Chuvas estratégicas

O governo ainda tem motivos para se demonstrar apreensivo diante da crise não resolvida do abastecimento de gás natural, pressionado nas últimas semanas pela necessidade de garantir o fornecimento às usinas termoelétricas acionadas para suplementar a oferta de eletricidade no final do período de estiagem.

Grande parte dessa preocupação de fundo essencialmente estratégico foi aliviada pelo começo promissor da estação chuvosa nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Sul, atenuando o impacto sobre o mercado de gás natural em face do desligamento de três usinas térmicas.

No final de outubro, o conjunto de dez usinas que passou a operar em caráter emergencial despachava cerca de 1.960 megawatts, mas a oferta foi cortada em 600 megawatts, caindo para os atuais 1.357 megawatts, sem prejudicar o equilíbrio do abastecimento, conforme informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Nos primeiros dez dias de novembro, o volume de chuvas na região Sul, por exemplo, superou em 85% a média histórica registrada para o período, contribuindo para o aumento de 10% da água armazenada nos principais reservatórios. De acordo com o ONS, a média das precipitações também foi muito boa no Sudeste, embora ainda não tenha se igualado à média histórica.

Para a situação chegar ao ponto ideal, os técnicos do setor aguardam que as previsões de chuvas intensas nas bacias dos Rios Paranapanema, Tietê, Grande e Paraíba do Sul se transformem em realidade.

Todavia, o professor da UFRJ Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, um dos nomes mais respeitados no setor, continua afirmando que o maior problema é a energia elétrica e não o gás natural. Pinguelli advertiu que a utilização emergencial de gás natural é um reconhecimento de que alguns obstáculos não foram transpostos com a devida antecedência, retardando a aposta desejável na vocação hidrelétrica do País.

Na realidade, o óbvio mais uma vez desabou como impiedosa borduna sobre a improvisação, porquanto a retirada do insumo em escala superior à contratada com a Petrobras refluiu para a conseqüência lógica do colapso no abastecimento. Nunca antes as chuvas foram tão benfazejas no sentido de remediar -temporariamente – um cenário que se avizinhava do caos.

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