alta disparada do dólar, já no absurdo dos três e meio por um. Os elogios ao Brasil no dia seguinte, entretanto, não conseguiram o efeito inverso ao causado pelas críticas: o dólar continua subindo. Dizem que, além das motivações externas, existe a interna, causada pelas eleições.

Ao cidadão comum, que não aposta na bolsa de valores e que não viaja para o exterior, não importa nem exporta produtos, isso não deveria ter muita importância. Ledo engano. Embora nossa moeda se chame real, o dólar já ataca as contas domésticas. Alimentos – do macarrão ao pãozinho de cada dia – já subiram de preço nas gôndolas dos supermercados e nos cardápios dos restaurantes. E na fila altista estão remédios, eletroeletrônicos, combustíveis (incluindo de novo o gás de cozinha), planos de saúde, mensalidades escolares e até as tarifas de uma energia elétrica gerada a partir de nossas águas tupiniquins que aqui nascem e aqui mesmo – na terra do real – giram os rotores das turbinas.

Os medidores de cataclismos econômicos estão avisando que vem aí coisa pior, do tipo: daqui para frente o dólar deverá ditar o ritmo da inflação e do custo de vida. O repasse do câmbio para o consumidor ainda está sendo muito pequeno, mas não tardará. Diz o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas, Salomão Quadros, que “o IPC vai ser menos influenciado pelas tarifas e preços administrados, mas haverá a continuidade do repasse gradual da recente alta do câmbio”. Mas quem disse que, do mesmo jeito imprevisto que sobe, não haverá de baixar?

Além das pitonisas de fora, temos as aves de mau agouro aqui dentro. E elas insistem em contrariar o que dizem especialistas e exportadores, calejados no sobe-e-desce das cotações, para quem a alta atual do dólar é completamente irreal e não responde a padrão técnico nenhum. Tanto que, segundo o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, os contratos continuam a ser fechados com cotações que oscilam entre R$ 2,50/2,60. “Ninguém está tomando a cotação atual como parâmetro”, diz ele.

Já sem muito treino para enfrentar a inflação galopante, os brasileiros desenterram da memória o monstro da inflação de tempos recentes, quando a instabilidade de preços era a tônica de todo e qualquer comércio ou atividade econômica. E, por conta de O’Neill ou das eleições, descobre-se que o “inflassauro” não está ainda morto, como fez supor o Plano Real que pavimentou dois reinados para Fernando Henrique Cardoso. Como diria Rubens Ricupero antes do desastre parabólico: é preciso reagir e bravamente resistir. Em todos os flancos.

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