Cientista político argentino compara Lula a Menem

Rio (AE) – O cientista político argentino Atílio Boron, secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais e professor da Universidade de Buenos Aires, comparou hoje (12) o governo Lula ao do ex-presidente argentino Carlos Menem, eleito em 1989. Inicialmente aclamado pelo mercado financeiro como grande liderança da América Latina, Menem terminou o governo afundado em denúncias de corrupção: "Lula está recebendo os mesmos elogios que Menem (recebeu) das mesmas pessoas, entre elas o FMI, que levaram a Argentina à pior crise da sua história", afirmou.

O intelectual argentino deu entrevista durante o seminário Alternativas à Globalização, que acontece num hotel da zona sul do Rio. Ele disse que os argentinos estão "muito decepcionados" com o governo Lula, "principalmente porque acreditamos mais no Lula do que os brasileiros". Em 2002, quatro pesquisas de opinião feitas na Argentina apontaram que, se as eleições fossem lá, Lula seria eleito no primeiro turno, com quase 60% dos votos.

A principal decepção é a mesma do restante da esquerda brasileira. "Ele (Lula) não apenas seguiu, mas acentuou um dos aspectos mais conflituosos do governo Fernando Henrique Cardoso: o domínio do capital financeiro na economia", reclamou o intelectual. "O PT era a inspiração de todos os partidos de esquerda da América Latina", disse ele, classificando as denúncias de corrupção contra os dirigentes do partido como um "balde de água fria".

Renegociaçâo da dívida

A outra grande decepção com o governo brasileiro, segundo Boron, é o fracasso de Lula como líder político da América do Sul. Para ele, o Brasil e a Argentina deveriam renegociar juntos a dívida externa, o que daria maior poder aos dois países, beneficiando a reboque os outros países do continente: "Lula tem aspirações a ser um líder mundial e terá que pagar um preço por isso. Não dá para ser amigo da (secretária de Estado norte-americana) Condoleezza Rice", criticou, acrescentando que a Venezuela deveria ser prioridade da política externa brasileira, mas que o País teme desagradar Washington. "Parece criança no jardim da infância que tem que brincar com o amiguinho escondido da professora", provocou.

Segundo ele, a Argentina não tem a pretensão de substituir o Brasil como líder do continente, mas gostaria que houvesse um diálogo maior com o resto da América do Sul. Para Boron, Lula toma decisões unilaterais, como concorrer à vaga no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e o apoio ao ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Ele não tem a visão de um estadista e demonstra ingenuidade na política externa", concluiu Boron. E encerrou: "Tenho muitos amigos no governo Lula que ficarão felizes porque eu disse o que eles não podem falar".

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